segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Dezembro: o mês da palhaçada

Começou o "mês da palhaçada". Dezembro, fim de ano, 13º, chegada das férias escolares, amigo secreto, confraternizações, festa da "firma", Natal, Ano-Novo... Como essa coisa toda me cansa desde criança!
Eu nunca entendi o porquê do alvoroço todo nesta época de todos os anos. Uma euforia desmedida, um consumismo desenfreado, "alegria, alegria", falsidade generalizada...
OK, vivemos em sociedade. OK, às vezes precisamos engolir alguns sapos pelo bem da convivência (#not). OK, fazemos a roda girar, portanto, para que ela continue no movimento, temos de comprar, comemorar e nos alegrar (mentira!). Como pode isso tudo? Você passa o ano inteiro detestando aquele professor, aquele colega, aquele "superior" e, como num passe de mágica do mês dezembrino, todos se confraternizam em pura harmonia, trocam presentes de amigo secreto e enchem a cara para, em janeiro, serem motivo de assunto de todos ao redor por dias. Eu, hein!
Eu nunca entendi o porquê de as pessoas resolverem ser boazinhas no final do ano. Culpa? Dor na consciência? Influência da mídia? A empresa mandou? Quero ser legal? Ou tudo isso junto? Eu acho que é uma junção das três últimas perguntas. É uma época tão hipócrita que dá nojo.
Minha relação com Natal e Ano-Novo sempre foi muito estranha e deprimente. Primeiro porque minha criação nunca foi muito voltada a esse tipo de comemoração. Na minha infância, até meus oito ou nove anos, lembro-me de noites de Natal com minha família, mas nada muito animado. Meus pais e meus avós sempre reclamavam dos valores das coisas e da obrigação de fazer uma ceia decente. Depois da separação dos meus pais, um ano ficava com minha mãe, outro com meu pai, e era sempre a mesma chatice. Não me lembro bem em qual ano, mas meu avô resolveu desencanar de fazer qualquer tipo de comemoração natalina. Para ele, não fazia sentido gastar tanto para nada. Eu sempre achei genial essa decisão dele. A partir da adolescência, ia para casa de algum amigo ou viajava com alguns deles. E, desde então, faço questão de fugir do comum, do corriqueiro desta época do ano.
Mas o que é pior de tudo: festa da "fiRma". Gente, como isso é de uma imbecilidade! Pessoas que, ano após ano mal se olham, mal se cumprimentam, mal sabem da existência umas das outras, comem, bebem, dançam e se abraçam ao som de "Amigos para sempre" ou coisa do gênero. Amigo secreto até curto, mas com as pessoas certas, claro. No ano passado participei daqui de onde trabalho. Me arrependi, mas, pelo menos, ganhei o que pedi. Este ano resolvi participar de novo (ai, como sou otária), porém, por incrível que pareça, as pessoas daqui não estão animadas para tal. O que eu acho certo, pois elas mal se olham e se falam durante o ano todo, nada mais justo. Eu estou na dúvida se vou ou não na festa da fiRRRma de amanhã. Ai, sei lá, sei que falsidades são necessárias nessas horas, mas não consigo interpretar. Eu sou uma atriz muito péssima!
Até amanhã de manhã decido o que fazer. =P

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Quando Nietzsche encontrou Mãe Dinah

Tomei emprestada para o título da postagem uma ótima frase que um amigo meu mencionou na última conversa que tivemos domingo passado. Toda vez que me lembro da conversa, lembro-me dessa frase e seguro as gargalhadas.
Por causa da correria, não tive de tempo de contar (para a coisa ser mais fresquinha) que, semana passada, fui a uma taróloga (ou cartomante, como preferir). Depois de anos de curiosidade, finalmente tomei coragem, e, claro, após uma indicação supersegura.
De tão cética que sou, fui com os dois pés atrás, pois, desde sempre, achei que existe muita picaretagem no meio. Cheguei ao local e, no começo, me senti um tanto estranha. Depois fui me soltando conforme a conversa foi rolando e fiz minha primeira pergunta. De cara, as cartas responderam essa pergunta e disseram o que eu queria ouvir (mas ao mesmo tempo não queria ouvir; estranho, porém, é meio que isso) e muito mais. Como o tarô é baseado em arquétipos e em suas representações, é algo que dei mais crédito. Fiz outras perguntas relacionadas a vários aspectos da minha vida e senti uma segurança por parte da taróloga e uma sensação de bem-estar conforme as respostas foram surgindo. Saí da consulta leve e com uma sensação de que minha vida é muito mais do que está acontecendo no momento e que nenhum esforço é em vão - tenho de acreditar nisso. E com a esperança de que a previsão dela de eu ir embora para um lugar frio se concretize!
Voltando à frase que mencionei anteriormente, acho que ela calha muito bem com esse contexto de visita à taróloga ou cartomante. Como esse meu amigo me conhece há anos, ele sabe que nunca fui dessas de procurar e nem acreditar em nada etéreo, adivinhador, transcendental ou algo parecido; além da história de falar e estudar alemão, ter morado na Alemanha, ter um jeitão bem teutônico de ser e ser meio "nietzscheana", por isso foi hilário ouvir a tal frase.
Não sei se é a ocasião ou a necessidade, mas o engraçado é que foi muito bom saber de algumas coisas, por outro lado, a minha ansiedade vai a milhão, querendo que aquilo que foi dito se realize em breve. Contudo, isso me dá esperanças de que ainda tenho chances de ser plenamente (ou quase) satisfeita comigo mesma. Assim espero.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Em busca de ser leve

Semana passada comprei um livro o qual nunca achei que iria comprar. O título? A arte de ser leve, da jornalista Leila Ferreira. A princípio, achei que fosse um daqueles livros de autoajuda bem chinfrins. Comecei a folheá-lo por acaso num daqueles tempinhos que tiramos pós-almoço. Aleatoriamente, li alguns capítulos e confesso que fiquei curiosíssima em saber o que tinha no restante daquelas páginas. Diante da curiosidade, acabei comprando-o.



E qual foi minha surpresa ao ler aquele livro: com texto bem escrito e articulado, entrevistados de diversos lugares, diversas classes sociais, credos e profissões, e com depoimentos da própria autora, o livro passa longe daqueles conhecidos como autoajuda. E posso dizer que ele me pegou. Em um dos meus pontos fracos, inclusive: o de levar a vida de uma forma não tão leve assim.
Os depoimentos daquelas pessoas me fez pensar o quanto levo a vida muito a sério, e o pior: me levar muito a sério. Já tinha consciência disso, mas a obra me fez refletir ainda mais sobre esse defeito que tenho. O problema de se levar muito a sério é que só você se leva a sério, e mais ninguém. Ver a vida por um ângulo muito sério traz angústia e sensação de peso – e isso não é legal, pois também afeta a saúde física e mental. Com o livro, aprendi que ser leve é condição primária para ter momentos de felicidade. Porque ninguém é plenamente feliz, mas sim possui momentos felizes. Portanto, antes de ser feliz, busco a leveza, pois sei que ela trará os benefícios (inclusive para minha saúde) dos quais preciso. E sei que é um aprendizado difícil, já que a vida toda sempre fui muito séria e levava tudo a ferro e fogo. Contudo, ser leve não quer dizer ser bobalhão; ter momentos de felicidade sem ser crítico, não mesmo. 
Por meio dessa leitura, terei um árduo exercício de levar (e ver) a vida de uma outra forma. Não será fácil, mas sei que colherei bons frutos dessa empreitada.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Que coisa absurda!

Estou cansada desse imbróglio na USP. Apesar de ser aluna de lá, não apoio essa turma dos encapuzados. Acho que é muita mídia para pouca coisa. Tem tanta coisa que essa cambada deveria se preocupar: a segurança, sim, do campus (com melhor iluminação, mais pontos de ônibus e estes passando com maior frequência),  reformas e ampliação de diversas unidades, contratação de professores, melhorias no currículo das faculdades, enfim, tanta coisa... mas não. Estão mais preocupados com a presença da Polícia Militar no campus do Butantã, como se fosse a coisa mais absurda do mundo.
Coisa mais absurda do mundo é ser morto dentro de sua própria universidade, insegura, escura e impotente diante de tanta violência. Coisa mais absurda do mundo é levar um tiro na cabeça na saída da aula noturna. Coisa mais absurda do mundo é ouvir, por anos a fio, o relato de meninas que foram violentadas. E coisa mais absurda do mundo é não ter o direito de assistir aula, porque uma meia dúzia de "revolucionários e revoltados" não quer que você assista à aula pois você é, segundo eles, um alienado e "reaça". Ou seja, prega-se tanto a liberdade, mas, ao mesmo tempo, a liberdade é cerceada por aqueles de opinião diferente da sua. Enfim, tô cansada.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Palavras alentadoras

Depois de uma semana muito complicada, meu último final de semana foi um tanto alentador. No sábado à noite, assisti ao filme "O Palhaço", que é gracioso. Fez me lembrar dos tempos em que grandes circos vinham à cidade e era um grande acontecimento. Fui diversas vezes, e adorava! Já vi inclusive a Vovó Mafalda num desses circos. Mas não foi isso o que mais me alentou.
Ao falar com minha mãe pelo telefone no domingo, ouvi algo dela que é sempre ouvir de alguém, ainda mais vindo de quem se espera ouvir mesmo tal tipo de coisa. Estava lhe contando como foi minha péssima semana, do que havia acontecido comigo, desabafando, e ela só me disse: "Filha, eu sei que você não acredita nisso, mas a mãe vai te falar: Saiba que a mãe torce muito por você e ora muito por você, pois é muito esforçada e merece o melhor. E não se preocupe, porque o melhor sempre vem do esforço da gente." Emudeci e segurei o choro do outro lado da linha, e disse: "Eu sei que você torce por mim e sempre aceitei as tuas orações". Apesar de ela saber das minhas convicções, a sua sinceridade e simplicidade foram desconcertantes, no bom sentido. Só de ouvir isso, meu dia ficou muito melhor.


Amanhã é o dia de relembrar dos entes queridos que se foram. E esta semana completam-se dois anos da partida do meu querido avô e na qual estava muito longe daqui naquele momento, infelizmente. Dois anos que se passaram  muito rápido e nos quais aconteceram muita coisa, dentre elas, o meu "casamento", meu ingresso no mestrado e o nascimento do meu sobrinho. Se ele estivesse por aqui, ficaria radiante com cada acontecimento desses, pois sempre foi quem apoiou e fez de tudo por mim e pelos meus irmãos. A ele, minha eterna gratidão.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Lidando com o intragável

Para começar, uma definição segundo o Houaiss:

Intransigência: 1 falta de compreensão; intolerância, 2 austeridade, rigidez – intransigente adj.

Intragável: adj. 2g. 1 que não se pode ou é ruim de tragar (comida) 2 fig. pej. de personalidade, temperamento etc. desagradáveis (pessoa).

Sinto-me compelida a fazer uma espécie de desabafo (pra variar), já que este é um dos intuitos deste blog.
Pus essas duas acepções de dicionário porque essas duas palavras que detesto e que faço o possível para que não façam parte do meu vocabulário fazem parte da minha rotina diariamente. É difícil eu utilizá-las, mas, hoje, durante uma conversa com um colega – em forma de desabafo dele para mim –, percebi como essas duas palavras, uma um substantivo e outra um adjetivo podem fazer parte tão fortemente de um mesmo ser.
Quem me conhece, sabe que eu só tenho cara de brava e de chata. Só a cara mesmo, e todo mundo se surpreende assim que conversa comigo. Dias atrás ouvi de outro (ou outra, não me lembro) colega algo como “você não é intransigente, isso é que é bacana”. Confesso que fiquei contente em ouvir aquilo, porque é algo que trabalho incessantemente para não se apossar da minha personalidade.
Mas voltando à conversa de hoje, a palavra "intransigência" foi o tema. De como pode um mesmo ser humano ser intransigente e intragável ao mesmo tempo. Voltei para casa me perguntando como o indivíduo consegue essa proeza, e como eu consigo (ou acho que consigo) conviver com uma pessoa com adjetivos tão desagradáveis.
Considero uma pessoa intransigente aquela que não tolera as opiniões e convicções alheias, que faz chacota daquele que lhe é “inferior” (em sua acepção, claro) e que se sente o melhor do melhor em tudo o que faz. Penso que o intransigente é o tipo de cidadão que mais sofre com a solidão e com a insegurança; por que, reflita, diabos ele quer sempre se sobressair dos demais? Por que ele tem de sempre “tirar sarro” de todos os outros, que, supostamente são “inferiores” a ele? Ou melhor, que nunca reconhece aquele que é ou foi melhor que ele em algum momento? Acho que a intransigência é parente do preconceito. Pois tendo preconceitos, o sujeito não tolera aquilo que lhe é diferente.
Logo, vem o adjetivo intragável. Todo santo dia tenho que lidar com alguém que é absolutamente intragável. E essa opinião é partilhada por outras pessoas com as quais convivo. No começo da convivência, até comecei a achar que estava implicando demais com o ser, mas não, esse sentimento que tenho é compartilhado. Ufa, que bom! Tenho de ouvir absurdos das mais variadas vertentes. Dentre elas, de que “esses caras” (referindo-se aos trabalhadores dos Correios) não têm é que fazer greve nenhuma, pois são um bando de vagabundos. O sangue ferveu e me subiu a cabeça. Não me contive, e disse: “Ora, se não podem fazer greve, que melhore, então, as condições de trabalho deles.” E, por pouco, não solto um “reaça”. Essa é uma das pérolas com as quais sou obrigada a ouvir o dia todo, além de comentários de “notícias” de sites de Veja e Globo.com. Desculpe, se o sujeito baseia suas opiniões naquilo que lê somente nesses dois veículos, ele tem um sério problema.
Volto à intransigência comentada por meu colega, que também conhece a pessoa em questão. Ele me disse que tem as mesmas impressões que as minhas – e eu sequer havia comentado nada a respeito, ou seja, a pessoa é, de fato, uma intransigente. Diz-se excelente profissional, com 300 anos de profissão, que trabalhou nos melhores veículos e blá-blá-blá. Mas, toda segunda-feira, quando pego o jornal para ler, tudo o que está errado vem da “excelente profissional”. Eu sou assim: lembro-me de tudo o que faço e verifico o que possivelmente tenho deixado passar; logo, vejo as asneiras que foram deixadas passar. É, como dizem uns amigos meus, mas não vou escrever palavrões, experiência de $% é...
A pessoa sabe que não a suporto, e a recíproca é verdadeira. E isto foi confirmado no dia de hoje. Estranho, mas agora, mais do que nunca, faço questão de mostrar o quanto me é intragável. Sou do tipo que, quando não gosto, não gosto mesmo; sou daquelas que sinto a “vibe”, e esse ser não tem uma das melhores. Além de ser intragável, intransigente e preconceituosa, é de uma pequenez angustiante, não consegue ver o mundo através de outros olhares; não tem respeito pelo outro, e respeito é bom e todo mundo gosta; faz brincadeiras imbecis com quem não lhe deu liberdades; quer ser “autoridade” sem que isso lhe fosse imbuído. Deveria ser o tipo de pessoa que menos deveria ter preconceitos, devido sua situação, porém, é bem o contrário. Acredito que deva ser um mecanismo de defesa contra o maldito bullying, sei lá. Ah, não tenho que ficar procurando explicações; a pessoa é intragável independentemente de condições ou subcondições. O problema é que, daqui a pouco, essa situação pode-se tornar insustentável e prejudicar a mim, pois não consigo deixar de me afetar com esse tipo de gente. É impossível, já que convivo todos os dias, praticamente o dia inteiro. Procuro não deixar me afetar, ouço meus clássicos do rock e heavy metal, saio para almoçar com outras pessoas (bem mais leves e interessantes), faço o que tenho de fazer, leio minhas coisas, enfim. Mas a “vibe”, em certos momentos, tenta me impedir. Tento ser mais forte que ela, fazer o quê?
Engraçado é que a sociedade prega a convivência cordial, gostando ou não, simpatizando ou não com o indivíduo. No entanto, pergunto: dá para manter essa “cordialidade” diante de uma situação dessas? Existe uma receita além das coisas que mencionei acima?

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A ilusão de preservar o corpo e os bichos

Acabo de ler na página de um amigo no Facebook (o texto é dele, e somente dele):

"Alguns amigos vegetarianistas vão me execrar, mas vamos lá:

Acho muito mais saudável ser o que a sociedade taxa como gordo do que ser o que a sociedade louva como saudável. Que sejamos livres para o chocolate, o açúcar, a batata, o bacon. Nossa vida é somente esta, não dispomos de outra para os prazeres dos quais podemos desfrutar.

E se você se importa tanto com os bichinhos, que tal boicotar TODA A CADEIA INDUSTRIAL dos derivados animais? Que tal parar não só com alimentos, mas também com os cremes, shampoos, loções, perfumes, cosméticos e ingredientes que usam componentes de animais (hormônios, pêlos, cerdas, células etc.)?


Ou, ainda, que tal INCINERAR TODOS OS AÇOUGUES E ABATEDOUROS?

Ou, ainda, por que não fazer piquetes frente à Sadia, à Perdigão? Ou quem sabe panfletar seu dogma de porta em porta?"


Faço das minhas palavras as dele. Sempre achei esse lance de vegetarianismo uma pura babaquice e pegadinha "pega-trouxa". Tenho amigos que fizeram essa opção, há de se respeitar, mas eles sabem muito bem a minha opinião.
Eu tenho a tese de que essa coisa de ser vegetariano, vegano, seja lá o que for, é uma coisa de gente da área de Humanas, "preocupadíssima com o destino da humanidade". Pergunte para alguém da área de Biológicas, principalmente veterinários e zootecnistas o que acham disso. Eles riem da cara dessa "tribo". Pois eles têm argumentos que provam por A+B a importância dos animais domésticos como fonte de matérias-primas para nós, humanos tontos.
Para quem não sabe, animais domésticos não são somente o gatinho e o cãozinho. São também o boizinho, a galinhazinha, o porquinho. A função deles na cadeia alimentar é justamente servirem de alimento e ser fornecedores de matéria-prima para uma imensidão de produtos. 
Com esse papinho de que carne vermelha é prejudicial, não sabe o mal que faz tirando essa única fonte de vitamina B12 (acho que é essa, mas, enfim, tem uma que é específica vinda das carnes vermelhas) da sua dieta. Tenho uma amiga que sofre pela falta dessa vitamina, mas é porque ela não curte o gosto da carne, e não porque fez uma opção "política", como dizem por aí. Acho que tudo em demasia é prejudicial: da carne, passando pelo chocolate, ao chá de camomila.
É pura hipocrisia dizer que é protetor dos animais, enquanto isso tem seu carrinho com bancos de couro, dorme com travesseiros com penas de ganso e faz sua maquiagem com pincéis com cerdas de penas de um pássaro da Papua Nova Guiné. E quando está gripado, dá-lhe mel de abelha! Ora, não é um produto de origem animal? Então está prejudicando o pobre do insetinho.
O que já vi de vídeos cheios daquelas imagens "chocantes" e repletos de discursinhos panfletários... Tut mir Leid, mas de discurso, pelo menos, eu entendo! A única coisa que apoio dessa turma "engajada" são os protestos contra as touradas, os rodeios e a matança desenfreada de animais silvestres mundo afora. Fora isso, tenho uma preguiça...
Uma das coisas mais chatas é sair para comer e receber uma visita (para comer, claro) de quem é vegetariano (pior ainda se for o tal do vegano). Já passei várias vezes por essa situação. Tem que pensar em TUDO o que for cozinhas: da entrada a sobremesa. Se for daqueles que leva tudo ao pé da letra, não sobra nem um pudim de pão. Gelatina, então? Sua louca, contém tutano de boi! Ah, que coma mexerica, então.

Sei lá, parece que sempre falta algo nesse pessoal: falta uma cor na pele (eles são sempre amarelados), uma aparência mais saudável, uma cara mais feliz...
Como disse meu amigo em sua citação, a vida é só uma para ficarmos nos privando de coisas que nos dão prazer. Privar-se só por causa de bichos? Por que carne não é saudável (quem disse?)? Eles não pensariam duas vezes em nos comer, caso estivessem no nosso lugar (OK, piadinha sem graça para eles). Para mim, uma dessas coisas é o ritual de se sentar e apreciar um bom prato, seja ele qual for. Dann, guten Appetit!















sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Lições de hierarquia

Durante esta semana, li em uma dessas muitas redes sociais o comentário de que uma pessoa só sabia trabalhar bem com gente de "alto nível hierárquico". Algo assim.
Achei bem infeliz, babaca e preconceituoso esse comentário. Quer dizer que, só porque o (a) cidadão (ã) está numa posição um pouco mais elevada e, teoricamente, tem um nível de instrução maior é sinal de que é bom trabalhar com ela? Não mesmo. Para mim, isso é sinal típico de sujeito que adora se esconder à sombra dos outros; alguém que não tem opinião e fazendo parte do "círculo" do outro mais elevado hierarquicamente é que ele se sente mais "acolhido". Típico de arrogantes e medíocres, que reconhecem o valor de uma pessoa no que ela tem (ou no que ela diz ter), e não no que ela é. Digo no que ela é no mundo do trabalho, no mundo dos estudos, no mundo mais "racional", e não nas relações interpessoais. Acredito que cada um, independentemente do posto que ocupa, tem o seu valor e pode agregar suas habilidades, ainda que pessoas de valor e humildes estejam em extinção por aqui...
Convivo com esse tipo de situação diariamente, vendo indivíduos que não agregam em nada gabando-se de "seus" feitos, por conviverem com os mais graduados da escala hierárquica acadêmico-trabalhista-seja lá qual for. E mesmo sujeitos com alto nível hierárquico acadêmico-trabalhista ocupando lugares que deveriam ser de outros. É, pelo jeito ainda é válida aquela lei de que "puxar o saco" é bom, assim como humilhar seus semelhantes.
E por falar em mediocridade, por que as pessoas ainda se assustam quando você diz que já passou um tempo trabalhando e estudando fora do país e que está fazendo uma pesquisa de mestrado/doutorado? Engraçado, o tal do mercado de trabalho exige mundos e fundos dos que nele adentram, mas ao mesmo tempo se assusta (e, muitas vezes, recusa) pessoas com esse tipo de qualificação. Por quê?  Por que a imensa maioria das empresas torcem o nariz quando algum candidato ou funcionário faz (ou quer fazer) pós strictu sensu: por que sabe que esse indivíduo pode tomar um posto importante? Porque ele tem o senso crítico mais apurado que a imensa maioria? Porque ele, de alguma forma, vê a sociedade como um todo e não somente como nicho de mercado? Porque ele não é otário? Por que, ao invés de ter medo, não valoriza esse tipo de talento? Por que "gongar" o indivíduo se não pode agregá-lo? Sei que são perguntas retóricas, mas, às vezes, elas são necessárias.
E voltando ao comentário, lidar com gente de nível hierárquico superior pode até ser bom, contudo isso não é garantia de aprendizado para ninguém. Vale mais uma lição de humildade a noção de arrogância e prepotência tripudiante.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

É para RiR mesmo!

Quem entendeu a configuração do verbo "rir", sabe do que falo.

O que vem a ser esse festival de música que está rolando lá no Rio de Janeiro? Rock in Rio? Da sigla que alguns órgãos de imprensa (e também usuários no Twitter) utilizam como "RiR"? Credo. Isso me faz lembrar de um bordão que adoro repetir: faz-me rir! Porque, na verdade, é de chorar.
E eu que pensava, inocentemente, dez anos atrás, que esse festival havia quebrado todos os recordes de atrações ruins, péssimas ou foras de contexto. Ledo engano. Primeiro porque os geniais organizadores tiveram a pachorra de utilizar a "grife Rock in Rio" a fim de levar o festival para o exterior – vide as edições do Rock in Rio Madri e Rock in Rio Lisboa; daqui a pouco será Rock in Rio Varsóvia, Rock in Rio Sarajevo, Rock in Rio Vladivostok...; segundo porque, ao utilizar a marca para os gringos, acabou com o "conceito" do evento (se é que teve conceito algum dia).
Em 2001 vieram petardos da música como Five, Britney Spears, Carlinhos Brown e outros que nem me lembro mais (ainda bem). Dez anos depois, com o público ansiosíssimo por uma nova edição da bagaça, eis o anúncio dos artistas presentes: Rihanna, Shakira, Claudia Leitte, NX Zero, Guns 'n' Roses (cachorro morto), entre outras coisinhas... Socorro! Nem os ditos "rock" se salvam, exceto pelo Motörhead (imutável, porém certeiro, sempre) e System of a Down. Não elenco o Metallica porque ele me dá sono hoje em dia.
A grata surpresa que tive dessa turma foi de sábado passado (24), no show do Snow Patrol. Achava-os bem  sem gracinha nos clipes e áudios, mas me surpreenderam ao vivo. Como estava sem sono, resolvi assistir ao começo da apresentação dos Chili Peppers. Estava mega apreensiva, pois, na última edição por aqui, achei uma droga. Nem a famosa "cozinha" salvou. Normalmente eles não são lá aquelas coisas ao vivo. Desta vez, a "cozinha" cozinhou, e muito bem; e constatei mais uma vez que o Anthony Kiedis é fraquinho fora do estúdio.
Como o evento ainda não acabou, aguardarei "ansiosamente" os próximos shows que acontecerão. Depois eu digo o que achei, ou não. Mas creio que as próximas edições em Varsóvia ou Vladivostok serão muito mais rock and roll, animadas e supercontextualizadas (#nãomesmo). Aham, "faz-me RiR"!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A árdua tarefa de refletir sobre a crendice

Desde hoje cedo estou pensando num assunto que é intrigante e árduo, pois lida com crenças pessoais – e crenças é algo que deve ser muitíssimo respeitado. Portanto, a partir de agora, vou tentar medir o máximo possível as palavras que escreverei.
Sempre que tomo meu café da manhã antes de ir ao batente, ligo a televisão. E, "zapeando" pelos canais, parei na Globo, que estava transmitindo o programa da Ana Maria Braga (aff, não gosto dela, apesar de ela falar muito bem ao povão, mesmo querendo dar uma de rica, mas isto não vem ao caso). O tema daquela hora eu não tenho muita certeza, mas provavelmente era "vida após a morte". Fiz a conexão porque a entrevistada que tomava café com a Ana Maria Braga era a Zíbia Gasparetto.
Só de ver aquela mulher, tenho urticária. Sei lá, sempre a achei com um perfil tão picareta... Daí, vem meu questionamento: por que os títulos dessa mulher vendem tanto? Por que o brasileiro, em geral, tem fascínio pelo tema espíritos, vidas passadas, carma etc.? Por que endeusam Chico Xavier, Zíbia Gasparetto, entre outros? Confesso que não entendo, mas gostaria muito de entender. Primeiro, porque o projeto editorial dos livros dela são de muito mau gosto, com fontes enormes (talvez para não cansar seus leitores), diagramação péssima e capas piores ainda. Ainda bem que tem revisão! Porque, se não tivesse, o livro seria publicado da forma como os tais espíritos "falam" com ela. Eu me sentiria ofendida em comprar um livro com o assunto o qual gosto desta forma.
Ah, esse lance de espírito "falar", "se comunicar" com os entes queridos, de mandar uma mensagem para a humanidade não me convence. Já tentaram me persuadir sobre este assunto, mas não consigo entender como o pessoal cai nessa. A dor da perda, os problemas cotidianos, familiares e profissionais, claro, fazem com que o indivíduo busque algo que o conforte. Agora, ir até um "médium" para que ele psicografe uma mensagem do pai, da mãe, do irmão, do marido, é um pouco demais. Tantas pessoas nascem e morrem todos os dias, como esses médiuns fazem a tal conexão com o espírito da pessoa certa? Como os tais espíritos sabem que aquele cara é um médium que psicografa mensagens do além? É fantasia demais para minha "cabeça-dura".
Uma vez, numa conversa, o assunto calhou. A pessoa com quem conversava é adepta do espiritismo e tal. Eu disse a ela que não acreditava, que, para mim, as coisas têm de ser provadas por A+B. Na hora, ela me disse que estava sentindo arrepios porque o "espírito da resistência" que me acompanhava não me deixava acreditar no que ela me dizia. Como assim "espírito da resistência"?  Bom, escutei tudo a respeito do tema, porque sou polida.
Há alguns anos, estava supermal por ter abandonado uma faculdade que tinha ralado tanto para entrar. Só cursei um semestre, detestei o curso, a cidade, as pessoas, enfim; vi que aquilo não era pra mim (e foi a melhor coisa que fiz na vida), voltei pra São Paulo, sem perspectivas, triste, muito triste, a ponto de não fazer mais nada do que gostava. Nisso, outra pessoa veio conversar comigo, toda solícita, perguntar do motivo de eu estar daquele jeito. Contei. E o que ela disse? "O que você tem é obra do inimigo." Olhei para ela com uma cara de "cale a boca, vá a merda". Nunca mais ela veio com esse papo. O que eu tinha era frustração, isso sim. Logo percebi o que gostava e foi uma das melhores coisas que escolhi. Desde pequena ouço essa ladainha de "capeta", "inimigo", e é de uma alienação gigantesca! Deus e o diabo são figuras alegóricas. Simplesmente não existem para mim. Deus e o diabo são, simplesmente, o lado bom e o lado ruim do ser humano. Acredito que as religiões provocaram (e ainda provocam) os maiores males da humanidade - guerras, epidemias, intolerância etc.
Não suporto alienação. Até admiro a fé que as pessoas têm na busca por algo. Só que eu não tenho fé em Deus (que não acredito da forma como a maioria acredita), nem em Buda, nem em Alá, em nenhuma personificação. Pode parecer pretensioso e arrogante, mas eu tenho fé em mim. E também acredito na força de vontade e determinação das pessoas (óbvio que para o bem). Quando me perguntar o que sou, digo que sou agnóstica que curte lê horóscopo, numerologia, grafologia e que gosta de conhecer mitos. Sempre detestei o tradicional, mesmo tendo sido educada para ser aquelas moças que andam de saias compridas e que são doutrinadas a interpretar a Bíblia de forma deturpada. A Bíblia nada mais é que um compêndio de contos fantásticos. Só.
Tenho amigos e conhecidos que leem esta viagem de blog que têm suas crenças e alguns fazem parte dos segmentos que citei. Não quero, de forma alguma, desmerecer a fé de ninguém, pois sei que ela é um alicerce na vida de muitos. Só quero expressar uma opinião que, infelizmente ainda, é motivo de depreciação. Não sou uma tresloucada e sem noção só porque não sigo o que a maioria segue. Pelo contrário.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Por falar em shows...

Hoje estou musical. Talvez por causa da autobiografia do Lobão (hilária e que está me acompanhando nas minhas longas idas e vindas de casa para o trabalho e vice-versa), cheia de referências, eu esteja refletindo sobre as minhas referências musicais – muito parecidas com as dele, diga-se de passagem.
Todo mundo se lembra do primeiro show. Se não me engano, no livro, o primeiro show que ele assistiu foi o do Mutantes. O meu, logo de cara, foi do Yes. Tinha 15 anos e sedenta em descobrir o rock'n'roll que havia chegado em minha vida mais ou menos no ano anterior. Não fazia muita ideia do que vinha a ser a banda, exceto por "Owner of a lonely heart", que só fui reconhecer no dia da apresentação. O local era o não-existe-mais Olympia. Era só pegar um ônibus, e pronto! Estava em frente ao local onde passava todos os dias no caminho para o colégio. Não me lembro exatamente como descolei a grana para ir ao show, pois só tinha 15 anos e mal aprendido a arte de sair de casa para me divertir.
Enfim, o show. A plateia era composta por "tiozinhos" sozinhos ou com seus filhos adolescentes. Eu era uma das poucas meninas - e sozinhas. Começou. O que que era aquele baixinho vestido com bata amarela e branca cantando com uma harpinha à mão? E aquele velhinho tocando banjo divinamente? E aquele mundo de teclados? Eram, respectivamente, o Jon Anderson, o Steve Howe e um dos vários tecladistas que passaram pela banda após o semideus Rick Wakeman. Não conhecia nenhuma das músicas, mas prestava atenção em cada detalhe e, ao final, eles tocaram a música que eu conhecia: "Owner of a lonely heart". Saí do Olympia feliz e embasbacada, apesar de não ter conhecido a banda nos tempos áureos (por motivos óbvios).
A partir daí, cada grana que eu arranjava, ia em algum show. Outro que não me esqueço, por incrível que pareça, foi um do Capital Inicial e Ira! juntos no ginásio do Ibirapuera. Ambos estavam no auge e o ginásio, abarrotado. Acho que foi o segundo show que mais suei até hoje depois do Rammstein.
Fazendo as contas, perdi quantas vezes vi shows bacanas. Destacando os estrangeiros, vi Deep Purple, The Hellacopters (será que ainda existe? Era bem bacana), Pearl Jam, Iron Maiden, Motörhead, R.E.M., Bon Jovi, Rush (fui nas duas vezes aqui em SP), Kraftwerk (um dos favoritos), Iggy Pop e os Stooges, Sonic Youth, Flaming Lips, Placebo, Ozzy Osbourne (aqui e na Alemanha), Rammstein, além, claro, dos que vi lá em Munique: Depeche Mode, Neil Young e Bruce Springsteen (esses não vêm pra cá mesmo, que coisa!). Falando em Bruce Springsteen, assisti seu "concerto" num estádio olímpico lotado e com os alemães cantando a plenos pulmões. O cara tocou por 3 horas seguidas e fez jus à fama com sua excelente Street Band. Minha fala era, do começo ao fim, "puta que pariu". Já o Neil Young, um tiozão grandalhão desengonçado com seu jeitão antissocial e, ao mesmo tempo, fofo, com suas belas canções meio folk, meio rock. Ah, destaco que fui na maioria dessas apresentações sozinhas (para uma mulher, nesta cidade, é um tanto perigoso) e não tenho problema nenhum. Nos dois que irei, provavelmente eu vá só: System of a Down e Eric Clapton. Como é difícil encontrar algum companheiro shows de rock/metal/sei lá, ainda mais agora, em que os preços vão à estratosfera!
Para o System of a Down estou naquela expectativa. Tomara que seja um daqueles shows de levantar poeira (já que vai ser na tal da Chácara do Jockey)!
Hoje, pela primeira vez (e com muita vergonha digo isto), ouvi o Roots, do Sepultura, integralmente. É bem aquilo que eu sempre ouvi e li - é excelente! Eu já vi o Sepultura, só que com o Derrick. Na segunda-feira ouvi uma coletânea do Violeta de Outono e gostei bastante. Confesso que estava com os dois pés atrás, sei lá, "rock progressivo, em português, hum, sei não"... Ainda bem que nos enganamos certas vezes!
Em 2001, vacilei em deixar de ir ao Rock in Rio para ver o Neil Young, o R.E.M., o Iron Maiden (que acabei assistindo depois) e o Silverchair (eu adorava), achando que estava muito "pop" (por causa de umas misturas que fizeram, Carlinhos Brown no dia do Guns'n'Roses, entre outras). Se aquilo era pop, o que vai rolar no final deste mês é o quê? Melhor nem dizer...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Porrada!

Agora que repare, faz tempo que não posto nada por aqui! É que me faltou tempo e, confesso, assunto. :P

O link em seguida é de uma opinião a respeito do famigerado e popularíssimo UFC. Concordo plenamente com o que ele diz, pena que ele não se aprofundou mais no tema.

http://www.meioemensagem.com.br/home/comunicacao/ponto_de_vista/20110905Metendo-porrada-no-UFC.html

Esse esporte, misto de um monte de lutas, me faz lembrar das aulas de História sobre a Roma Antiga, com seus gladiadores, e seu povo, na época do que ficou conhecido como "pão e circo".

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A banalização da pós

Há algum tempo (não me lembro quando) li um artigo de um professor universitário sobre a disseminação dos cursos de pós-graduação no Brasil. Em um certo ponto do texto, ele menciona a expressão "banalização da pós-graduação". À primeira leitura, achei um pouco radical essa linha de pensamento, porém, agora, tenho de concordar com o professor.
Não vou ficar deliberando sobre o grave problema que é a educação no nosso país, nem quero dar soluções mirabolantes porque não sou pedagoga, há muito tempo não entro numa sala de aula para lecionar e tampouco estou frequentando as aulas de licenciatura da Faculdade de Educação. Todos sabem que o problema vem da educação básica e vem se arrastando até o ensino superior, inclusive a pós-graduação.
É digno de nota o aumento de alunos no ensino superior, bem como o de instituições, tanto do setor público quanto do privado. Contudo, devido a esse aumento, houve uma proliferação de instituições que não são reconhecidas pelo MEC e que formam profissionais de capacidade praticamente nula. Pessoas que acreditaram piamente nessas "faculdades" e, agora, amarguram no desemprego ou no subemprego. A formação superior na maioria das faculdades brasileiras é deficiente e mercenária. Aqui funciona o esquema do "pagou, passou". Paga-se para entrar na faculdade, paga-se a mensalidade, paga-se a rematrícula, a prova de recuperação, a prova substitutiva...
O mais grave é que as instituições privadas - que deveriam dar melhores condições de infraestrutura, de corpo docente e de ensino - são as que menos contribuem para a formação dos alunos. Logo elas, que se direcionam estritamente para o mercado (business, business, business) em detrimento da pesquisa e do pensamento humanista. Já que "focam" tanto o mercado, deveriam dar todo o suporte aos alunos, que buscam uma luz ao sol do mundo do trabalho. A graduação anda tão mal das pernas que, em qualquer área, vejo pessoas se matriculando em cursos de pós-graduação. O problema é que essas "faculdades" (e os alunos também) estão fazendo da pós um mero curso de extensão, e não é. Teoricamente, deve-se ter um projeto de pesquisa, um aprofundamento teórico da área com um professor orientador (mesmo em cursos lato sensu) - coisa que não existe na maioria desses cursos. Não existe a liberdade de se escolher, dentro desses cursos, as matérias que são feitas, os professores e a linha de pesquisa do famigerado TCC. E as pessoas, ingênuas, se orgulham disso: "Ah, eu faço pós". Tá, em quê? Qual o objetivo? "É que a empresa está me pedindo", "Ah, meu chefe mandou". Elas são iludidas desde o início da graduação, achando que terão aquele emprego com aquele salário.
Faço parte da turma que está fazendo a tão falada "pós". Claro que meu objetivo e meu interesse são outros; não sigo muito a linha mercadológica, no entanto, não sou estritamente acadêmica. E me entristece o rumo que o ensino de pós-graduação está tomando: falta pesquisa, falta pensamento, falta indagação, falta discussão. Tudo é mercado, mercado, mercado. Muitos nem sabem resumir um texto, quiçá redigir um bom trabalho de TCC com viés crítico. Além do rumo torto, me entristece também a ilusão de quem acredita que a pós (em instituições ruins, claro) salvará seu emprego ou dará "o" emprego. Pena.   

Cinzas do Norte

Há alguns dias pedi dicas de autores brasileiros contemporâneos. O primeiro foi o Bernardo Carvalho, com O filho da mãe. Entrou na lista dos favoritos. Outra sugestão (obrigada, Sônia!) foi o Milton Hatoum. Quando entrei na graduação, foi na época do lançamento de Cinzas do Norte e ouvia muito seu respeito.

Sempre ficava na dúvida se lia este ou Dois irmãos, outra obra de Hatoum. Comecei bem, pois a história me pegou duma maneira, que não conseguia largar do livro e li muito rápido (inédito, diga-se de passagem)! Achei o enredo bem romanesco, porém sem ser piegas. O que mais me chamou a atenção na obra é o retrato de Manaus, do Amazonas (terra natal do autor), algo inédito para mim, pois sempre se lê coisas ou sobre São Paulo, ou sobre o Rio ou, no máximo, sobre a Bahia e o Rio Grande do Sul.
O próximo da lista, claro, é o Dois irmãos.


Segue o link com o resumo da obra: http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=80165

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O jogo de manipulação

Muitos sabem que tenho interesse em assuntos relacionados a temas como discurso e argumentação. Tanto que meu projeto de pesquisa no mestrado é voltado a essas áreas e a disciplina que estou cursando neste semestre é sobre discurso, retórica e argumentação. Apesar dos pesares (aulas toscas, enfim), estou aproveitando demais.
Para quem é leigo no assunto, a tal da retórica surgiu na Grécia Antiga e foi muito utilizada por gregos e romanos. Foi esquecida por um bom tempo, mas estudiosos a retomaram lá pela década de 1950. Ela faz parte de tudo, de tudo mesmo que diz respeito ao nosso cotidiano. Para tudo precisamos argumentar. Deliberações à parte, o discurso e a argumentação me trazem à cabeça o termo manipulação.
Quando ouvimos a palavra, sempre a relacionamos à política e à mídia. Sim, tanto que ainda vemos, hoje em dia, pessoas acreditando piamente em ditadores malucos, em pregadores dissimulados, por exemplo; pessoas que acreditam em falsas promessas de sujeitos que não estão, nitidamente, nem aí para o seu eleitorado, entre outros. A manipulação de que trato por aqui é a mais corriqueira, mas que não deixa de ser tão danosa quanto as feitas por veículos de comunicação e malucos travestidos de políticos. Falo da manipulação que pessoas comuns fazem para conquistar benefícios próprios ou simplesmente pelo prazer em ferrar com a vida alheia. No dia a dia, a manipulação é facilmente vinculada à dissimulação e ao mau-caratismo. Assim como existem os dois lados para tudo, existe o poder de manipular para o bem e para o mal.
Segundo os caros retóricos gregos, o caráter do orador (éthos) influencia e muito no poder de argumentar; e isso envolve a persuasão e o convencimento. Como sou interessada pelo assunto há um bom tempo, vim percebendo ultimamente como tem gente que gosta de utilizar os meios argumentativos (e dissimulados também) para o benefício próprio em detrimento do outro, prejudicando-o, por ciúme, inveja ou simplesmente pelo prazer de ferrar com a vida alheia.
Voltando à manipulação, relaciono-a com o poder de persuasão, que é vinculado às relações interpessoais (aquelas entre amigos, família e colegas, por exemplo; excluo as relações de trabalho por aqui). A persuasão é aquilo que fazemos diariamente com nossos pais, irmãos, parceiros. "Se você for assistir aquele filme comigo, vamos jantar naquele restaurante tailandês que, há muito tempo, você quer conhecer." É mais ou menos isso. Uma forma de persuadir e manipular que consiste numa troca. Ótimo.
A questão que me enraivece é fazer da manipulação um meio de sobrevivência. Utilizar deste meio para se "defender" em território (ou do próprio) "inimigo". Fazer da adaptação a um novo lugar, novo círculo social e novas relações pessoais um jogo de intrigas e picuinhas, pois sabe que é um ser pobre de espírito, de caráter, de conhecimentos etc. e que, sem suas artimanhas e interpretações, não sobrevive à selva que é a vida em sociedade, principalmente quando se está fora de seu local de origem e habituado a viver. Diante desse jogo, prejudica as boas relações do "inimigo" com terceiros que têm vivência em comum, que, até então, se entendiam muito bem, criando argumentos mirabolantes a respeito do tal inimigo sem que este nada o fez. Ou que até deve ter feito alguma coisa, porque sentimentos como ciúme e inveja não têm explicação, na maioria das vezes. O "inimigo", por um momento, fica sem entender o porquê de tanto mal-estar; porém, com o tempo, ele percebe que foi vítima de um jogo de manipulação.
Muitas vezes utilizar de argumentos a fim de prejudicar um outro pode dar certo, sim. No entanto, ele próprio pode cair em sua própria armadilha retórica. Alguém, tão manipulador quanto, ou que reconheça o modo como funciona esse esquema, pode fazer com que a queda do cavalo seja muito, mas muito feia. Ficarei de camarote assistindo.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Elenco de insuportáveis

Para hoje, elenco umas coisinhas que todo (ou quase) mundo adora, mas que eu não suporto, desculpe. Dentre elas estão filmes, artistas, lugares... Sei que muita gente que ler isto aqui vai me execrar. Mas não importa, o que importa é que o lugar-comum me dá sono.

- Perfume Chanel nº 5 (argh!)
- Champanhe
- Amsterdã, na Holanda
- Dizer que a Europa é melhor em tudo em relação ao Brasil
- Clarice Lispector (essa eu não engulo!)
- Machado de Assis (também não rola)
- Chico Buarque (agora vão querer me matar)
- Raul Seixas
- Blow-Up - Depois daquele beijo, do Antonioni (que merda é aquela???)
- Matrix
- Blade Runner
- Franz Kafka
- As aulas do Hansen sobre Machado de Assis (essa é para a comunidade uspiana)
- James Joyce, claro!!! (Valeu, Jana!)
- Samuel Beckett

Quem tiver algo ou alguém para complementar a listinha, aceito sugestões (claro que de acordo com as minhas preferências!)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Aristóteles e Perelman

Nunca Artistóteles foi tão fundamental nos dias atuais.

"Não se deve discutir com todos, nem praticar a Dialética com o primeiro que aparecer, pois, com respeito a certas pessoas, os raciocínios sempre se envenenam. Com efeito, contra um adversário que tenta por todos os meios parecer esquivar-se, é legítimo tentar por todos os meios chegar à conclusão; mas falta elegância a tal procedimento."

Ou seja, "o perigo de discutir com certas pessoas é que, com elas, se perde a qualidade de sua própria argumentação" (Chaïm Perelman)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Raiva da minha cidade

Eu tenho uma relação de amor e ódio com São Paulo. Como todo mundo que mora por aqui. A minha relação é mais de ódio que de amor. Ódio é um tanto exagerado; prefiro dizer que tenho raiva dessa cidade.
Esta semana recebo a visita de uma grande amiga do sul que conheci na Alemanha. Ela nunca veio à cidade e está louca para conhecer os pontos de que tanto se fala, claro. Como ela irá passar somente o final de semana, escolhi o roteiro mais básico para conhecer alguns pontos, como a região central e da avenida Paulista. Até aí, tudo certo.
A minha revolta começa quando penso na chegada dela à cidade. Para começar, não existe acesso decente ao aeroporto de Congonhas. Só de carro ou de táxi. Transporte público? Só "busão", que passa a quarteirões de lá. A solução é o táxi. Por sorte, moro perto do sobe e desce de aviões. E quem precisa ir para a região central ou Paulista, paga uma fortuna por um serviço que nem sempre é idôneo. Não vamos generalizar, claro. Uma cidade da imensidão de São Paulo tem um vergonhoso sistema de transporte público, o qual me faz ter vergonha alheia, principalmente a cidades "minúsculas" (perto daqui) como Bogotá e Buenos Aires. Ainda bem que moro perto de uma linha do metrô, que dá acesso aos locais onde pretendo levar minha amiga para conhecer.
Outra coisa que me revolta com a cidade é o descaso que ela recebe do poder público há um bom tempo. A cidade, que já não é bonita, está ficando cada vez mais feia. Apesar da Lei Cidade Limpa, a sujeira nas ruas é escancarada e, em alguns lugares, como perto de casa, os cartazes de "pancadão" e "pagode na vila X" são colados a exaustão. E para piorar a situação, um lixão se formou praticamente na esquina da avenida com a rua onde moro. Não é para matar de vergonha cada vez que uma visita vem à minha casa??? Um lixão se formou dentro de um terreno abandonado e, não o suficiente, o lixo é largado na calçada da avenida, nas proximidades do ponto de ônibus. Além do "condomínio" que está se formando lá dentro, com suposta venda de coisas ilícitas e crianças ranhentas brincando em meio ao chorume. E, detalhe: no final do ano, provavelmente, receberei a visita de outra amiga com seu namorado alemão. Aí a vergonha se eleva a níveis estratosféricos!
Muitas vezes penso que São Paulo merece estar do jeito que está devido aos habitantes (não só os que aqui governam) que têm. Está cada vez mais insustentável morar aqui. A cidade já está parada há anos, mas ninguém abre mão do seu carrinho para ir à padaria da esquina. O transporte público, se não fosse o metrô, seria o caos completo. Mas só o metrô não dá conta da demanda. Mesmo a demanda sendo enorme, a falta de educação e consciência de quem mora aqui é gritante. O que custa esperar o próximo trem para embarcar? Claro que custa! Meu emprego, meu curso, minha faculdade, meu compromisso...
Só digo uma coisa: Ai que vergonha, quando chegar a sexta-feira!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Feliz Dia dos Pais

Ontem fui ao cinema e assisti ao filme "Árvore da Vida", com Brad Pitt e Sean Penn. Como sou fã do Sean Penn e o Brad Pitt tem feitos ótimos trabalhos nos últimos anos, fui conferir. E, coincidentemente, foi Dia dos Pais.
O filme é bem arrastado e confesso que não entendi algumas coisas. Talvez, numa segunda vez, possa entender melhor. Acho que não tenho a sensibilidade artístico-visual que a película pede. Mas isto não vem ao caso. Basicamente, o enredo do drama fala da relação conturbada entre o primogênito (protagonizado pelo Sean Penn quando adulto) e o pai rígido.
É até compreensível a rigidez do pai, cuja época ambientada é a década de 1950 e, além disso, ele era da Marinha norte-americana. O pai era rígido, porém, havia um certo carinho com os três filhos, havia o toque, o abraço, o beijo. Eu não tive isso. O pai do filme forçava as crianças a dizer "sim, senhor", pedia beijos, perguntava se o menino (o mais velho) o amava. O meu, além de dizer "senhor", fala para pedirmos a "bença". Sempre detestei. Acho hipócrita e submisso. Como se isso fizesse diferença na minha vida...
Nunca nos damos bem. Desde pequena, temos uma relação conflituosa. Chegamos a ficar 3 anos sem nos falar, nem nos ver. O motivo de tanto tempo sem contato foi o fato de que não consegui encontrá-lo no dia de seu aniversário para dar os parabéns. Ele achou que fiz de propósito. Então, tá.
Voltamos a nos falar no "susto", porque o encontrei, por acaso, na casa da minha avó, pouco tempo depois do meu retorno da Alemanha. Ele só soube que eu estava fora quando já estava por lá há um bom tempo.
Voltando ao filme, parece que a reconciliação (pelo que entendi) acontece no pós-morte. Será que, comigo, só assim? Se bem que não acredito nessa história de pós-morte...
Na época que fazia terapia, o terapeuta me dizia que o conflito comigo mesma e com outras coisas vem da infância. É, Freud estava certo. Com a terapia, aprendi a relevar certas coisas dele, depois de muitos anos. Sei que ele não vai mudar. Quem tem de mudar, sou eu. Mas, para mim, é difícil "retomar" algo que não existiu.
Uma vez uma psicóloga me disse que não somos obrigados a amar ninguém, mesmo que esse alguém seja pai ou mãe. É bem isso o que sinto. Como você pode amar alguém que te abandonou e que te humilhou diversas vezes? Não sou masoquista. Já fui diversas vezes obrigada a ligar, dizer "Feliz Dia dos Pais", "e aí, tá tudo bem?", com uma recepção não lá muito calorosa. Mas ai se não ligasse!
Hoje em dia, ele deve ter aprendido a se tocar. Ligo, quando acho que tem de ligar. Ele, o mesmo. Ontem não liguei. Na verdade, gostaria de ligar, dar um abraço no meu pai, que não está mais aqui.

Feliz Dia dos Pais, vô!!!

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Impulsividade

Sempre ouvi muitas críticas sobre as pessoas que agem por impulso. Já me disseram que a impulsividade é típica de ariano. Até acredito nessa história de que os signos contribuem para formação da personalidade. Portanto, sou impulsiva, sim. O problema é que taxam os impulsivos como inconsequentes a todo momento. Não é bem assim.
Se não fosse pelo impulso, não teria chegado onde estou e é pelo impulso que alçarei voos mais altos. Fato.
Claro que há arrependimentos. Mas, pelo menos, fiz. E foi agindo sem pensar demais que consegui as maiores realizações da minha vida. Já perdi amigos (na boa, se fossem amigos mesmo, entenderiam que é traço da minha personalidade). Ganhei outros. Falando e agindo por impulso, ofendi e machuquei. Contudo, sempre percebo, em seguida, o que fiz e/ou falei (ah, principalmente falar!). Ufa, ainda bem! Não é fácil. Tento me segurar ao máximo, principalmente quando meus sentimentos são envolvidos. Aí, o bicho pega!
Sou um baú cheio de sapos engolidos. Sei que às vezes eles são necessários, porém, quando estou por um fio da tolerância, jogo tudo para o alto e faço/falo o que tem de ser feito/falado.
Muitos veem o lado ruim da impulsividade. Eu sempre procuro ver pelo lado bom, porque nem sempre é ruim. Creio que o impulso é primo da atitude. Já me disseram que tenho atitude. Também acredito que a atitude anda lado a lado com a coragem. Coragem de agir, de falar e de pensar de forma diferente do senso-comum.
O impulso é minha mola propulsora. Graças a ele, fujo como ladrão do marasmo e da mediocridade. No entanto, sempre chego a algum ponto do trajeto que me alenta, mesmo que seja por pouco tempo (ou não). 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O filho da mãe

Fiquei curiosa em ler esta obra quando ouvi a seu respeito no curso da ESPM (obrigada, Celso!) e também por causa do especial passado na TV Cultura em parceira com a Companhia das Letras "Amores Expressos" (quero ler todos da coleção, já!). O filho da mãe é um dos livros da série, em que escritores brasileiros passam uma temporada no exterior a fim de produzir seus enredos. Me pegou de jeito. Para se ter uma ideia, comprei o livro no sábado e terminei de ler ontem (quarta-feira)! A narrativa é empolgante e muito bem costurada. Dois temas conduzem o enredo: a maternidade e a guerra, e um é intrínseco ao outro.
Uma ótima surpresa para quem desacreditava que ainda existia boa prosa brasileira contemporânea. Já entrou na minha lista de livros favoritos! Recomendo!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O ato de retribuir

Pode soar repetitivo por causa da postagem sobre imigração, mas vou falar de multiculturalismo. Sabemos bem o que é, apesar de a palavra ser um tanto estranha. Nossa sociedade é a mais multicultural do planeta. Convivemos bem com as diferenças étnicas e culturais, até porque somos uma miscelânea de tudo quanto é raça, credo e cultura. Ponto positivo para nós.
Há uns cinco dias vem ocorrendo uma onda de vandalismo em Londres (que agora se espalha por outras cidades inglesas, como Manchester e Birmingham). O motivo? Abordagem policial duvidosa a um inglês de origem "estrangeira". Se não me engano, de origem nigeriana. Difícil concordar ou discordar de tal atitude, pois ambos podem ter agido de forma duvidosa.
Assim como o Brasil, o continente europeu é um amontoado de línguas, culturas, religiões e etnias distintas (em menor escala do que aqui, claro) que, teoricamente, convivem em relativa harmonia. O problema dos europeus é que eles têm a memória tão curta quanto a nossa, principalmente no quesito "retribuir o favor". Se perguntar a qualquer cidadão inglês, francês, italiano, espanhol ou alemão (não cito o português porque ele tem, ainda, uma relação mais estreita com sua antiga colônia, nós) para quais países seus ancestrais foram tentar uma nova vida, quase nenhum sabe responder.
O engraçado é que, séculos atrás, muitos deles foram explorar colônias no Novo Mundo, levando riquezas antes desconhecidas a seus lugares de origem; deram uns catos nos nativos, trouxeram doenças e dizimaram civilizações inteiras. Diante dessa exploração, muitos lugares sofrem as consequências daqueles tempos (inclusive o Brasil), principalmente a pobreza. Séculos mais tarde, muitos dos descendentes desses locais foram tentar a vida nas Metrópoles. Londres, Paris, Madri, Roma... E o que receberam? Portas fechadas na cara. Até hoje só são recebidos para fazer o serviço " de segunda", como os de construção civil e indústria.
Isso é a regra geral, porém existem as exceções. Em todas as cidades citadas existem guetos de tudo quanto é nacionalidade: o bairro africano, o bairro latino, o bairro árabe. O problema das gerações nascidas desses guetos é a falta de integração: seus pais e avós não falam a língua local, convivem entre si e vivem de bicos. E por esse motivo eles são cidadãos de segunda classe? Não são europeus? Se nasceram nesses locais, possuem tantos direitos quanto qualquer cidadão considerado "nativo", não?
Para a maioria de ingleses, franceses e cia., não. Mesmo os nascidos nos países são um estorvo. Também não se integram, assim como muitos imigrantes. Querendo ou não, eles movimentam setores econômicos daqueles países, pois seus nativos não querem fazer o "serviço inferior". Voltando à retribuição, o mínimo de dignidade aos que foram explorados séculos atrás deveria ser dado. Porém, como em qualquer coisa, há exceções. Pessoas e pessoas. Existem organizações governamentais e não governamentais que auxiliam os imigrantes. E existem imigrantes que andam dentro das leis dos países que os recebem, e outros, não. A grande questão é: uma minoria "esperta" mancha a imagem da maioria trabalhadora que tenta fazer do país onde escolheu para morar como sua segunda pátria. Eu já vi de tudo desse assunto. A forma como somos vistos lá fora é devido à mídia, claro, e aos que fazem o favor de reforçar a má impressão que temos. Assim como vemos outras populações por causa dos mesmos motivos citados.
Voltando ao vandalismo na Inglaterra, é difícil dizer se dá para concordar ou discordar. Claro que qualquer tipo de vandalismo é condenável. Mas é bem possível o policial ter abusado da autoridade contra o rapaz. Como também é perfeitamente possível o rapaz ter dado uma de "esperto". Esse acontecimento só evidenciou ainda mais a revolta dos imigrantes locais e a intolerância de setores da sociedade local. Creio que isso não parará tão logo, enquanto as palavras "tolerância" e "retribuição" não fazerem parte do léxico de ambos. Esse assunto me fez lembrar de coisas que vi (e ouvi a respeito) na minha estadia lá fora, mas isso fica para uma próxima.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Tudo ao mesmo tempo agora?

Final de semana agitado. Bom assim. Resolvi, de repente, que queria fazer um curso de extensão aos sábados. Estava em dúvida se cursaria francês ou algum na área de língua portuguesa. Eu sempre tenho dúvidas quando quero estudar algo. Pois gosto de muita coisa e quero saber tudo. Pedi a opinião do Schatz e dos universitários, e fui à PUC fazer a matrícula. O curso se chama O estudo funcional da gramática: a interface gramática e discurso. Gosto desses títulos de matérias. Soam prepotentes. Melhor fazer um curso de gramática agora, porque sinto que estou um tanto defasada nesse assunto, apesar de lidar com a língua o dia todo. O francês fica para depois. Atualização nunca é demais. E também quero conhecer outros pontos de vista, já que estarei em uma universidade diferente, que tem ideologias e preceitos diferentes da minha. Mesmo sendo formada em Letras, não tive uma aula sequer voltada à gramática, pois, segundo os professores, devemos chegar à faculdade sabendo de todo o conteúdo. Concordo. Mas o mercado está aí e pede a bendita da gramática normativa. Sinto falta de muitos aspectos, por isso, vou fazer o curso. Além da "reciclagem", a palavra de ordem é contato. Com certeza terá algum maluco como eu, que atua na mesma área que eu, com quem farei contato profissional. Ainda mais nessas faculdades particulares, cujo foco é sempre o famigerado mercado.
Às vezes, penso: Será que sou louca? Será que quero tudo ao mesmo tempo agora? Necessidade de estar sempre informada e atualizada? Necessidade de estabelecer contatos a fim de se libertar? Sei lá, talvez algumas ou todas essas coisas juntas. É algo maluco, porque nunca fico satisfeita em saber sobre um só assunto. Gosto de análise do discurso a fofocas sobre celebridades. Qual o problema?
Por falar em análise do discurso, amanhã começam minhas aulas da pós deste semestre. Ainda não entrei no clima. Estou em clima de folga. Tenho preguiça só de pensar que tenho de me locomover até a Cidade Universitária. Detesto aquele lugar. Não consigo entender até hoje como tem gente que ama aquele lugar longínquo e bucólico. Além disso, as aulas que tenho são péssimas, por incrível que pareça. Achava, antes de ingressar no mestrado, que teria as aulas mais “animais” do mundo. Pelo contrário. Sinto falta de algumas aulas dos tempos da graduação. A arrogância e prepotência de alunos e professores eram menores. Agora, a disputa de egos e de quem é o pesquisador mais fodão é algo que me causa náuseas. Gosto muito da vida acadêmica. Tenho objetivos com ela. Mas não quero ficar mofando numa sala com livros. Também gosto dessa coisa de “mercado de trabalho”. Dá uma sensação de vitalidade e disputa. Pretendo conciliar esses dois aspectos, até porque tenho aluguel e contas a pagar e não posso me dar ao luxo de viver de bolsa de estudos. Mesmo porque o valor que pagam é vergonhoso. Prefiro ter a vida maluca que tenho tentando conciliar emprego, universidade e pesquisa. Sei que vou conseguir. Há alguns minutos, vi a nota da disciplina que fiz semestre passado sobre o Bakhtin: A (excelente), com direito a crédito. Fiquei felicíssima, pois o curso foi ruim, o tema foi bem malinha e, além disso, tive de entregar a monografia antes de todos por causa da minha viagem em junho. Com tudo desfavorável, tive essa boa notícia. Agora, só preciso de força para seguir adiante, pois não está fácil. Sei que o tema de minha pesquisa é bacana, mas, ao mesmo tempo, dá um desânimo daqueles só de pensar em colher corpus, fazer as traduções necessárias e analisar os textos. Não sei por que vacilo desse jeito. Tenho que agradecer aos deuses do Olimpo todos os dias por estar numa excelente universidade, pública e gratuita, ter acesso ao conhecimento, porém, sinto-me pressionada – por mim mesma. E a pior pressão é a que vem de nós mesmos. Sinto-me pressionada, contudo, a sensação não é pior do que a de angústia. Angústia profissional. Seria o tal dilema da tão falada “geração Y”, da qual faço parte? Melhor deixar o lamento para uma próxima.

Mudando de assunto: o final de semana foi agitado. Fiz a matrícula no curso, comprei sapatos novos (momento fútil), comprei O filho da mãe, do Bernardo Carvalho (já estou no terceiro capítulo e adorando), comprei garrafas da Weltenburger por R$ 1,99 cada (nem na Alemanha custa isso) e uma de vinho chileno por uma bagatela. Mais tarde encontrei antigos amigos que não via há muito tempo, e foi ótimo. No domingo, houve o lançamento da adaptação de Hamlet em quadrinhos na 1ª Felit (Feira Literária) de São Bernardo do Campo. Claro que fui prestigiar o Schatz e equipe! O bate-papo foi bem produtivo e todos estavam ótimos. Dá orgulho em ver algo pronto depois de tanto trabalho (mesmo eu não tendo participado, só acompanhando, de perto, em casa)! Parabéns a todos!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Imigração

Acabei de ler a notícia deste link:
http://noticias.uol.com.br/bbc/2011/08/05/brasil-e-pais-que-ve-imigrantes-de-forma-mais-positiva-diz-pesquisa.jhtm

Que bom que nós, brasileiros, vemos com bons olhos os imigrantes que aqui chegam. Eu também os vejo com bons olhos, se eles trazem algo de bom e agregador para nós.
Aqui em SP vejo muitos deles, principalmente na região da avenida Paulista. São aqueles tipos esquisitões, que estão aqui a trabalho e, normalmente, ficam pouco tempo por aqui e partem para outro país. Esses são os que nos beneficiam, de alguma forma, fazendo intercâmbios empresariais, culturais, acadêmicos. O problema são os que não contribuem com nada, pelo contrário.
Toda vez que ando pelos lados do Bom Retiro, me pergunto: "Aonde foram os judeus, os gregos, os armênios?" Pessoas que, com seu esforço e muito trabalho, ajudaram no crescimento desta cidade; de culturas diversas, mas que ali conviviam pacificamente, bem diferente de suas terras de origem. Houve uma invasão coreana por lá. Nada contra os coreanos. Minto. Tenho, sim, duas coisas: Primeiro, o que eles vêm fazer por aqui? Não falam (e não querem falar) português. Compraram (sabe-se lá como) praticamente todo o bairro e abriram suas confecções. E o pior, motivo de minha revolta, fazem de imigrantes bolivianos escravos. Um problema que já está tão arraigado, mas que ainda não merece a devida (ou nenhuma) atenção das autoridades e da mídia. Gosto dos bolivianos (e demais latino-americanos) que vivem por aqui. São pessoas muito simpáticas, abertas aos nossos costumes e língua e muito dignas. O triste é ver que, mesmo sabendo da situação na qual vivem por aqui através de familiares e amigos, muitos ainda vêm ao Brasil com esperanças de uma vida melhor. Me espanta vê-los acreditando que encontraram a melhora trabalhando 18 horas por dia de segunda a segunda (alguns têm folgas aos sábados ou domingos - milagre -, é fácil vê-los na região da estação da Luz passeando com suas famílias) para os coreanos, que enriquecem enlouquecidamente às custas desse povo.
Saindo do Bom Retiro e indo pros lados da 25 de Março, também me pergunto por onde andam os sírios-libaneses? Quase não frequento a região, porque odeio aglomeração. Só vou quando quero ir ao Mercadão Municipal. De uns anos para cá, a pirataria tomou conta da região. E quem comercializa? Chineses. Tenho medo deles. Muitos que estão aqui fazem parte da máfia. O maior contrabandista do país, por incrível que pareça, é um chinês. Vivem em nichos. Também não falam português. Seus filhos falam porcamente o português porque seus pais não deixam. Mas estudam nos melhores colégios da cidade. Vá até a rua Vergueiro, na Vila Mariana, na saída da famosa escola umas 12:30! É uma parte de Pequim e Seul que está lá. Também fazem de seus trabalhadores "semiescravos". Eu sempre me questiono: "Como conseguem entrar no Brasil? Como? A maioria é ilegal, não paga impostos, não contribuem em praticamente nada com o país, não se "misturam" com a população, ganham rios de dinheiro de forma bem suspeita e ninguém faz nada?"
Aí entra algo que está enraizado em nossa sociedade: achar que todo estrangeiro é rico e bacana. Não é! Apesar de sermos formados por diferentes povos, sabe-se lá como, temos essa mentalidade pequena e provinciana de acharmos que todo estrangeiro é "bobo, coitado, mas é rico". Pelo contrário. Nós é que somos! Todo mundo é bem-vindo por aqui e a nossa vantagem em relação a todos os outros países do mundo é que recebemos bem o imigrante, seja de que lugar for. O problema é não nos tocarmos com aqueles que prejudicam nosso lugar. Eu parto do seguinte pressuposto: se vou a algum lugar, quero, pelo menos, aprender a falar "bom dia" e "obrigada" na língua local. Agora, chegar a uma loja e o cidadão falar o valor da conta com os dedos e nem dizer obrigado é revoltante. Eu, pelo menos, fico revoltada. Tem gente que acha divertido falar "mimiquês" com essas pessoas (e na hora do turismo lá fora também, mas isso fica para uma próxima).
Parto do pressuposto de que é sempre bom agradecer ao lugar onde se está e às pessoas que te recebem, de alguma forma. A começar pela tentativa de integração. Dizer "olá" e "obrigado" já é um bom começo. E o lugar mais fácil do planeta de se integrar, é aqui.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Como me joguei no deutsch

Não acredito em vidas passadas. Tampouco em espíritos, na ligação entre nós e eles. Mas sempre me pergunto cá com meus poucos botões: "Por que diabos resolvi estudar línguas, ainda mais alemão?" Seria afinidade cultural? Conexão espiritual? Vidas passadas? Já me disseram que podem ser as duas últimas. Sei lá. Se for, também, tudo bem.
Tudo começou quando eu tinha uns 8, 9 anos, já era interessada por livros e qualquer coisa relacionada a línguas estrangeiras. Aos oito anos, lembro bem que era época da Olimpíada de Barcelona e assistia, maravilhada, ao desenho do mascote Cobi, na Cultura, e tentava pronunciar os nomes dos lugares por onde ele e sua turma passavam. No mesmo período, não lembro em que circunstâncias, ganhei, da minha mãe, umas edições da revista Speak Up, da Editora Globo. Acho que elas nem existem mais. Eram quatro os idiomas: inglês, italiano, francês e alemão. Como folhava qualquer papel que aparecia em minha frente, me divertia com as ilustrações das revistinhas. Mas, claro, a que me chamou mais a atenção foi a de alemão. Aquela capa preta, com letras brancas e com a bandeira da Alemanha no lado direito. Óbvio que não entendia nada do que continha ali, mas me recordo, até hoje, dos nomes das personagens dos diálogos: Sybille, Klaus e Hans. Posso estar enganada com algum deles, mas da Sybille tenho certeza absoluta! Havia também um cachorrinho nas histórias. Só ficava chateada por não poder entender o que eles diziam. Eu perguntava à minha mãe se existia escolas daquelas línguas e ela me dizia: "Tem, sim. Mas são muito caras. Ainda mais dessas línguas doidas".
Não sei se foi na mesma época, mas me lembro do programa "Hallo aus Berlin", também da TV Cultura. Eu pirava. Tentava repetir o que aquele povo falava. Não era só do "Hallo", como também do programa de espanhol que passava em seguida. Louca. Viajava com as personagens do programa para cantos daquele país e pensava que, talvez, nunca fosse para lá. 
Com uns dez anos de idade, comecei a me interessar por histórias de guerra. Mais precisamente pela Segunda Guerra. E lia, nos livros da escola, os nomes de muitas daquelas cidades mostradas no "Hallo aus Berlin" e vistas na Speak Up. Eu pirava. Para piorar, o filme ganhador do Oscar naquele ano foi "A Lista de Schindler", do Spielberg (um dos meus favoritos até hoje). Lembro que o SBT passou o filme, porém era num horário medonho, daí fiz reserva da fita VHS na locadora e assisti, embasbacada, toda aquela história. Tinha até uma personagem com meu nome! A partir do filme, botei na cabeça que iria contar uma história de uma menina judia de um gueto e de um soldado nazista que se apaixonaram, mas que não podiam ficar juntos, por motivos óbvios. E escrevi. A garota engravidou do soldado e perdeu o contato com ele quando a guerra chegou ao ápice. Os anos passaram, contudo, claro, eles ficam juntos no final. Até hoje fico boba de ter escrito essa historinha aos dez anos. Eu pesquisava a respeito de lugares que podiam fazer parte do enredo, nomes de pessoas nas grafias corretas, como também sobre o tema. Perguntava à professora. Ela ficou chocada (no bom sentido) com meu interesse no assunto.O tempo passou, esqueci um pouco da coisa alemã, mas sempre tinha interesse pela nossa língua e nas demais.  
Nos tempos de cursinho, as aulas de história e literatura me fizeram voltar àquela ideia de aprender a tal da "língua de doido" e pesquisar sobre a história daquele "povo maluco". Aulas sobre a unificação alemã, Primeira e Segunda Guerras, a Queda do Muro e a Reunificação, bem como as aulas sobre  Romantismo e a influência fortíssima do Sturm und Drang em nossos escritores fizeram com que eu me interessasse mais fortemente pela língua e cultura. Lia Goethe e Hermann Hesse ao mesmo tempo em que tínhamos que ler aquelas listas de livros obrigatórios para os vestibulares. Lia, também, Schopenhauer e Wittgenstein. Retardada. E, detalhe: naquela época, eu queria prestar vestibular para área de Biológicas (Farmácia, Biomedicina, Biologia, Agronomia)! Cheguei a cursar um semestre de Agronomia na Unesp de Botucatu. Claro que detestei tudo: terminado o primeiro semestre, voltei a São Paulo e prestei para Letras no final do mesmo ano.
Ter escolhido o deutsch como habilitação na faculdade foi só uma consequência de toda essa "trajetória". O curso não foi levado como eu gostaria; claro, é uma língua dificílima e, para agravar a coisa, sempre trabalhei durante a graduação e não dava para me dedicar exclusivamente ao curso. Porém, quando olho para trás, vejo o quão bom foi ter escolhido essa "língua de cachorro" para estudar. Ela me deu a oportunidade de trabalhar, estudar e morar por um ano na Alemanha. Lá, conheci pessoas fantásticas de várias partes do mundo, as quais sempre terei em minha memória, além da família maravilhosa com a qual morei nesse tempo. Nas minhas recentes férias, aonde fui? Óbvio! Percebi que sou "masoquista" ao continuar estudando alemão e tenho uma relação um tanto conturbada com ele. Mas estamos sempre juntos. E acho que essa relação ainda perdurará, pois minha pesquisa de mestrado é voltada para a imprensa alemã.  Ah, estava me esquecendo: quando fiz terapia, o terapeuta era filho de alemães de uma colônia de Santa Catarina. Falava melhor o alemão do que o português!
Afinal, seria esta uma conexão espiritual, vidas passadas, masoquismo ou pura "pagação"? Seja lá o que for, das gefällt mir.



*gefällt mir é uma expressão em alemão que significa algo como "eu gosto", "me apraz" (nossa, essa foi arcaica, hein!)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Roubaram nosso vocabulário

Virou rotina. Todo dia de manhã, às 9:35, ouço, na BandNews, a crônica do dia do Salomão Schvartzman. Virei fã. E, hoje, especialmente, um o assunto no qual ele abordou me atingiu diretamente (ou melhor, o que faço) e me fez lembrar cada absurdo que leio no meu dia a dia.
O assunto era o verbo focar. Na fala, ele dizia que, hoje em dia, em qualquer forma de comunicação tal verbo é utilizado exaustivamente. Na hora, pensei: "Aff. Pior que é mesmo. Eu vejo esse verbo praticamente todo dia em qualquer contexto. Que pobreza." Além do focar, verbo predileto dos corporativistas e imprensa especializada, que, inclusive, está se embrenhando no vocabulário da maior parte da população, outros jargões foram mencionados e, claro, ridicularizados. A parte que mais gostei, claro.
Agora, elenco os meus "tops". Além do focar, implementar e otimizar. Uma pergunta que Salomão fez na qual sempre me fiz também é "qual a regência do verbo focar?" Que eu saiba, é "focar em" algo, porém, estão utilizando o pobre do focar em qualquer contexto, coitado. Implementar e otimizar: típicos em textos da área de negócios, marketing e publicidade. Tão horríveis quanto focar, e perfeitamente substituíveis por sinônimos que são perfeitamente cabíveis em tais situações. Por que não utilizam "A empresa X inseriu, formulou (para implementar), um modelo de interação com as redes sociais", sei lá? "Fulano otimizou os custos de compra e venda de tal produto"? É de uma pobreza vocabular irritante.
"Assaltaram a gramática e assassinaram a lógica", como diz a letra da música dos Paralamas, assaltaram, também, a semântica, a morfologia, o léxico...
Além dos verbos, o meu preferido no rechaço ainda é o feedback. É o ápice da miséria que é o vocabulário utilizado pelos executivos, pseudoexecutivos, funcionários desses executivos, entre outros. A coisa ainda tão feia que, se perguntar a uma dessas pessoas outra palavra que poderia substituir feedback, a resposta é "não sei", "não existe". Por que não usar algo mais fácil como "retorno", "resposta"? Muito mais simples. Não sou contra usarmos termos em inglês em contextos específicos, agora, "vou fazer um job", "o case ficou ótimo", entre outras coisinhas, muitas delas vazias de sentido, é de matar.
Voltando ao português, outra coisa medonha que tenho de encarar quase que diariamente é o tal do "sendo que". Socorro!!! Essas pessoas que escrevem (e acham que fazem isso muito bem) se utilizam disso erroneamente, e para qualquer porcaria. "Tantas pessoas foram mortas, sendo que 20 hospitalizadas". Até o santo Manual do Estadinho diz que tal construção é errada (e olha que eu, pessoalmente, detesto esse manual)! O Manual do Estadinho é uma minigramática para preguiçosos e que fazem deste a verdade incontestável. De verdade, ele só me ajudou a entender a concordância nominal de porcentagens, muito comum nos textos jornalísticos. De resto, dispenso bonito. A única pessoa que relativiza o uso do sendo que é o Evanildo Bechara. Mas ele nem considero, porque o gramático relativiza tudo, diz que tudo é possível em língua. Até é possível, mas nem tudo, não é? Para lê-lo, tem de tomar um ácido e entrar na onda dele. Não tenho paciência. Não acrescenta em nada no meu cotidiano. Me cansa.
Não sou nenhuma defensora ferrenha do purismo da língua, longe disso. O purismo acaba com a beleza de qualquer tipo de manifestação, escrita ou falada. O que prezo é o mínimo de noção no uso das palavras. Se não sabe, não utilize, por favor. Se quer seguir um modelo de um segmento social, econômico, seja lá o que for, saiba o significado antes. Foque-se na tua comunicação!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Rascunhos parte 1 - Europa em polvorosa

Começo pra valer por aqui postando alguns dos textos que produzi num curso de escrita criativa que fiz, semana passada, na ESPM. Valeu tanto a pena ter feito que, por isso, resolvi criar este Fustigo. E segue o primeiro texto, um artigo de opinião.

O Velho Mundo está agitado como há muito não se via, e não por bons motivos.
Em recente viagem à bela Munique, na Alemanha, estive em meio ao caos devido ao pânico criado pela mídia local acerca das 36 mortes (quase todas no norte daquele país) em decorrência da bactéria Eschereria coli, mais conhecida por lá como EHEC. Tanto barulho por pouco, ou melhor, por um broto de feijão mal higienizado. Na verdade, as pessoas morreram como na Idade Média, quando qualquer noção de higiene sequer existia. Os alemães chegaram ao ponto de causar mal-estar diplomático com os espanhóis - cujos pepinos e tomates, segundo eles, estavam contaminados com a tal bactéria. Até os russos entraram na discussão! E quando a Rússia entra na conversa, aí, o caso complica ainda mais.
Em meio às mortes pela bactéria, a crise econômica na Grécia explodia. Não havia arte retórica e poética que salvassem os gregos. Só a cúpula da União Europeia, cuja liderança é nitidamente alemã. A chanceler Angela Merkel e seus coleguinhas deram possíveis soluções à questão, claro, porque senão haveria uma invasão helênica em seus territórios - o que não querem, obviamente.
Li recentemente uma entrevista com uma escritora argentina (cujo nome esqueci, mas lembro que ela ficou sendo conhecida como a "musa"), que esteve recentemente na Flip, e moça dizia que não suporta a chanceler alemã porque ela está realizando o sonho de Hitler: dominar a Europa. Achei bem infeliz a colocação. Na real, a mulher está "segurando as pontas" de um continente que está em crise financeira desde 2008 e que ainda não se recuperou. São Grécia, Irlanda, Portugal, e, entrando na dança, Espanha e Itália, possivelmente. Penso que deve ser muito complicado para essa mulher, que tem como vizinhos, um primeiro-ministro que se intitulou "viking" e que fechou sua única fronteira com o continente (justamente com a Alemanha); outro que só pensa na gravidez de sua groupie de rock stars e quer proibir o uso da burca em suas terras; países pequenos, que não contribuem em nada; e, perto dali, um fanfarrão milanês.
Diante da crise socioeconômica, assisto estupefata a decadência de um continente, sobretudo no que diz respeito a atitudes extremistas e xenófobas, como no caso recente do atirador em série da Noruega, país que, até então, eu só ouvia falar através dos mitos nórdicos e das famigeradas bandas de black metal! Como no caso dos protestos e guerras nos países da África do Norte, cujos refugiados tentam desesperadamente chegar a qualquer lugar da Europa, mas que morrem ou são expatriados pelo medo daqueles que não querem mais estrangeiros (além de tudo, pobres) em suas terras. A já mencionada proibição da burca na França e a crise diplomática entre Brasil e Espanha dois anos atrás.
Esta é uma tendência que não passará tão cedo, pois a crise ainda perdura e as mentalidades absurdas que emergem desta ainda trarão muitas más notícias para o mundo todo. Aguardemos.

domingo, 31 de julho de 2011

O título

Para esta primeira postagem, esclareço o que vem a ser essa palavra um tanto estranha e que quase não se utiliza nos dias de hoje. Para isso, cito o que consta no Houaiss:
fustigar - 1. bater com vara, açoitar; 2. fig fazer mal a; maltratar; 3. incitar, estimular. fustigação s.f. -fustigante adj. 2g. -fustigo s.m

O intuito é fazer uso de alguns significados, não de todos. Mas bem que eu gostaria! =P

Esclarecido o termo, bem-vindo (a)!