domingo, 26 de maio de 2013

Status: ocupada

Uma das coisas que mais me irrita nas pessoas ultimamente, e principalmente, na mulherada, é "a correria". Amigos, colegas, ex-colegas, inimigos, sem exceção, estão sofrendo do mal da atualidade: a "falta de tempo". Não poupo ninguém, sinto muito. E o atestado disso é a tal "timeline" do Facebook. Gente falando da falta de tempo como se fosse a coisa mais sensacional do universo, que estar ocupado, com todos os horários preenchidos na agenda, é uma obrigação. Que é legal ficar 10, 12 horas num trabalho (e posta nas redes sociais) e, depois, desse trabalho, ir para uma academia gastar todas as calorias adquiridas depois de metade de um dia inteiro sentado em frente a um computador; ou ir para uma faculdade ou curso livre para tentar aquela promoção ou ganhar uns R$ 100 a mais no final do mês; ou se empanturrar com alguma gordice que vai direto para a "pochete"; ou deixar de encontrar um velho amigo porque ficou até mais tarde ou tem trabalho extra para fazer em casa, mesmo nos finais de semana; ou deixar de ver aquele filme que estreou porque está sem tempo; ou deixar de ler aquele livro ou assistir àquele seriado na TV paga porque está muito cansado; ou deixou de brincar com o filho ou com o sobrinho porque ele não aguentou a espera. Cansou só de ler todas essas situações? Então, eu me cansei de ler e ouvir todas essas chatices.

Por que toda essa urgência em ocupar as 24 horas do dia? E por que expor toda essa "ocupação"? Hoje em dia, "estar ocupado", "viver na correria"  virou sinônimo de status e de bem-querença. E quem tem "um tempinho" para fazer o mínimo daquilo que se tem prazer, é considerado desocupado, coitado, até mesmo frustrado. Frustrado? Faça-me o favor! É um frustrado aquele que tem tempo para "não fazer nada", ir ao cinema, à livraria, ao médico? É, o conceito de viver está reverso. Sei que isso pode soar como indireta a alguém que conheço, mas é bem por aí mesmo: na verdade, é uma "direta", para que você reflita sobre o que está fazendo com tua vida. Se estar na correria é bárbaro, saiba que você está perdendo tempo. Contraditório, não?

Engraçado como a vida corrida nos é empurrada goela abaixo pela mídia e pela publicidade, pelo cotidiano influenciado por essas duas esferas – de como é "cool" não ter tempo para nada –, o qual nos faz buscar alternativas a tudo, para "economizar" tempo: do micro-ondas e da máquina de lavar, passando pelo WhatsApp da vida até algo mais absurdo que está por vir em breve. Pois fazer a própria refeição demora, pegar num telefone e ligar para um amigo, um parente ou marcar uma consulta com dentista é um porre, almoçar decentemente está fora de cogitação, etc. Demora para fazer o quê? Ir para as redes sociais e postar que foi almoçar (15 minutos) num restaurante X, que está no trânsito, tudo via Foursquare, que está rolando uma reunião ou uma festinha "da firma", ou que foi ao banheiro? Pelo que vejo nas tais redes, é bem por aí mesmo. Depois reclama que não tem tempo para fazer o trabalho, a monografia, o TCC, o inferno!

Particularmente, se eu gostasse desse tipo de status, eu também encheria a timeline das pessoas com coisas do tipo: "acordei megacedo para ir a uma palestra na USP e participar de uma reunião com minha orientador", "nossa, preciso escrever minha dissertação", "essa correria da dissertação... ai, ainda preciso me inscrever para aquele congresso", "amigos, me desculpem, mas estou ocupada com minha pesquisa", "estou correndo para o aeroporto - universidade X que me espere, uhu!". Sacal. Claro que tenho esses afazeres e muitos outros, mas bom senso é tudo nessa vida – real ou virtual. Mesmo que eu esteja na fase da reta final de minha pesquisa, eu nunca vou deixar de fazer o que preciso ou o que gosto por "falta de tempo": abandonar família, entrar em contato com amigos, ir ao cinema... Não sou desse tipo de mulher "moderna e independente". Independente? Pelo contrário, a tal "mulher-alfa-moderna-independente-masculinizada-que é foda em tudo" é extremamente dependente justamente das facilidades da modernidade e quer sempre se exibir ao dizer que está ocupada, "coitada". Ah, vá, isso foi uma escolha. Problema teu. Uma relação mutualística meio maluca essa entre modernidade e dependência. Falo da mulher, pois, o que mais vejo são as exaltações e alusões à "correria".

Então, minha amiga, inimiga, colega, não aguento mais ouvir esse papinho. Vá viver tua vida como ela merece ser vivida (daí o tipo de merecimento depende do ponto de vista).