terça-feira, 2 de agosto de 2011

Roubaram nosso vocabulário

Virou rotina. Todo dia de manhã, às 9:35, ouço, na BandNews, a crônica do dia do Salomão Schvartzman. Virei fã. E, hoje, especialmente, um o assunto no qual ele abordou me atingiu diretamente (ou melhor, o que faço) e me fez lembrar cada absurdo que leio no meu dia a dia.
O assunto era o verbo focar. Na fala, ele dizia que, hoje em dia, em qualquer forma de comunicação tal verbo é utilizado exaustivamente. Na hora, pensei: "Aff. Pior que é mesmo. Eu vejo esse verbo praticamente todo dia em qualquer contexto. Que pobreza." Além do focar, verbo predileto dos corporativistas e imprensa especializada, que, inclusive, está se embrenhando no vocabulário da maior parte da população, outros jargões foram mencionados e, claro, ridicularizados. A parte que mais gostei, claro.
Agora, elenco os meus "tops". Além do focar, implementar e otimizar. Uma pergunta que Salomão fez na qual sempre me fiz também é "qual a regência do verbo focar?" Que eu saiba, é "focar em" algo, porém, estão utilizando o pobre do focar em qualquer contexto, coitado. Implementar e otimizar: típicos em textos da área de negócios, marketing e publicidade. Tão horríveis quanto focar, e perfeitamente substituíveis por sinônimos que são perfeitamente cabíveis em tais situações. Por que não utilizam "A empresa X inseriu, formulou (para implementar), um modelo de interação com as redes sociais", sei lá? "Fulano otimizou os custos de compra e venda de tal produto"? É de uma pobreza vocabular irritante.
"Assaltaram a gramática e assassinaram a lógica", como diz a letra da música dos Paralamas, assaltaram, também, a semântica, a morfologia, o léxico...
Além dos verbos, o meu preferido no rechaço ainda é o feedback. É o ápice da miséria que é o vocabulário utilizado pelos executivos, pseudoexecutivos, funcionários desses executivos, entre outros. A coisa ainda tão feia que, se perguntar a uma dessas pessoas outra palavra que poderia substituir feedback, a resposta é "não sei", "não existe". Por que não usar algo mais fácil como "retorno", "resposta"? Muito mais simples. Não sou contra usarmos termos em inglês em contextos específicos, agora, "vou fazer um job", "o case ficou ótimo", entre outras coisinhas, muitas delas vazias de sentido, é de matar.
Voltando ao português, outra coisa medonha que tenho de encarar quase que diariamente é o tal do "sendo que". Socorro!!! Essas pessoas que escrevem (e acham que fazem isso muito bem) se utilizam disso erroneamente, e para qualquer porcaria. "Tantas pessoas foram mortas, sendo que 20 hospitalizadas". Até o santo Manual do Estadinho diz que tal construção é errada (e olha que eu, pessoalmente, detesto esse manual)! O Manual do Estadinho é uma minigramática para preguiçosos e que fazem deste a verdade incontestável. De verdade, ele só me ajudou a entender a concordância nominal de porcentagens, muito comum nos textos jornalísticos. De resto, dispenso bonito. A única pessoa que relativiza o uso do sendo que é o Evanildo Bechara. Mas ele nem considero, porque o gramático relativiza tudo, diz que tudo é possível em língua. Até é possível, mas nem tudo, não é? Para lê-lo, tem de tomar um ácido e entrar na onda dele. Não tenho paciência. Não acrescenta em nada no meu cotidiano. Me cansa.
Não sou nenhuma defensora ferrenha do purismo da língua, longe disso. O purismo acaba com a beleza de qualquer tipo de manifestação, escrita ou falada. O que prezo é o mínimo de noção no uso das palavras. Se não sabe, não utilize, por favor. Se quer seguir um modelo de um segmento social, econômico, seja lá o que for, saiba o significado antes. Foque-se na tua comunicação!

2 comentários:

  1. Genial! Eu como redator já me vi usando otimizar e implementar em algumas situações, que como você bem coloca, de cunho empresarial.
    É com certo desgosto que isso acontece, mas vai um pouco de conhecer o cliente, eles simplesmente têm ejaculações com tais termos. O grande problema de escrever é que todo mundo que sabe falar acredita saber escrever, no mundo da publicidade isso se agrava, pois o elemento que fala é o cliente... e este, quase sempre, sofre de acefalia. Já cansei de ver textos bons em se transformarem em medíocres e ideias bacanas em clichês devido a esta doença que é epidêmica no meio corporativo!

    Belo texto!

    ResponderExcluir
  2. Pois é, Fábio, acho que vc não tem muita escapatória, rs... Nem eu. Mas, de fato, dá um certo desgosto em ler e ouvir certas coisas. Tenho pena até desse pessoal, que tem ejaculações com tais termos. Ah, o cliente! Todos somos. Porém, tem gente que GOSTA de abusar, não é?
    Obrigada!

    ResponderExcluir