segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Feliz Dia dos Pais

Ontem fui ao cinema e assisti ao filme "Árvore da Vida", com Brad Pitt e Sean Penn. Como sou fã do Sean Penn e o Brad Pitt tem feitos ótimos trabalhos nos últimos anos, fui conferir. E, coincidentemente, foi Dia dos Pais.
O filme é bem arrastado e confesso que não entendi algumas coisas. Talvez, numa segunda vez, possa entender melhor. Acho que não tenho a sensibilidade artístico-visual que a película pede. Mas isto não vem ao caso. Basicamente, o enredo do drama fala da relação conturbada entre o primogênito (protagonizado pelo Sean Penn quando adulto) e o pai rígido.
É até compreensível a rigidez do pai, cuja época ambientada é a década de 1950 e, além disso, ele era da Marinha norte-americana. O pai era rígido, porém, havia um certo carinho com os três filhos, havia o toque, o abraço, o beijo. Eu não tive isso. O pai do filme forçava as crianças a dizer "sim, senhor", pedia beijos, perguntava se o menino (o mais velho) o amava. O meu, além de dizer "senhor", fala para pedirmos a "bença". Sempre detestei. Acho hipócrita e submisso. Como se isso fizesse diferença na minha vida...
Nunca nos damos bem. Desde pequena, temos uma relação conflituosa. Chegamos a ficar 3 anos sem nos falar, nem nos ver. O motivo de tanto tempo sem contato foi o fato de que não consegui encontrá-lo no dia de seu aniversário para dar os parabéns. Ele achou que fiz de propósito. Então, tá.
Voltamos a nos falar no "susto", porque o encontrei, por acaso, na casa da minha avó, pouco tempo depois do meu retorno da Alemanha. Ele só soube que eu estava fora quando já estava por lá há um bom tempo.
Voltando ao filme, parece que a reconciliação (pelo que entendi) acontece no pós-morte. Será que, comigo, só assim? Se bem que não acredito nessa história de pós-morte...
Na época que fazia terapia, o terapeuta me dizia que o conflito comigo mesma e com outras coisas vem da infância. É, Freud estava certo. Com a terapia, aprendi a relevar certas coisas dele, depois de muitos anos. Sei que ele não vai mudar. Quem tem de mudar, sou eu. Mas, para mim, é difícil "retomar" algo que não existiu.
Uma vez uma psicóloga me disse que não somos obrigados a amar ninguém, mesmo que esse alguém seja pai ou mãe. É bem isso o que sinto. Como você pode amar alguém que te abandonou e que te humilhou diversas vezes? Não sou masoquista. Já fui diversas vezes obrigada a ligar, dizer "Feliz Dia dos Pais", "e aí, tá tudo bem?", com uma recepção não lá muito calorosa. Mas ai se não ligasse!
Hoje em dia, ele deve ter aprendido a se tocar. Ligo, quando acho que tem de ligar. Ele, o mesmo. Ontem não liguei. Na verdade, gostaria de ligar, dar um abraço no meu pai, que não está mais aqui.

Feliz Dia dos Pais, vô!!!

Um comentário:

  1. Um desabafo e tanto. Na verdade, pai biológico nem sempre cumpre o papel apenas por ser biológico. A representação de Pai, no meu entender, se resume em coisinhas simples e verdadeiras como em qualquer relação: respeito mútuo, carinho e amizade. Mas para que isso floresça, é necessário outra coisinha que requer algo básico também: o cultivo de ambas as partes. Se isso nunca foi semeado antes, torna-se difícil colher algo agora. É duro encarar os fatos, mas a verdade é que as crianças desaparecem de cena ao se tornarem adolescentes e estes idem, ao entrarem na vida adulta. Algumas faltas e carências continuam dentro de nós para sempre. Nesse caso específico, o pai biológico e ausente, desapareceu há muito tempo atrás e a criança, lá dentro, ainda o procura. Uma observação: seu avô não está mais aqui, mas habita dentro de ti, para sempre, porque você o cultiva.

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