quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O ato de retribuir

Pode soar repetitivo por causa da postagem sobre imigração, mas vou falar de multiculturalismo. Sabemos bem o que é, apesar de a palavra ser um tanto estranha. Nossa sociedade é a mais multicultural do planeta. Convivemos bem com as diferenças étnicas e culturais, até porque somos uma miscelânea de tudo quanto é raça, credo e cultura. Ponto positivo para nós.
Há uns cinco dias vem ocorrendo uma onda de vandalismo em Londres (que agora se espalha por outras cidades inglesas, como Manchester e Birmingham). O motivo? Abordagem policial duvidosa a um inglês de origem "estrangeira". Se não me engano, de origem nigeriana. Difícil concordar ou discordar de tal atitude, pois ambos podem ter agido de forma duvidosa.
Assim como o Brasil, o continente europeu é um amontoado de línguas, culturas, religiões e etnias distintas (em menor escala do que aqui, claro) que, teoricamente, convivem em relativa harmonia. O problema dos europeus é que eles têm a memória tão curta quanto a nossa, principalmente no quesito "retribuir o favor". Se perguntar a qualquer cidadão inglês, francês, italiano, espanhol ou alemão (não cito o português porque ele tem, ainda, uma relação mais estreita com sua antiga colônia, nós) para quais países seus ancestrais foram tentar uma nova vida, quase nenhum sabe responder.
O engraçado é que, séculos atrás, muitos deles foram explorar colônias no Novo Mundo, levando riquezas antes desconhecidas a seus lugares de origem; deram uns catos nos nativos, trouxeram doenças e dizimaram civilizações inteiras. Diante dessa exploração, muitos lugares sofrem as consequências daqueles tempos (inclusive o Brasil), principalmente a pobreza. Séculos mais tarde, muitos dos descendentes desses locais foram tentar a vida nas Metrópoles. Londres, Paris, Madri, Roma... E o que receberam? Portas fechadas na cara. Até hoje só são recebidos para fazer o serviço " de segunda", como os de construção civil e indústria.
Isso é a regra geral, porém existem as exceções. Em todas as cidades citadas existem guetos de tudo quanto é nacionalidade: o bairro africano, o bairro latino, o bairro árabe. O problema das gerações nascidas desses guetos é a falta de integração: seus pais e avós não falam a língua local, convivem entre si e vivem de bicos. E por esse motivo eles são cidadãos de segunda classe? Não são europeus? Se nasceram nesses locais, possuem tantos direitos quanto qualquer cidadão considerado "nativo", não?
Para a maioria de ingleses, franceses e cia., não. Mesmo os nascidos nos países são um estorvo. Também não se integram, assim como muitos imigrantes. Querendo ou não, eles movimentam setores econômicos daqueles países, pois seus nativos não querem fazer o "serviço inferior". Voltando à retribuição, o mínimo de dignidade aos que foram explorados séculos atrás deveria ser dado. Porém, como em qualquer coisa, há exceções. Pessoas e pessoas. Existem organizações governamentais e não governamentais que auxiliam os imigrantes. E existem imigrantes que andam dentro das leis dos países que os recebem, e outros, não. A grande questão é: uma minoria "esperta" mancha a imagem da maioria trabalhadora que tenta fazer do país onde escolheu para morar como sua segunda pátria. Eu já vi de tudo desse assunto. A forma como somos vistos lá fora é devido à mídia, claro, e aos que fazem o favor de reforçar a má impressão que temos. Assim como vemos outras populações por causa dos mesmos motivos citados.
Voltando ao vandalismo na Inglaterra, é difícil dizer se dá para concordar ou discordar. Claro que qualquer tipo de vandalismo é condenável. Mas é bem possível o policial ter abusado da autoridade contra o rapaz. Como também é perfeitamente possível o rapaz ter dado uma de "esperto". Esse acontecimento só evidenciou ainda mais a revolta dos imigrantes locais e a intolerância de setores da sociedade local. Creio que isso não parará tão logo, enquanto as palavras "tolerância" e "retribuição" não fazerem parte do léxico de ambos. Esse assunto me fez lembrar de coisas que vi (e ouvi a respeito) na minha estadia lá fora, mas isso fica para uma próxima.

Um comentário:

  1. Oi Ellen!Estou curtindo muito o seu blog, continue escrevendo e compartilhando conosco suas reflexões, indagações e desabafos. Concordo plenamente com seu pensamento e digo mais: nunca saí do Brasil e a imagem que tinha da Europa aos poucos foi se desfazendo com o decorrer do tempo. Percebo que a hipocrisia paira em todos os lugares independente de ser "primeiro mundo" ou não. Mascaramos uma idéia para que "os outros" não vejam quem realmente somos. Somos covardes a ponto de sustentarmos um sistema hipócrita e de mentiras dantescas. A polícia londrina continua causando transtornos de grandes proporções. Lembra-se do eletricista brasileiro suspeito de terrorismo e que foi alvejado dentro do trem? O mesmo acontece agora com outros imigrantes, europeus também e que são vistos como "de segunda categoria"? Como assim? E assim rasteja a humanidade...

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