quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Lidando com o intragável

Para começar, uma definição segundo o Houaiss:

Intransigência: 1 falta de compreensão; intolerância, 2 austeridade, rigidez – intransigente adj.

Intragável: adj. 2g. 1 que não se pode ou é ruim de tragar (comida) 2 fig. pej. de personalidade, temperamento etc. desagradáveis (pessoa).

Sinto-me compelida a fazer uma espécie de desabafo (pra variar), já que este é um dos intuitos deste blog.
Pus essas duas acepções de dicionário porque essas duas palavras que detesto e que faço o possível para que não façam parte do meu vocabulário fazem parte da minha rotina diariamente. É difícil eu utilizá-las, mas, hoje, durante uma conversa com um colega – em forma de desabafo dele para mim –, percebi como essas duas palavras, uma um substantivo e outra um adjetivo podem fazer parte tão fortemente de um mesmo ser.
Quem me conhece, sabe que eu só tenho cara de brava e de chata. Só a cara mesmo, e todo mundo se surpreende assim que conversa comigo. Dias atrás ouvi de outro (ou outra, não me lembro) colega algo como “você não é intransigente, isso é que é bacana”. Confesso que fiquei contente em ouvir aquilo, porque é algo que trabalho incessantemente para não se apossar da minha personalidade.
Mas voltando à conversa de hoje, a palavra "intransigência" foi o tema. De como pode um mesmo ser humano ser intransigente e intragável ao mesmo tempo. Voltei para casa me perguntando como o indivíduo consegue essa proeza, e como eu consigo (ou acho que consigo) conviver com uma pessoa com adjetivos tão desagradáveis.
Considero uma pessoa intransigente aquela que não tolera as opiniões e convicções alheias, que faz chacota daquele que lhe é “inferior” (em sua acepção, claro) e que se sente o melhor do melhor em tudo o que faz. Penso que o intransigente é o tipo de cidadão que mais sofre com a solidão e com a insegurança; por que, reflita, diabos ele quer sempre se sobressair dos demais? Por que ele tem de sempre “tirar sarro” de todos os outros, que, supostamente são “inferiores” a ele? Ou melhor, que nunca reconhece aquele que é ou foi melhor que ele em algum momento? Acho que a intransigência é parente do preconceito. Pois tendo preconceitos, o sujeito não tolera aquilo que lhe é diferente.
Logo, vem o adjetivo intragável. Todo santo dia tenho que lidar com alguém que é absolutamente intragável. E essa opinião é partilhada por outras pessoas com as quais convivo. No começo da convivência, até comecei a achar que estava implicando demais com o ser, mas não, esse sentimento que tenho é compartilhado. Ufa, que bom! Tenho de ouvir absurdos das mais variadas vertentes. Dentre elas, de que “esses caras” (referindo-se aos trabalhadores dos Correios) não têm é que fazer greve nenhuma, pois são um bando de vagabundos. O sangue ferveu e me subiu a cabeça. Não me contive, e disse: “Ora, se não podem fazer greve, que melhore, então, as condições de trabalho deles.” E, por pouco, não solto um “reaça”. Essa é uma das pérolas com as quais sou obrigada a ouvir o dia todo, além de comentários de “notícias” de sites de Veja e Globo.com. Desculpe, se o sujeito baseia suas opiniões naquilo que lê somente nesses dois veículos, ele tem um sério problema.
Volto à intransigência comentada por meu colega, que também conhece a pessoa em questão. Ele me disse que tem as mesmas impressões que as minhas – e eu sequer havia comentado nada a respeito, ou seja, a pessoa é, de fato, uma intransigente. Diz-se excelente profissional, com 300 anos de profissão, que trabalhou nos melhores veículos e blá-blá-blá. Mas, toda segunda-feira, quando pego o jornal para ler, tudo o que está errado vem da “excelente profissional”. Eu sou assim: lembro-me de tudo o que faço e verifico o que possivelmente tenho deixado passar; logo, vejo as asneiras que foram deixadas passar. É, como dizem uns amigos meus, mas não vou escrever palavrões, experiência de $% é...
A pessoa sabe que não a suporto, e a recíproca é verdadeira. E isto foi confirmado no dia de hoje. Estranho, mas agora, mais do que nunca, faço questão de mostrar o quanto me é intragável. Sou do tipo que, quando não gosto, não gosto mesmo; sou daquelas que sinto a “vibe”, e esse ser não tem uma das melhores. Além de ser intragável, intransigente e preconceituosa, é de uma pequenez angustiante, não consegue ver o mundo através de outros olhares; não tem respeito pelo outro, e respeito é bom e todo mundo gosta; faz brincadeiras imbecis com quem não lhe deu liberdades; quer ser “autoridade” sem que isso lhe fosse imbuído. Deveria ser o tipo de pessoa que menos deveria ter preconceitos, devido sua situação, porém, é bem o contrário. Acredito que deva ser um mecanismo de defesa contra o maldito bullying, sei lá. Ah, não tenho que ficar procurando explicações; a pessoa é intragável independentemente de condições ou subcondições. O problema é que, daqui a pouco, essa situação pode-se tornar insustentável e prejudicar a mim, pois não consigo deixar de me afetar com esse tipo de gente. É impossível, já que convivo todos os dias, praticamente o dia inteiro. Procuro não deixar me afetar, ouço meus clássicos do rock e heavy metal, saio para almoçar com outras pessoas (bem mais leves e interessantes), faço o que tenho de fazer, leio minhas coisas, enfim. Mas a “vibe”, em certos momentos, tenta me impedir. Tento ser mais forte que ela, fazer o quê?
Engraçado é que a sociedade prega a convivência cordial, gostando ou não, simpatizando ou não com o indivíduo. No entanto, pergunto: dá para manter essa “cordialidade” diante de uma situação dessas? Existe uma receita além das coisas que mencionei acima?

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A ilusão de preservar o corpo e os bichos

Acabo de ler na página de um amigo no Facebook (o texto é dele, e somente dele):

"Alguns amigos vegetarianistas vão me execrar, mas vamos lá:

Acho muito mais saudável ser o que a sociedade taxa como gordo do que ser o que a sociedade louva como saudável. Que sejamos livres para o chocolate, o açúcar, a batata, o bacon. Nossa vida é somente esta, não dispomos de outra para os prazeres dos quais podemos desfrutar.

E se você se importa tanto com os bichinhos, que tal boicotar TODA A CADEIA INDUSTRIAL dos derivados animais? Que tal parar não só com alimentos, mas também com os cremes, shampoos, loções, perfumes, cosméticos e ingredientes que usam componentes de animais (hormônios, pêlos, cerdas, células etc.)?


Ou, ainda, que tal INCINERAR TODOS OS AÇOUGUES E ABATEDOUROS?

Ou, ainda, por que não fazer piquetes frente à Sadia, à Perdigão? Ou quem sabe panfletar seu dogma de porta em porta?"


Faço das minhas palavras as dele. Sempre achei esse lance de vegetarianismo uma pura babaquice e pegadinha "pega-trouxa". Tenho amigos que fizeram essa opção, há de se respeitar, mas eles sabem muito bem a minha opinião.
Eu tenho a tese de que essa coisa de ser vegetariano, vegano, seja lá o que for, é uma coisa de gente da área de Humanas, "preocupadíssima com o destino da humanidade". Pergunte para alguém da área de Biológicas, principalmente veterinários e zootecnistas o que acham disso. Eles riem da cara dessa "tribo". Pois eles têm argumentos que provam por A+B a importância dos animais domésticos como fonte de matérias-primas para nós, humanos tontos.
Para quem não sabe, animais domésticos não são somente o gatinho e o cãozinho. São também o boizinho, a galinhazinha, o porquinho. A função deles na cadeia alimentar é justamente servirem de alimento e ser fornecedores de matéria-prima para uma imensidão de produtos. 
Com esse papinho de que carne vermelha é prejudicial, não sabe o mal que faz tirando essa única fonte de vitamina B12 (acho que é essa, mas, enfim, tem uma que é específica vinda das carnes vermelhas) da sua dieta. Tenho uma amiga que sofre pela falta dessa vitamina, mas é porque ela não curte o gosto da carne, e não porque fez uma opção "política", como dizem por aí. Acho que tudo em demasia é prejudicial: da carne, passando pelo chocolate, ao chá de camomila.
É pura hipocrisia dizer que é protetor dos animais, enquanto isso tem seu carrinho com bancos de couro, dorme com travesseiros com penas de ganso e faz sua maquiagem com pincéis com cerdas de penas de um pássaro da Papua Nova Guiné. E quando está gripado, dá-lhe mel de abelha! Ora, não é um produto de origem animal? Então está prejudicando o pobre do insetinho.
O que já vi de vídeos cheios daquelas imagens "chocantes" e repletos de discursinhos panfletários... Tut mir Leid, mas de discurso, pelo menos, eu entendo! A única coisa que apoio dessa turma "engajada" são os protestos contra as touradas, os rodeios e a matança desenfreada de animais silvestres mundo afora. Fora isso, tenho uma preguiça...
Uma das coisas mais chatas é sair para comer e receber uma visita (para comer, claro) de quem é vegetariano (pior ainda se for o tal do vegano). Já passei várias vezes por essa situação. Tem que pensar em TUDO o que for cozinhas: da entrada a sobremesa. Se for daqueles que leva tudo ao pé da letra, não sobra nem um pudim de pão. Gelatina, então? Sua louca, contém tutano de boi! Ah, que coma mexerica, então.

Sei lá, parece que sempre falta algo nesse pessoal: falta uma cor na pele (eles são sempre amarelados), uma aparência mais saudável, uma cara mais feliz...
Como disse meu amigo em sua citação, a vida é só uma para ficarmos nos privando de coisas que nos dão prazer. Privar-se só por causa de bichos? Por que carne não é saudável (quem disse?)? Eles não pensariam duas vezes em nos comer, caso estivessem no nosso lugar (OK, piadinha sem graça para eles). Para mim, uma dessas coisas é o ritual de se sentar e apreciar um bom prato, seja ele qual for. Dann, guten Appetit!















sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Lições de hierarquia

Durante esta semana, li em uma dessas muitas redes sociais o comentário de que uma pessoa só sabia trabalhar bem com gente de "alto nível hierárquico". Algo assim.
Achei bem infeliz, babaca e preconceituoso esse comentário. Quer dizer que, só porque o (a) cidadão (ã) está numa posição um pouco mais elevada e, teoricamente, tem um nível de instrução maior é sinal de que é bom trabalhar com ela? Não mesmo. Para mim, isso é sinal típico de sujeito que adora se esconder à sombra dos outros; alguém que não tem opinião e fazendo parte do "círculo" do outro mais elevado hierarquicamente é que ele se sente mais "acolhido". Típico de arrogantes e medíocres, que reconhecem o valor de uma pessoa no que ela tem (ou no que ela diz ter), e não no que ela é. Digo no que ela é no mundo do trabalho, no mundo dos estudos, no mundo mais "racional", e não nas relações interpessoais. Acredito que cada um, independentemente do posto que ocupa, tem o seu valor e pode agregar suas habilidades, ainda que pessoas de valor e humildes estejam em extinção por aqui...
Convivo com esse tipo de situação diariamente, vendo indivíduos que não agregam em nada gabando-se de "seus" feitos, por conviverem com os mais graduados da escala hierárquica acadêmico-trabalhista-seja lá qual for. E mesmo sujeitos com alto nível hierárquico acadêmico-trabalhista ocupando lugares que deveriam ser de outros. É, pelo jeito ainda é válida aquela lei de que "puxar o saco" é bom, assim como humilhar seus semelhantes.
E por falar em mediocridade, por que as pessoas ainda se assustam quando você diz que já passou um tempo trabalhando e estudando fora do país e que está fazendo uma pesquisa de mestrado/doutorado? Engraçado, o tal do mercado de trabalho exige mundos e fundos dos que nele adentram, mas ao mesmo tempo se assusta (e, muitas vezes, recusa) pessoas com esse tipo de qualificação. Por quê?  Por que a imensa maioria das empresas torcem o nariz quando algum candidato ou funcionário faz (ou quer fazer) pós strictu sensu: por que sabe que esse indivíduo pode tomar um posto importante? Porque ele tem o senso crítico mais apurado que a imensa maioria? Porque ele, de alguma forma, vê a sociedade como um todo e não somente como nicho de mercado? Porque ele não é otário? Por que, ao invés de ter medo, não valoriza esse tipo de talento? Por que "gongar" o indivíduo se não pode agregá-lo? Sei que são perguntas retóricas, mas, às vezes, elas são necessárias.
E voltando ao comentário, lidar com gente de nível hierárquico superior pode até ser bom, contudo isso não é garantia de aprendizado para ninguém. Vale mais uma lição de humildade a noção de arrogância e prepotência tripudiante.