sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O jogo de manipulação

Muitos sabem que tenho interesse em assuntos relacionados a temas como discurso e argumentação. Tanto que meu projeto de pesquisa no mestrado é voltado a essas áreas e a disciplina que estou cursando neste semestre é sobre discurso, retórica e argumentação. Apesar dos pesares (aulas toscas, enfim), estou aproveitando demais.
Para quem é leigo no assunto, a tal da retórica surgiu na Grécia Antiga e foi muito utilizada por gregos e romanos. Foi esquecida por um bom tempo, mas estudiosos a retomaram lá pela década de 1950. Ela faz parte de tudo, de tudo mesmo que diz respeito ao nosso cotidiano. Para tudo precisamos argumentar. Deliberações à parte, o discurso e a argumentação me trazem à cabeça o termo manipulação.
Quando ouvimos a palavra, sempre a relacionamos à política e à mídia. Sim, tanto que ainda vemos, hoje em dia, pessoas acreditando piamente em ditadores malucos, em pregadores dissimulados, por exemplo; pessoas que acreditam em falsas promessas de sujeitos que não estão, nitidamente, nem aí para o seu eleitorado, entre outros. A manipulação de que trato por aqui é a mais corriqueira, mas que não deixa de ser tão danosa quanto as feitas por veículos de comunicação e malucos travestidos de políticos. Falo da manipulação que pessoas comuns fazem para conquistar benefícios próprios ou simplesmente pelo prazer em ferrar com a vida alheia. No dia a dia, a manipulação é facilmente vinculada à dissimulação e ao mau-caratismo. Assim como existem os dois lados para tudo, existe o poder de manipular para o bem e para o mal.
Segundo os caros retóricos gregos, o caráter do orador (éthos) influencia e muito no poder de argumentar; e isso envolve a persuasão e o convencimento. Como sou interessada pelo assunto há um bom tempo, vim percebendo ultimamente como tem gente que gosta de utilizar os meios argumentativos (e dissimulados também) para o benefício próprio em detrimento do outro, prejudicando-o, por ciúme, inveja ou simplesmente pelo prazer de ferrar com a vida alheia.
Voltando à manipulação, relaciono-a com o poder de persuasão, que é vinculado às relações interpessoais (aquelas entre amigos, família e colegas, por exemplo; excluo as relações de trabalho por aqui). A persuasão é aquilo que fazemos diariamente com nossos pais, irmãos, parceiros. "Se você for assistir aquele filme comigo, vamos jantar naquele restaurante tailandês que, há muito tempo, você quer conhecer." É mais ou menos isso. Uma forma de persuadir e manipular que consiste numa troca. Ótimo.
A questão que me enraivece é fazer da manipulação um meio de sobrevivência. Utilizar deste meio para se "defender" em território (ou do próprio) "inimigo". Fazer da adaptação a um novo lugar, novo círculo social e novas relações pessoais um jogo de intrigas e picuinhas, pois sabe que é um ser pobre de espírito, de caráter, de conhecimentos etc. e que, sem suas artimanhas e interpretações, não sobrevive à selva que é a vida em sociedade, principalmente quando se está fora de seu local de origem e habituado a viver. Diante desse jogo, prejudica as boas relações do "inimigo" com terceiros que têm vivência em comum, que, até então, se entendiam muito bem, criando argumentos mirabolantes a respeito do tal inimigo sem que este nada o fez. Ou que até deve ter feito alguma coisa, porque sentimentos como ciúme e inveja não têm explicação, na maioria das vezes. O "inimigo", por um momento, fica sem entender o porquê de tanto mal-estar; porém, com o tempo, ele percebe que foi vítima de um jogo de manipulação.
Muitas vezes utilizar de argumentos a fim de prejudicar um outro pode dar certo, sim. No entanto, ele próprio pode cair em sua própria armadilha retórica. Alguém, tão manipulador quanto, ou que reconheça o modo como funciona esse esquema, pode fazer com que a queda do cavalo seja muito, mas muito feia. Ficarei de camarote assistindo.

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