segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Eu vi, aprendi e não esqueci

Segundo o calendário gregoriano, 2012 está chegando ao fim. Independentemente do tipo de calendário – seja ele o gregoriano, muçulmano, judaico, maia, hindu, ou qualquer outro –, o tempo é de encerramento de ciclos e de reflexão.

Em quase dois meses de ausência, coisas aconteceram comigo e o tempo (ou a falta de) foi um tanto cruel nesse aspecto.
  • Desde a última postagem, eu tive que me dedicar ao meu relatório de qualificação do mestrado, entreguei-o no último dia do prazo por aguardar que a minha orientadora desse o seu aval (ai, que agonia) e meu exame será realizado no final de fevereiro. Sendo aprovada no exame, 2013 será meu último ano do mestrado e terei de me dedicar substancialmente no final da pesquisa.
  • Adquirimos algumas coisas essenciais para o nosso apartamento, o que, momentaneamente, compromete a renda para coisas do tipo viajar no final do ano, jantar fora e comprar itens "supérfluos", como os nossos filmes e livros. Mas está valendo: o que importa é a nossa conquista mesmo diante da adversidade que foi esse 2012 para mim.
  • Ao tomar banho, descobri um caroço no meu seio esquerdo e fiquei preocupada. A princípio, pensei que fosse algum dos sintomas da TPM (sei lá, cada mulher tem seu sintoma maluco nessa hora!). Uma semana depois, ele ainda continuava lá. Pedi ao marido para conferir. O caroço ainda estava lá, onipresente. A preocupação foi elevada ao quadrado e pedi indicações de algum especialista para amigas e conhecidas. Primeiro, fui à médica que cuida de mulher (ótima, diga-se de passagem) indicada por uma amiga e ela não gostou do que tocou. Logo, ela pediu exames urgentes: ultrassom mamária, mamografia (mesmo sem ter a idade ideal) e hemogramas específicos, além de um encaminhamento a um especialista. Eu saí do consultório em pânico. Não sabia para quem ligar nem para onde ir. Só sei que não queria voltar para casa naquele momento. Ao ligar para o meu marido, não aguentei e caí em prantos, tamanho o medo que eu tinha. A minha amiga que me indicou a médica me ligou tentando me tranquilizar, porém o susto é tão grande que ele se sobressai às tentativas de amenizá-lo. Fiz os exames e fui ao especialista. Sozinha, morrendo de medo. Mesmo indicado, detestei o médico. Se eu tivesse ido ao SUS, talvez eu tivesse sido melhor atendida, sinceramente. Saí do consultório me sentindo um lixo. Mas, pelo menos, nesta consulta, foi dito que, provavelmente, o que eu tinha era algum cisto de água ou de gordura, nada de neoplasia (= tumor). E que eu tinha de fazer a tal da punção mamária. Feita a punção, aguardei por longos 10 dias. Ao ler o resultado antes do médico (tamanha a ansiedade), vi que o resultado foi negativo para neoplasia e, segundo os parcos termos técnicos que conheço, é mesmo um cisto de gordura. O que será feito ainda não sei, pois não vou mais àquele médico e estou à procura de outro. Mas com essa história de festas de fim de ano, o meu pedido de cancelamento do meu plano de saúde e a migração para o do meu marido estou na expectativa se farei uma biópsia ou uma cirurgia. Prefiro a primeira opção. Detalhe: o caroço foi descoberto em outubro, e, naquele mês, houve uma maciça campanha sobre o câncer de mama e ouvi diversas histórias de mulheres que descobriram a doença da maneira mais besta possível e, inclusive, na idade mais improvável de receber um diagnóstico desse tipo. Logo, a minha preocupação elevou-se à décima potência.

Sei que é lugar-comum dizer isso, mas estamos suscetíveis a qualquer coisa quando menos se espera – mesmo quando há cuidados e preparação prévia – e que não nos devemos nos apegar a coisas pequenas.

O que vi, aprendi e não esqueci em 2012:

  • A ingratidão: aquela coisa de "ajudar sem esperar nada em troca" é um tanto errada dependendo do contexto. Por duas vezes, ajudei duas pessoas que estavam passando por dificuldades. Sem me gabar, mas, se não fosse pela minha ajuda, elas não estariam onde estão felizes, contentes e empregadas. O que me deixa furiosa é que, na hora da dificuldade, você é a amiga, a pessoa para ajudá-la, a outra pessoa é um carinho e simpatia grandiosos; agora, na hora da tua dificuldade, você é ignorado. Mas deixe estar.
  • A ignorância: fui convidada a me retirar por não me adequar ao perfil do local (aham, depois de dois anos) e por ser "muito acadêmica", fazer muitos cursos e tal. Claro, como se isso fosse prejudicial para eles. Acho que essa ignorância empresarial prejudicou a mim, somente. Daí,
  • A falta de perspectiva: de que adianta ter boa formação, fazer mestrado, ter feito bons cursos, ter contatos, manjar outros idiomas, ter experiência e não conseguir nada? Fazer doutorado e continuar vivendo como estudante com mais de 30? Fazer um concurso para mamar nas tetas da grande-mãe que o Estado brasileiro?
  • Reconhecer a mim mesma: existe a falta de perspectiva, mas aprendi a reconhecer alguns dos meus talentos e qualidades. Logo, não aceito qualquer porcaria. Em qualquer âmbito.
  • Reconhecer os meus demônios: ao assistir ao documentário "A ilha de Bergman", me deparei com muitas coisas com as quais convivo que fizeram parte da persona difícil, porém genial, de Ingmar Bergman. Ao final do filme, ele diz à entrevistadora que ele teve de aprender a lidar com os seus demônios no decorrer de sua vida. Dentre eles, o demônio do rancor e o demônio da raiva. Rancor e raiva são dois demônios que estiveram presentes em mim desde sempre devido ao que vivi. Acho que é possível reconhecê-los nos dois primeiros tópicos. Há momentos em que me importo muito com isso, tem horas que estou me lixando. Entretanto, eu tenho a sensação de que a raiva e o rancor me movem de alguma forma, me tiram da inércia que procura me estacionar. Confesso que fico contente quando alguém que me prejudica se ferra, não sou hipócrita. Muitas vezes, essa falta de hipocrisia me afeta em alguns aspectos da vida em sociedade, me tornando uma espécie de Bergman em versão feminina. Seriam essas características de gênios? Hahaha... é muita pretensão! 
E sim, estou muito "bergmaniana" neste mês de dezembro.

Há um bom tempo venho refletindo a respeito do que quero não só para o ano que está chegando como para um futuro próximo. As escolhas que terei de fazer em 2013 serão de grande importância, contudo, expectativas demais geram frustrações. Portanto, tudo a seu tempo. E o que eu vi, aprendi e não esqueci de 2012 está sendo um gerador de reflexões que levarei comigo por muito tempo. Para este momento, essas quatro coisas soam um tanto pessimistas – e são mesmo. Mas só de ter parado para pensar (o que muita gente não faz) e, agora, estar tentando extrair algo disso me faz amadurecer e ver a vida de um jeito um pouco mais diferente, talvez. Que venha 2013? Ah, eu não tenho essa animação nesta época do ano. O que tiver de ser, será.

#ficaadica: "Liv & Ingmar - uma história de amor"


Já estava ficando envergonhada de não ter postado mais nada desde a última vez. Coisas aconteceram e o tempo (ou melhor, a falta dele) não permitiu que eu fustigasse alguma coisa.

A boa surpresa neste final de ano nos cinemas é o documentário "Liv & Ingmar - uma história de amor". Não sei o nome do diretor – um indiano –, mas só sei que ele foi bem feliz na escolha do tema e das personagens, dois mitos do cinema europeu: o diretor sueco Ingmar Bergman e a atriz norueguesa Liv Ullmann. Resumidamente, o documentário conta a história de amor-amizade-ódio da dupla, que se conhece em meados dos anos 1960 nas filmagens de Persona (um clássico).
A sacada do diretor foi permear o filme com um longo depoimento (ou melhor, narrativa) de Liv (que, aliás, continua lindíssima com os seus 70 e tantos anos). Muito emocionante tanto para quem é fã da dupla como para quem ainda não a conhece ou a conhece pouco, como era o meu caso. Diva é diva em qualquer idade, em qualquer época.
A narrativa sob o ponto de vista de Liv traz à tona as dificuldades de relacionamento de Bergman, tanto que ele foi casado diversas vezes, teve nove filhos e todos "abandonados"; o seu ciúme, a possessividade e o isolamento, mas também a paixão, a amizade e o respeito que ele tinha por Liv. A emoção do depoimento dela é contagiante. A dificuldade dela de conviver com a personalidade dificílima de Ingmar me fez perceber que esse tipo de "persona bergmaniana" é bastante inerente àquele que tem a arte como mote e, através dela, demonstra toda sua genialidade. Mesmo pertencendo à vivência artística, é perceptível a vontade de integração de Liv ao mundo de Ingmar, porém, ela não a consegue. Contudo, a amizade dos dois perpassou qualquer conflito amoroso e se manteve por décadas, dando-nos uma lição de que o amor não acaba quando um relacionamento termina - dependendo, claro, do quão grande é esse amor.
Portanto, fica a dica!





segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O meio faz o homem

Semana passada assisti ao ótimo "Gonzaga, de pai para filho", com a direção do Breno Silveira. Já é o segundo filme desse cara que me faz sair da sala de cinema com um nó na garganta... o primeiro foi "Além do caminho", que conta a história de um motorista de caminhão que roda o Brasil "fugindo" de seus problemas e compromissos e a trajetória dele é contada por músicas do Roberto Carlos. Freud explica.

Mas voltando ao Gonzagão, embora toda a trajetória do cara seja emocionante, cheia de percalços, vitórias e derrotas, o que mais me chamou a atenção da história foram duas coisas: o conflito no relacionamento entre o pai e filho (óbvio) e, menos perceptível, o lance determinista de que "o meio faz o homem".

No filme são mostradas aquelas paisagens sofridas do sertão nordestino, especificamente no interior de Pernambuco. Coincidentemente, minha bisavó nasceu na mesma cidade do Luiz Gonzaga e é meio que contemporânea dele, só com uns 7 anos a mais que ele. Meu avô nasceu na região do Crato, no Ceará, uma cidade importante para aquela região entre os dois Estados. Meu pai também nasceu no sertão pernambucano, só que numa cidade distante da de minha bisavó e Gonzagão, num lugar igualmente brutalmente seco. Por que estou dizendo tudo isso? É aí que quero chegar na hipótese errônea do determinismo de que "o meio faz o homem".

Todas as pessoas que mencionei vieram de ambientes secos, praticamente inóspitos. No filme, embora vivessem num meio de difícil sobrevivência, havia muito carinho entre os pais para com o protagonista e vice-versa– claro que há aquela braveza tradicional deles, afinal, os coronéis ainda dominavam boa parte do Nordeste brasileiro. Já o protagonista, ao sair de sua terra e conquistar fama, sucesso e dinheiro no Sudeste, sequer conhecia seu filho, pois era ausente afetivamente, porém, dinheiro nunca faltou ao garoto.
As pessoas mais velhas de minha convivência já se foram, mas tenho a lembrança muito presente delas de serem pessoas amáveis, cordiais e compreensivas, apesar das muitas dificuldades pelas quais passaram em suas vidas, como o analfabetismo, a fome crônica e o abandono da terra para ganhar o mínimo em São Paulo.
O filme me fez lembrar demais da relação que tenho (ou não) com meu genitor. O meu sonho é, um dia, fazer uma gravação igual àquela que o filho faz com o pai em idade avançada: quem viu o filme sabe da cena que estou mencionando. Uma gravação sem terceiros, num confronto direto entre duas pessoas que mal se conhecem mas que têm sérios conflitos a serem resolvidos. Conflitos que existem desde a infância, os quais deixaram marcas profundas em minha personalidade e no modo como encaro a vida. Se esta hora chegar ou não, não sei; mas sei que farei o possível para que ela chegue. Como o Gonzagão do filme, eu sempre ouvi que o nordestino é bruto e ignorante devido ao lugar de onde ele veio. Eu não concordo. Veja o que escrevi acima a respeito dos pais do protagonista e de minha bisavó e meu avô. Para que a criação de um filho seja exitosa, é preciso somente que ele tenha educação formal ("virar doutor" ou, hoje em dia, "ter faculdade") e não passe fome como ele passou. O resto é besteira. Afinal, para que ter e receber afeto, não é verdade? Para que conhecer aquele que é fruto de um relacionamento, não é mesmo?

O meio não faz o homem. É o homem que faz o meio. São as atitudes do homem que fazem com que o meio seja bom ou ruim. O meio é só um local. Ter sofrido no meio seco não torna ninguém seco. A secura humana é simplesmente uma questão de caráter e personalidade. O problema é que essa secura prejudica tanto o meio que faz com que as relações se tornem como aqueles solos da caatinga: duras, rachadas e, ao mesmo tempo, fragilizadas.

Fluxo de consciência

Por que existe a necessidade de se apegar a algo transcendental? Por que as pessoas camufladamente cobram que você acredite em algo?
Será que a veemência em não acreditar em nada não seria, talvez, uma forma de crença?

Quem não acredita, sente mais a dor.

Gostaria muito de acreditar/apegar a algo. Já fiz tentativas, todas sem sucesso. Até terapeutas me disseram para procurar algo transcendental que eu curta. Confesso que fiquei com preguiça para tal.
De nada adiantou o modo de criação ao qual fui impelida: acho tudo muito alienante.

Quando a dor aperta, tenho intenção em buscar alguma coisa, mas logo me esqueço.

Mesmo na "materialidade", quero fazer algo que curto – um curso de culinária, sei lá – mas, ao mesmo tempo, me pergunto "pra quê?". Tenho obrigações a cumprir, como minha pesquisa de mestrado, porém também me faço a mesma pergunta: "pra quê?". Às vezes, fico dias e dias sem tocar em meus objetos de pesquisa nem abrir meu arquivo no computador com a redação do meu trabalho.

Sempre me pergunto: de que adianta ter ótima formação, falar três línguas, ser comprometida e competente no que faço se há um sensação de estagnação, do tipo de estar perdida num labirinto sem saída? E daí volto a pensar no lance da transcendência e fazer todas as indagações acima mencionadas.

*Como deu para perceber, o texto está totalmente fragmentado. Acho que escrever no esquema "fluxo de consciência" rende melhor ultimamente. Vide a longa ausência que tive daqui. Mas a ideia sempre foi a do desabafo, da indagação e da fustigada. Portanto, dane-se.

domingo, 9 de setembro de 2012

Everything Must Go

Tenho uma relação de amor e ódio com as redes sociais. Mais amor do que ódio. Mas, quando odeio, saem coisas como a última postagem que fiz na minha página de Facebook:

"Fico extremamente emputecida quando fazem lamúrias nas redes sociais, principalmente aqui no FB, do tipo: "ai, esse doutorado", "preciso escrever minha tese", "esse mestrado que não me deixa dormir", "meu relatório", "ai, meu TCC" e coisas do gênero. Ora, foi uma escolha tua, portanto, que arque com as consequências trazidas por ela. Quanto a dormir ou não, quanto a terminar tal coisa ou não, isso é mais coisa de ajuste de rotina e horários do que dificuldade do trabalho escolhido em si. Tudo é uma questão de planejamento. Engraçado, o tempo para escrever, ler ou analisar dados é sempre escasso, agora, para fazer da internet de Muro das Lamentações, o tempo é bem abundante. #tomanocu" (09/09/2012)

Desabafos profissionais como:

"Toda vez que entram em contato comigo para "pedir um orçamento" ou perguntar sobre a "pretensão salarial", sinto-me em um daqueles leilões que passam no Canal Rural, sabe?! O pior é que, quando vc diz, o babaca já tem o valor fechado. Não seria mais fácil dizer "o valor é X, ok?", e pronto? Não, não é. E dane-se o mundo. #VSF" (28/08/2012)

E, também, fico de saco cheio das notícias da grande mídia e do universo pop. Mas, desta vez, houve um quê de lirismo na lembrança de datas de pessoas muito queridas (porque não sou somente paulada, não é mesmo, produção?):


"Hoje as páginas de todo o mundo estão sendo inundadas com "aniversário da Madonna", "dia da morte do Elvis" e blá-blá-blá. Para mim, o que importa é que hoje seria o 85º aniversário do meu querido e saudoso vô Pedro. E ontem foi o aniversário de 80 anos da minha avó. Ou seja, o casal combina até nas datas de nascimento!
É a saudade que fica. O resto é balela." (16/08/2012)

E deixo isso aqui, lá do País de Gales:
http://www.youtube.com/watch?v=uU5trjpFus0

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Você emite nota?

Nos últimos dias, eu venho me sentindo muito ofendida.

Estou em busca de recolocação profissional, que seja, no mínimo, decente. Nada demais. Não quero multinacionais da área editorial, nem cargos bárbaros e nem quero algo totalmente fantástico que sugue a vida pessoal. Nada disso. Eu quero somente algo digno – e, diante das "propostas" que vêm aparecendo nas últimas semanas, praticamente nada é minimamente decente.

Fico horrorizada com tamanha terceirização do setor. Tudo tem de emitir nota, tem de ser PJ, pois, de outra forma, não rola. Fico ainda mais horrorizada quando empresas entram em contato comigo me oferecendo uma vaga aparentemente bacana, porém eu teria de emitir nota fiscal e, além disso, teria de trabalhar num regime de "freela fixo". "Freela fixo"? Que p@#$% é essa? É uma pergunta retórica, claro que sei sobre o famigerado "freela fixo"!

Um freela fixo seria nada mais do que um profissional exercendo sua função num local, cumprindo horários e  exigências como qualquer outro funcionário de regime CLT. Porém, ele não recebe qualquer tipo de benefício, seja lá um vale-transporte para pegar o busão. Legal, né?! Como diria um amigo meu que é advogado, "isso dá um processo trabalhista espetacular". Contudo, diante da disseminação dessa relação "trabalhista" e com tanta gente inclusive preferindo essa modalidade de trabalho, como faz? Difícil acontecer alguma coisa. Ninguém quer mexer com peixe grande, dependendo da grandeza do peixe.

Só nesta semana duas empresas me ligaram oferecendo esse tipo de prestação de serviço. Confesso que fiquei interessada por uma das propostas. Mas, só de pensar que eu teria de correr atrás desses esquemas de CNPJ, nota fiscal e das burocracias advindas disso me dá preguiça e medo. Medo de não conseguir lidar com esse tipo de coisa e me prejudicar. Diante das coisas que estão acontecendo comigo, eu não poderia ficar recusando muita coisa, não. Por sorte eu consegui uma bolsa de mestrado da Capes – o que não é lá aquela coisa –, logo, quero algo para complementar a renda. Claro que faço muitos freelas, mas freela, para mim, significa prestar o serviço da sua casa, da padaria da esquina, do café do rua. Não essa palhaçada de ser um funcionário de mentirinha.

Além das piadas propostas, as empresas com regime CLT também têm seus "babados". Nesta mesma semana, fiquei sabendo, graças a colegas de grupos de e-mail sobre a profissão e o mercado editorial, que a empresa para a qual eu faria um teste/entrevista explora seus funcionários da maneira mais descarada: horas extras quase todos os dias e sem remuneração, banco de horas que nunca pode ser utilizado (ora, se todo dia tem hora extra, como a pessoa pode usar o banco de horas, não é mesmo?), baixo salário e sem perspectiva de crescimento. Desisti na hora. Diante da opinião unânime de três pessoas que lá trabalharam, não quis entrar numa enrascada.

Há umas duas semanas fui chamada para trabalhar numa editora. Parecia ser um lugar agradável e com pessoas cordiais. Até aí, tudo bem. O problema é que trabalhar em empresa familiar e de pequeno porte não há muita perspectiva de crescimento. Além disso, não tenho nenhuma familiaridade com a temática das obras de lá; nada contra quem gosta, até estava disposta a aprender coisas do gênero para me familiarizar. No dia em que eu iria começar na editora, eu fui assinar o termo de concessão da bolsa Capes. Achei que foi a melhor decisão por hora.

Mesmo tendo a bolsa, eu não desisti da busca pela minha realização profissional. Não tenho problema nenhum em abrir mão da bolsa, caso encontrar algo bacana. Afinal, como disse, coisas pelas quais estava esperando logo acontecerão (e tenho fé disso). Não acho justo estudar e não poder trabalhar com registro em carteira. Os órgãos de fomento ainda não entendem a realidade dos estudantes de pós-graduação do país. Há alunos que já são casados, com filhos e com contas a pagar. Somente a bolsa não é viável, ainda mais numa cidade caríssima como São Paulo. O que acho justo é procurar e encontrar um lugar que tenha uma proposta, no mínimo, decente. Eu estudo (e muito) para alcançar esse objetivo. Só que está complicado. Tem horas em que "a mina pira".

Acredito que todo mundo tem o direito de trabalhar decentemente, num lugar decente e com os todos os direitos previstos em lei. Será que terei de ficar lutando contra a maré da terceirização até encontrar algo com renda fixa? Será que estou pedindo demais? Será que terei de ficar ouvindo exaustivamente "Você emite nota?".

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Ironia da vida?

Ontem, ao folhear uma dissertação na qual eu precisei consultar a bibliografia, li algo do tipo nos agradecimentos:

Agradeço à minha família, amigos, etc. e tal, ao orientador e membros da banca de qualificação, blá-blá-blá. E agradeço muito ao Fulano de Tal, diretor de pós-vendas da Citroën Brasil, que reduziu minha jornada de trabalho durante o período de pesquisa. Sem isso, ela não teria sido viável.

Há uns três meses, me disseram:

"Então, chegamos à conclusão de que o teu perfil não condiz com o que precisamos. Você é muito acadêmica, faz teus cursos etc. Em relação a teu trabalho, nada a queixar, pelo contrário. Mas, infelizmente, precisamos de alguém que esteja à nossa disposição. Por favor, pode passar no RH e acertar tuas coisas."


A pergunta é: Afinal, quem é que tem "visão de mercado"???

Engraçada a vida, não?! Nem sempre.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Multiculturalismo

Adoro torneios que envolvem muitos países. Vale Copa do Mundo, Olimpíada, Pan-Americano. A minha febre do momento é a Eurocopa, que está rolando lá na Polônia e na Ucrânia. Me pergunto o porquê de ser em países tão distintos e distantes. Sei lá, poderia ser na Polônia/República Tcheca ou Ucrânia/Bulgária ou na Polônia somente. Penso mais pela questão da proximidade mesmo. Vai entender essa escolha da organização do Michel Platini. Enfim, isso não vem ao caso.

O que vem ao caso, na verdade, é a sensação que os jogos entre os países europeus provoca. Me admiro demais com a forma na qual as partidas são organizadas, com a técnica dos times (e disso não entendo muita coisa), entre outras coisas. Mas o que me admira realmente é a paixão com que jogadores e torcidas encaram esse torneio. Porém, é uma paixão que não é burra. Uma paixão respeitosa. Se o time ganha, claro, a torcida vibra. Se ele perde, a torcida o aplaude, sai do estádio de cabeça baixa, vai pra sua casa e, no dia seguinte, sua vida segue o rumo normal. Já sabemos muito bem o que acontece por aqui, mesmo com um time ganhando ou perdendo. Sem comentários.
 
Percebo essa paixão na forma como a torcida se comporta no estádio e na forma como empurra o time de seu país. Já pelo time percebo um respeito ao país pelo qual está representando. Na execução dos hinos nacionais, ou vejo alguém cantando com fervor ou numa postura muito séria para com o momento. Ou até mesmo o time todo abraçado, como se vê na seleção alemã. Acho isso muito bonito, de verdade. Vemos isso com os jogadores brasileiros? Bom, a começar que muitos mal sabem a letra do nosso hino nacional...
Além dessa postura dos times europeus, algo muito interessante vem me chamando a atenção nesse campeonato: a diversidade étnica dos jogadores. Até alguns anos atrás, era impensável ver jogadores de origem africana, árabe, até mesmo brasileira em seleções europeias. Em times locais isso sempre foi presente, porém, nas seleções? Isso é claramente o retrato de um continente multicultural, onde é possível, sim, construir uma vida fora de sua terra natal.

Para exemplificar, nos times de Portugal e Croácia (hein?!) há brasileiros naturalizados; o time francês é composto boa parte por descendentes de argelinos, marroquinos e tunisianos; no inglês, também; no tcheco (fiquei surpresa) há africanos; um dos titulares da Itália também é africano (aí fiquei BEM surpresa); quem são alguns dos titulares da Alemanha? Diz algo nomes como Özil, Khedira, Boateng, Klose e Podolski? São alguns que eu me lembro no momento. Me chamou muita atenção no jogo de hoje entre Alemanha e Grécia a postura dos jogadores da seleção alemã que são de origem estrangeira: eles se abraçam junto aos outros companheiros, porém não cantam o hino nacional. Acredito que seja uma forma respeitosa para com a própria origem. Inclusive há dois irmãos (os Altintop) jogadores na Alemanha que não cantam os hinos de Alemanha e Turquia quando estes se enfrentam, pois eles possuem dupla nacionalidade e podem ser convocados por ambas as seleções.

Além dessa reflexão vinda por meio de jogos de futebol, a matéria de pós-graduação que fiz neste semestre tratava justamente de questões de interculturalidade. A interculturalidade é um estudo um tanto recente de culturas em "choque" num mesmo país ou na comparação entre duas culturas distintas. Tal estudo vem da antropologia, mas agora está ganhando contornos na psicologia social e na linguística, por exemplo. Como eu "nem" me interesso pelo tema, a Euro 2012 está sendo um prato cheio para análises e estudos.

Continuarei acompanhando os jogos com entusiasmo, torcendo para que a Alemanha (que não é mais um time de robôs, que bom) chegue à final!

Quando Nietzsche encontrou Mãe Dinah - parte 2

Devo dizer que ando bastante maleável. Até demais, creio eu.
Quem diria, eu, uma espécie de Nietzsche versão feminina e mais light, ter passado por uma experiência, por assim dizer, xamânica?! Pois é. Digo "por assim dizer" porque xamanismo "true" acontece no meio do mato. Eu não fui para o meio do mato, mas aqui mesmo, em São Paulo.
Fui vencida pelo cansaço  da insistência e pela sensação de desorientação. Quem me conhece sabe que não sou lá adepta a qualquer coisa muito abstrata, que dirá de coisas a serem ingeridas. Porém, ultimamente, talvez devido ao momento, tenho me surpreendido bastante. Eu tomei algo que é chamado de "vegetal", "daime", "ayahuasca". O que posso dizer é: se é um negócio que traz paz e reflexão, que não te prejudica fisicamente, por que não? Se não afeta negativamente ninguém, não vejo mal algum; a não ser quando isso (ou a sensação que qualquer rito traz) faz o sujeito de escravo.
Se isso realmente funcionou ou funciona, eu não tenho a menor ideia. Só posso dizer que não tive aquela sensação de paz, tranquilidade e reflexão tão propagada por quem faz uso dessa bebida. Pelo contrário. Se aquilo fez efeito no meu organismo, trouxe um turbilhão de pensamentos que me assolam neste momento, o que me deixou muito perturbada. Não se vê nada, mas é como se fosse um sonho: você tem a sensação de estar participando de alguma coisa. No meu caso, fiquei muito revoltada e angustiada em "ver" diversos rostos de pessoas com as quais eu trabalhei no último lugar, tanto de quem eu gostava como de quem eu não gostava. Por quê? Mas por que justamente essas pessoas? Fiquei me questionando se isso ainda me afeta. Provavelmente, sim. Em seguida, fui tomada por um turbilhão de pensamentos em relação à tomada de decisões acerca de trabalho e estudo. Parecia uma coisa martelando na minha cabeça: "decisão", "decisão", "decisão". Confesso que fiquei meio desapontada, pois tudo o que eu menos queria pensar naquele momento era em coisas incômodas. Além disso, no dia seguinte, fiquei com uma sensação física péssima, a ponto de não conseguir ver a luz do dia, de tanta dor de cabeça e mal-estar.
Se isso me auxiliar (pelo menos um pouco) mais para a frente nessas questões que me atormentam, ótimo. Se não, foi bom conhecê-lo, mas, parei por aqui. Não gosto de me sentir dependente de nada para buscar minha plenitude.


Outro exemplo de maleabilidade foi eu ter ido a alguém que lê a mão. Sei que o lance se chama quiromancia, mas, e a pessoa que lê a mão é o quê? Maga (o) patalógica (o)? Vou pesquisar.
Eu sempre tive muita curiosidade, apesar de não acreditar. Mas o engraçado é que eu achei interessante essa experiência! Claro que não especifico aqui o que foi dito, mas digo que não foi clichê, não. Aquela coisa de discurso vazio que os trambiqueiros adoram usar, sabe?

Idas a taróloga, pessoa que lê mão, a ritual xamânico... e o que mais?

Sei lá, se coisas desse naipe trazem bem-estar e felicidade momentânea verdadeiros às pessoas, não há mal algum. O lance é procurar ver as coisas de uma forma menos estereotipada.

Nossa, agora me surpreendi com esse último parágrafo. Sério.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Encruzilhada

Nossa, faz muito tempo que não posto nada por aqui! Não por falta de vontade, mas por falta de tempo mesmo. Uma vergonha, pois havia prometido a mim mesma que sempre escreveria o que desse na telha.

Esse último mês e meio foi um tanto turbulento - no bom e no "não tão bom assim".
Em relação ao "bom", como postei anteriormente, eu participei do IV EPED lá na USP. O EPED é o Encontro de Pós-Graduandos em Estudos Discursivos. Nele acontece diversas sessões de comunicação com nós, pós-graduandos, apresentando suas respectivas pesquisas. E como havia escrito antes, estava bem apreensiva com o evento, pois esperava certa hostilidade (como é de certo praxe na USP). Porém, foi bem o contrário. A começar pela lista de sessões, na qual foram incluídos, no mesmo horário, eu e um grande amigo meu. Já comecei a sentir uma tranquilidade, pois sinto-me mais à vontade com amigos no meio. E no dia da apresentação a sala estava praticamente vazia! O que me deixou mais tranquila ainda, porque a probabilidade de fazerem observações mirabolantes é menor! Tudo correu tranquilamente, todos apresentaram seus trabalhos e o clima era bem cordial. Eu era a mais "alienígena" da turma, pois era a única de uma língua estrangeira, e ainda mais do alemão! Mas, quando apresentei a "semelhança" entre as revistas Época e Focus, o pessoal "se soltou". Em seguida, houve a conferência de encerramento com a professora Leonor Lopes Fávero, uma lenda dos estudos discursivos no País. No final houve até um lanchinho simpático e um "convite" para participar da organização do evento do ano que vem.
Ah, e durante esse tempo sem postar, um artigo meu foi publicado numa revista científica! Agora estou começando a sentir que sou uma pós-graduanda strictu sensu. O link da revista da UFF é: www.revistaliteris.com.br.

Quanto ao "não tão bom assim", prefiro não mencionar o que rolou por questões éticas. Contudo, o que aconteceu está me fazendo refletir acerca de algumas coisas que são (ou não ou que eram) importantes para mim. Fase de transição é complicada. Tenho um pouco de dificuldades em lidar com ela. Enxurradas de dúvidas vêm e a mente não para: parar ou continuar do jeito que está? Mercado ou academia? Sossego ou agito? Concretizar um sonho ou encarar de vez a realidade? A cabeça ferve, mas, ao mesmo tempo, é melhor manter a calma e a paciência. É difícil. Alguns amigos me aconselham, tentam ajudar com questões mais práticas, mas sei que cabe só a mim estabelecer uma decisão.
Entretanto, o que me mata é a tal da espera. Espera por datas, espera por causa de burocracias, espera por isso, por aquilo... e para uma ariana com ascendente em gêmeos como eu, isso é a tortura! Sei que esse texto está meio truncado, mas prefiro deixar assim. Quem sabe do que está acontecendo entenderá os "truncamentos".
Em relação ao fato, agora posso dizer que, de certa forma, foi bom ter acontecido. Pois já estava saturada e não tinha coragem de assumir e dar um "chega pra lá" na situação. Fiquei chateada, sim, mais pela questão do bendito do ego. Não tem jeito. E pessoas introvertidas como eu são um tanto egoístas. Mas tenho a plena consciência de que sou capaz de muito mais. MUITO mais. Se isso não tivesse acontecido, com toda certeza estaria ainda mais irritada e sem perspectivas - porque eu não tinha perspectivas além daquilo.
E viver sem perspectivas, para mim, é uma das piores coisas da vida. Eu diria que não estou sem perspectivas, mas sim numa encruzilhada. Cabe a mim atentar para todos os lados e escolher qual caminho seguir.


segunda-feira, 9 de abril de 2012

Temporada de bons filmes

O fim de março e o começo deste mês de abril estão com boas estreias nos cinemas. Não sou especialista no assunto – e acho que a maioria dos "especialistas" em cinema um porre –, mas deixo minhas recomendações para meus amigos (daqui e de fora). Dann, let's go (por ordem de "assistir"):

1. Raul - o início, o fim e o meio  - de Walter Carvalho
Quem me conhece sabe que eu não suporto as músicas do Raul Seixas. Depois desse documentário, passei a detestá-las mais ainda, como também a persona do "Raulzito". Nunca gostei da figura dele (sei lá, o aspecto feioso e nojento), e a lembrança da mídia bombardeando no dia de sua morte é bem forte.Porém, muito porém, o documentário é muito, muito bom! A direção é bem cuidadosa com os temas sobre a trajetória do cara e na escolha dos entrevistados, que dão depoimentos emocionantes. Para quem é fã, o filme só confirma aquilo que se sabe de sua vida; para quem não é, como eu, também não traz muitas surpresas, mas a força do tom emocional e realista do documentário ganha quem o assiste.




2. Um método perigoso - de David Cronenberg
É meio que o contraponto de um filme chamado Jornada da Alma. O diretor canadense conta a história mais do que conhecida do relacionamento entre os colegas de psicanálise (e de tutoria, por que não?) Sigmund Freud e Carl Gustav Jung e do relacionamento que este teve com sua paciente (e futura colega) Sabina Spielrein. Para quem assistiu ao "Jornada", "Um método" é mais voltado à relação entre Jung e Freud, do início à ruptura. Digo que gostei mais do "Método" do que da "Jornada", pois aquele trata com mais fidelidade a relação de tutoria entre Freud e Jung; o "Jornada" trata essencialmente do caso de Jung com Sabina.
O trio de atores estão bem, principalmente o segundo "bola da vez" ( o primeiro, dizem, é o tal do Ryan Gosling, que pra mim é X), o cara de Heidelberg, Michael Fassbender (que fez Bastardos Inglórios, do Tarantino), no papel de Jung. Freud é o Viggo "Aragon" Mortensen (eu acho ele tão bom ator, pena que é lembrado por ter feito Senhor dos Anéis), esquisito de lentes escuras, mas só. E Sabina é a Keira Knightley, que também manda bem, mas desconheço seus papéis. Para quem é leigo em psicologia, é um bom filme para entender certos aspectos dessa ciência. E, desta vez, Cronenberg fez um filme certinho, linear, nada comparado ao Marcas da Violência, por exemplo.




3. Xingu - de Cao Hamburger
Mais aguardado que noiva no altar. Pelo menos para mim, haha. Acho que não estou exagerando, pois semana passada só se falou nisso nos cadernos de jornal e sites de cinema. Tanto que fui na estreia, sexta-feira passada. Peguei fila na bilheteria e sala de exibição cheia. Bacana.
Para quem não conhece (principalmente os amigos que moram fora), o enredo trata da saga dos irmãos Villas-Boas (Orlando, Cláudio e Leonardo) na expedição de desbravamento do Centro-Oeste brasileiro que encontra os índios da tribo X, que, por sua vez, encontra os da tribo Y, Z etc., que nunca tiveram contato com o branco. Os irmãos veem a situação dos índios se complicarem por conta do "avanço" das estradas brasileiras e das fronteiras agrícolas vindas com os sulistas e resolvem criar um enorme "Estado" de tribos indígenas, o hoje conhecido Parque Indígena do Xingu. Houve muitos percalços na idealização e na concretização do parque, inaugurado em 1961 no governo de Jânio Quadros.
Pessoalmente, é um filme que muito brasileiro tem que conhecer. Conhecer não só a história recente do País, como também a situação da causa indígena e o idealismo dos grandes brasileiros Villas-Boas. Espero que tenha boa bilheteria, pois o elenco é ótimo (e chama a atenção, pois é composta por atores globais, exceto o João Miguel, que é mais do cinema, e que faz o papel principal) e a carga épica do filme prende a atenção do espectador.

#ficaadica

Primeira vez que não esquecemos

Como dizem por aí, a primeira vez "a gente nunca esquece". E não mesmo.
Segunda-feira passada, dia 02/04, fiz minha primeira participação num evento acadêmico desde que entrei no mestrado. Era um simpósio da área de estudos interculturais (grupo de pesquisa do qual faço parte) na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói/RJ. O evento fora marcado desde o final do ano passado, portanto, quando a data se aproximou, o frio na barriga, a aceleração do coração e a tremedeira começaram uns dias antes. Engraçado que estava mais ansiosa pelo fato de garantir as passagens, a hospedagem e a data de retorno a SP. Em relação à apresentação em si, até que estava tranquila - por incrível que parecesse!
A viagem foi tranquila (porém longa, pois sou peão e fui de ônibus!), na companhia de dois colegas de pós, e agradável. A apresentação correu bem, falei em seguida da minha orientadora, e o tema de minha pesquisa gerou um pequeno debate no final do horário de nosso grupo. Confesso que me senti um pouco intimidada diante as perguntas dos professores de outras universidades que estavam presentes, até porque era minha primeira vez em evento de pós-graduação e fora de SP, mas devo ter respondido o mínimo a eles! Houve um momento em que minha orientadora me "socorreu", inclusive.
Mas reparei em algo que não vejo muito por esse lado esquerdo da Via Dutra: a descontração e o despojamento dos professores da UFF e de Minas Gerais. Pessoas muito simpáticas e cordiais, nada arrogantes, que nos deixaram à vontade no dia do evento, nos acompanharam no almoço, e nos (pelo menos para mim) deram dicas importantes a respeito de nossos trabalhos. Coisa que falta por aqui. Aliás, são coisas que a Universidade de São Paulo deveria aprender.
Na semana que vem terei outra apresentação de meu trabalho. Desta vez, na própria USP, no Encontro de Pós-Graduação em Estudos Discursivos (EPED). Confesso que estou muito mais apreensiva para o EPED do que para o GIEL. A artilharia será mais pesada.
Enfim, que venha o EPED!

terça-feira, 20 de março de 2012

Admitindo fraquezas

O que eu abominava agora estou sentindo na pele: uma sensação de angústia e fraqueza. Sempre abominei demonstrar ou admitir qualquer tipo de fraqueza que me acomete. Sempre achei que isso era coisa de fracos, mas agora estou percebendo que não é bem assim. Admitir sentir-se fraco, impotente ou angustiado diante de algo não é um defeito, pelo contrário.
Dizem que a vida é feita de ciclos, e determinados ciclos são fechados em determinadas idades. Pensando bem, esotericamente, astrologicamente, sei lá, pode ser que eu esteja fechando um ciclo. E dizem também que essa fase requer mudanças e muita reflexão - o que traz à tona esse sentimento de angústia. Se bem que sempre fui um tanto angustiada em relação a tudo. Talvez por isso tenha escolhido o curso de Letras e ser revisora.
Acredito piamente que o modo como somos criados e as atitudes daqueles de quem recebemos nossa educação interferem diretamente na maneira como lidamos com as coisas, em todos os aspectos da vida - seja pessoal, profissional, na vida em sociedade. E isso pode ser bom e ruim. O problema é que estou notando demais o lado ruim disso. Será que por perceber o "lado ruim" eu estou buscando algo que tenta "consertar" isso e, assim, eu possa caminhar conseguindo eliminar os percalços? Será que essa sensação de angústia poderá me proporcionar uma espécie de autoindulgência e por meio da qual eu consiga me perdoar? Ou será que o que estou buscando pode ser diferente do que estou pensando?

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A hostilidade primitiva do mundo

Desde meados de janeiro, devido a mais uma daquelas "ações de marketing", recebo exemplares da Folha de S. Paulo sem ter pedido. Coitados, eles ainda acreditam que, assim, reconquistarão antigos assinantes ou angariarão novatos. Enfim, já que recebo, leio o que me interessa (o que é muito pouco, diga-se de passagem).
Apesar das inúmeras barbaridades que são publicadas e dos jornalistas (e pseudos) e colunistas que deveriam voltar ao ginásio, certas pérolas surgem e fazem meu dia menos pior no quesito leitura. Normalmente, as tais pérolas são escritas ou por acadêmicos ou por escritores de profissão. Novidade.
A pérola lida ontem foi o artigo do filósofo Luiz Felipe Pondé (de quem, apesar de não concordar com algumas coisas das quais ele fala, gosto bastante de seus artigos), que é professor da PUC.
No artigo, dentre outros pontos, ele cita a obra do Albert Camus. São citadas duas obras capitais do autor argelino: O Estrangeiro e o Mito de Sísifo. O Estrangeiro eu li em 2002 ou 2003, na época em que fazia cursinho e tinha tempo para ler o que realmente me interessava e gostava. É um dos meus livros favoritos até hoje. Já o Mito de Sísifo, ainda não o conheço.
E é do Mito de Sísifo uma frase a qual Pondé menciona em seu artigo: algo como "suportar a hostilidade primitiva do mundo". No texto, o autor falava sobre como muitos adultos de hoje têm relutância em crescer e enfrentar a hostilidade do mundo, ao mesmo tempo que existem jovens que, mesmo com a pouca idade, suportam a "hostilidade primitiva do mundo". Me identifiquei demais com o excerto. Aliás, me identifico demais com a obra do Camus.
Fazendo uma breve "recapitulação" do que já vivi, posso dizer que, apesar dos pesares, estou conseguindo suportar a hostilidade, e que, às vezes, faço parte dela, querendo ou não. Mesmo com relativa pouca idade, já passei por tantas coisas que não me surpreenderia se eu pertencesse à turma dos mais hostis. Mas talvez a minha "natureza humana" não seja assim. Mas bem que eu gostaria! E provavelmente por não pertencer à turma, tenha meus surtos de angústia e estresse, minhas noites de sono mal-dormidas devido à ansiedade e por achar que nunca estou correspondendo àquilo que eu quero fazer da melhor forma.
Suporto a hostilidade do mundo, porém não suporto a minha própria hostilidade? Seria isso? Já me disseram algo do gênero. Pode ser. Contudo não conseguiria sobreviver se eu não fosse assim. Sei lá, não consigo ser alheia ao que acontece ao meu redor (quando me interessa, claro) e tampouco não refletir sobre o que me rodeia. Às vezes, infelizmente (ou não), gostaria de menos reflexiva, menos hostil e mais "babacona". Quem sabe, assim, conseguiria suportar melhor a tal hostilidade do mundo do Mito de Sísifo?

Para quem ainda não conhece as obras:


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ansiedade que mata

Ser ansioso é insuportável. Desde que me conheço por gente, sou uma pessoa muito ansiosa. Daquelas que não consegue dormir direito à noite quando tem algo importante para fazer no dia seguinte, principalmente se for pela manhã (vai entender) - uma consulta médica, algo para pagar antes de ir ao trabalho, ir a algum lugar novo, enfim, algo do gênero. Tenho sério problema em acordar mais cedo do que o costume, a ponto de ficar feito zumbi, desconcentrada e irritada pelo dia todo. Se alguém souber de algum psicólogo, terapeuta, analista que possa me dizer que ansiedade louca é essa que me irrita, me avise, por favor.
O ápice da minha ansiedade se deu na quinta-feira passada, dia 02. Dias antes, meu amigo e também mestrando da USP me avisou de um evento da nossa área de estudo que acontecerá por lá em abril. Como havia tempo para redigir um resumo do trabalho que seria apresentado, eu o fiz e enviei à comissão organizadora do evento. Fiz o possível para deixar o texto nos moldes que o evento exige e assim o mandei. A comissão aceitou meu resumo com posterior apreciação de um parecerista (que é um pesquisador da área de estudo que diz se o trabalho tem relevância ou não). Até aí, tudo bem.
Ao visitar o site do congresso, vi que o resultado dos trabalhos aceitos seria divulgado no dia 02/02. Justo no dia que eu acessei o site sem compromisso. Imediatamente, mandei e-mail para meu amigo perguntando se o trabalho dele foi aceito. Em sua resposta, ele me disse que sim. Isso era o final da tarde, e eu não havia recebido e-mail algum. Logo, começou minha paranoia: de que eram 18h, que o prazo se esgotou, que meu trabalho estava fora dos parâmetros do evento, que meu texto estava uma droga, que minha pesquisa não é interessante, não tem relevância, que tem um monte de pesquisa tosca perto da minha e que tais pessoas apresentaram seus trabalhos no ano passado, enfim, eu pirei. Fiquei o restante do dia chateada, pensando em como deveria ter escrito, como fui burra, todos os adjetivos possíveis. À noite, dá-lhe choradeira no ombro do marido que, com toda a paciência do universo (que ele tem mesmo), me pedia calma, me dizia que, talvez, tivesse "dado pau" no site, que a demanda de trabalhos está grande, etc., etc. Não adiantava. Quanto mais eu falava, pior era, e mesmo ele me acalmando, foi difícil ficar na normalidade.
Coitado, eu sempre resolvo resmungar à noite, perto da hora de dormir. Talvez por ser mais ativa à noite, sei lá, talvez por me sentir mais confortável em casa, com alguém para conversar, eu resolva botar a vitrola para tocar. Haja paciência! Claro que, naquela mesma noite, dormi pessimamente e acordei no dia seguinte pior ainda. Ainda mais sexta-feira, dia no qual tenho tendência a ficar mais emputecida ainda por questões específicas. Contei isso a uma amiga, que me sugeriu mandar um e-mail à organização perguntando se meu trabalho foi aceito ou não e o motivo de eles não terem aceito. Mandei o tal e-mail e, em seguida, recebi a resposta da organização dizendo que o site estava sobrecarregado e que eles não enviaram todas as cartas de aceite para os participantes. Primeiro "tome, sua ansiosa". Daí, fiquei um pouca mais aliviada, mas já crente de que meu trabalho não iria ser aceito. No sábado pela manhã, minha surpresa: meu trabalho foi aceito para ser apresentado no congresso! Segundo "tome, sua ansiosa". Um e-mail em PDF, todo gracioso, dizendo que minha pesquisa tem relevância para o evento e que seria um grande prazer ter minha presença ao apresentá-la. Terceiro "tome, sua ansiosa e idiota!"
Depois disso, fiquei toda contente, claro, e envergonhada com tamanha babaquice da minha parte. Eu sempre tenho desses "acessos" de ansiedade. Para mim, se o resultado sai no dia, é no dia 2; eu nunca acho que existe a possibilidade de dar problemas ou algo assim. Um tanto intolerante da minha parte, não?
Enfim, meu trabalho será apresentado em abril, justo na semana do meu aniversário. Era só o que faltava apresentá-lo no meu dia! =)
Mas quem souber de algum terapeuta, psiquiatra, ou algo do gênero, me avisem, OK?!

Aqui está a carta que me enviaram:


IV Encontro de Pós-Graduandos em Estudos Discursivos da USP
Discurso em suas pluralidades teóricas
CARTA DE ACEITE
Prezado(a) Ellen Barros de Souza,
É com satisfação que confirmamos o aceite de seu trabalho intitulado A construção da imagem política no discurso midiático, para o IV
Encontro de Pós-Graduandos em Estudos Discursivos da USP – IV EPED que acontecerá no prédio da Faculdade de Letras da Universidade de São
Paulo, entre os dias 17 e 20 de abril de 2012. Ressaltamos a relevância de sua pesquisa para esse evento que visa a intensificar os diálogos entre as
diferentes abordagens teóricas acerca das noções teóricas sobre discurso.
Promovido pelo Programa de Filologia e Língua Portuguesa da USP, o IV EPED, além de congregar pesquisas de pós-graduandos da USP,
reunirá professores doutores altamente especializados no tema, por meio de conferências e mesas-redondas.
Dessa forma, aguardamos a sua importante presença no IV EPED.
Atenciosamente,
Comissão

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ser marqueteira de mim mesma

De uns tempos pra cá, venho tendo surpresas em relação a certas escolhas e atitudes que estou tomando.
Uma delas é tentar aprender a contar até 100 quando ouço alguma escrotice, principalmente de quem tenho certa aversão. Juro que está sendo muito difícil.
O que está sendo menos difícil, porém, é a quebra de preconceitos em relação a certas áreas de estudo e (por que não?) de comportamento. Por incrível que pareça, no final do ano passado, resolvi novamente me matricular num curso de férias – o qual a empresa em que trabalho custeia. Desta vez, nada (aparentemente) muito voltado à minha área, pois não tinha muita opção, por isso, procurei algo relacionado à oratória, apresentação em público, até porque terei uma dissertação a ser defendida daqui a dois anos. Nada. Todas as vagas para os funcionários tinham sido preenchidas. E agora? O que me restou foi um curso chamado "Marketing Pessoal - Valorizando sua Marca Pessoal", para o qual me matriculei um tanto receosa, mas sentindo que, talvez, aquilo pudesse agregar alguma coisa à minha pessoa. Sempre tive uma certa aversão a tudo que é relacionado a dinâmicas em grupo, ouvir frases feitas do tipo "Qual é o seu maior defeito? E qual é a sua maior qualidade?" (bem criativas, não?) e ser toda sorrisos sem querer ser. Portanto, fui com os dois pés atrás ao curso, achando que iria encontrar executivos intragáveis, marqueteiros semiendeusados, pessoas da área de RH e comercial com fisionomias bem falsas, entre outras caras. De cara, além de mim, revisora de textos, havia médico, engenheiro, estudante de economia. Fantástico.
Encontrei um ambiente bem diferente. Os dois ministrantes, de um acolhimento fora de série, fizeram com que todos se sentissem à vontade; inclusive eu, a mais "estranha" dentre os participantes em suas diversas áreas. Estranha por não pertencer a qualquer uma das áreas mencionadas no parágrafo anterior - o que é comumente visto em cursos desse tipo e na instituição onde foi realizado -, contudo, aprendi a utilizar minha "estranhice" ao meu favor. Porque não é todo mundo que conhece o que faço, e todo mundo que conhece o que faço normalmente não associa a minha profissão ao mundo do marketing pessoal e subgêneros. Mas é por esse viés que percebi o quanto é importante conhecer ferramentas desse naipe para valorizar tanto meu lado profissional quanto o pessoal! Que o mercado em que estou é extremamente cheio de gente competente que está sem trabalhos (freelas ou fixos), mas, ao mesmo tempo, de gente nem tão competente assim que está atolado de trabalhos e, mesmo assim, reclamando (OK, temos isso em todas as áreas, mas na editorial e  jornalística isso parece ser gritante), ou não, pelo contrário, fica se gabando.
Na semana passada, conheci pessoas ótimas, de grande receptividade e prontas a estabelecer contato. Conheci gente com muitos adjetivos, e como é bom aprender a perceber isso nos outros. Porque vendo os outros, você também se reconhece. Sei que é meio clichê, mas eu tinha pouquíssima noção disso. E a maior surpresa é saber o que você transmite para o outro. Mais fantástico ainda! Eu sempre tive muita vergonha de ser elogiada (ainda mais em público) e nunca quis botar muita fé em qualidades que me enaltecem. Durante o curso, certas características foram reafirmadas e soube de outras, para minha surpresa. Dentre elas, a de que sou simpática. Eu nunca fui exemplo de simpatia, pelo contrário: sou mal-humorada pela manhã, sou rude com quem não gosto, faço cara feia sem pestanejar, xingo e dou cotoveladas em gente folgada no metrô, sou angustiada com gente burra, enfim, como eu transmito algum tipo de simpatia? Sou como aqueles animais (acho que cobras, lagartos, jacarés) que mudam a temperatura da pele conforme o ambiente: modulo meu humor, simpatia e animação conforme o ambiente em que estou. Talvez seja por isso que fui considerada uma pessoa simpática pelos colegas. Mas diante do acolhimento, quem não seria?
Quebrados os preconceitos, é hora de investir em mim mesma além de cursos, palestras e tecnicismos. É hora de valorizar o que tenho de melhor, sem empinar o nariz. Sei que tenho muita competência naquilo que faço. É fato que o "bendito" mercado é injusto, mas, aos poucos, vou alcançando as minhas metas. É tempo de se afagar, não de chicotear. Sei que, com a ajuda dessas ferramentas, além dos saberes técnicos, serei agraciada - e em breve!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O que vale a pena em Bonito

Como prometido, elenco o que achei de mais bacana em Bonito, dentre passeios, restaurantes, compras etc. E, claro, algumas fotos.

Onde (e o que) comer:

- Pantanal Grill: de longe, o melhor restaurante de todos os que visitamos. É especializado em carnes exóticas, e óbvio, degustamos a carne de jacaré ao molho de urucum (fabuloso), a um preço decente. Lá tem a tal cachaça de guavira.
- Se não me engano, Arco-Íris: um lugar simples, que é frequentado mais pelos moradores. Paga-se R$ 15 para almoçar à vontade, incluindo sobremesa. O arroz-carreteiro é uma coisa.
- Pastel de jacaré: criado por uma catarinense que se casou com um guia local. Também é ótimo.
- Cantinho do Peixe: o nome já diz tudo. Comemos um pintado ao molho de laranja e creme de milho que é uma beleza. Pena que não tem ar-condicionado, porque o calor castiga.
- Sorveterias (várias): para provar sabores do Cerrado, como guavira, umbú e bocaiuva. Lá conheci a famosa marca Delícias do Cerrado. Pena não ter chegado por aqui.
- Casa do João: Fala-se tanto desse lugar que estávamos esperando algo bem legal. De fato o visual da casa é bem legal, e toda a família do João trabalha no restaurante. O próprio João vem falar com os clientes. A sacada é ele ter aproveitado os cômodos da casa e fazer deles uma loja. Só que tudo muito caro, e encontra-se as mesmas coisas no centro da cidade por preços pela metade. A comida não é lá aquelas coisas, faltou um tempero básico na traíra. Uma cerveja é bem cara: R$ 7,50. É mais marketing que qualquer outra coisa.

Passeios:

-Abismo Anhumas: Não fui, porque é um rapel feito num abismo de 72 metros de profundidade e, ao fundo, existe um lago para mergulho. Tem de ter treinamento de ambos os esportes. Caríssimo, mas é, junto com o Rio da Prata, o passeio mais bacana de Bonito.
- Rio da Prata: pelos motivos que citei ontem.
- Rio Sucuri: a mesma coisa.
- Gruta do Lago Azul: idem.
- Grutas de São Miguel: para quem gosta de coisas estranhas, é um prato cheio.
- Balneário Municipal: o lugar mais barato, mais popular e com locais para nadar tão bonitos quanto os outros balneários da cidade.
- Estância Mimosa: Também não fui, mas para quem curte cachoeira...
- Boca da Onça: Pela longa trilha, pena que não fui.

Compras:

- Bicho Bonito: Para quem quer comprar camisetas temáticas com belas estampas e tecidos de boa qualidade.
- A tal loja que mencionei anteriormente que esqueci o nome! É uma graça, há de tudo e mais um pouco. A vendedora que fica por lá no começo da tarde é de uma simpatia...
- Uma loja indígena que não sei o nome, mas é a única totalmente voltada ao tema; fácil de se encontrada. Artigos com preços decentes.
- Iguana: É mais "burguesa", mas possui camisetas de boa qualidade.

Algumas fotos:

Vista aérea do rio Sucuri

Piraputanga


Pacu





Tamanduá-bandeira


Flutuação no Rio da Prata

Abismo Anhumas


Mergulho no Abismo Anhumas

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Bonitas impressões

Na última postagem, relatei meu desapego a toda aquela palhaçada que rola no mês de dezembro. Porém, fechei o mês da palhaçada (e o ano) com chave de ouro.
Desde agosto do ano passado, eu e o Schatz estávamos planejando a viagem de final de ano, como já está se tornando hábito nossas fugas da palhaçada. A princípio, queríamos ir para a Chapada Diamantina, mas não havia saída para a semana do Natal; a outra opção, Chapada dos Veadeiros, também não (vai entender); nos restava Buenos Aires - a qual recebe hordas de brasileiros nesse período, segundo nos disseram - ou Bonito - que havíamos pensado remotamente na possibilidade. Na comparação entre os dois destinos, o pacote para Bonito sairia relativamente mais em conta em relação a Buenos Aires, para ficarmos uma semana, ao invés de cinco dias na capital portenha. 
O dia da viagem se aproximava e estávamos bastante ansiosos, mas sem muita noção do que nos esperava pelas terras sul-mato-grossenses. Dia de embarque, a primeira surpresa: a companhia aérea que nos levou direto para Bonito é de uma pontualidade, limpeza e bom atendimento, dignos de aproximação com as boas companhias mundiais (diga-se Lufthansa). Chegando ao aeroporto, inaugurado em 2010, o calor escaldante nos recepcionava. É impressionante o fato de não suportar o calor que faz aqui em SP, mas o calor de outros lugares é perfeitamente aceitável (e mais saudável, talvez). O pessoal do receptivo nos esperava e nos encaminhou ao hotel: simples, porém bem equipado, com ótimo atendimento, e com um café da manhã maravilhoso! Logo no primeiro dia (ou melhor, tarde) na cidade, fomos à Praia da Figueira - uma praia  artificial formada pelo represamento das águas de uma antiga pedreira. O espaço aquático é pequeno, mas impressionantemente abarrotado de peixes (inseridos pelo homem) que ficam nadando ao nosso redor. Algo um tanto diferente para nós, que só vemos peixes na internet, em aquários e olhe lá.
No segundo dia pela manhã (BEM cedo, diga-se de passagem), seguimos em direção ao nosso primeiro passeio de verdade: a Gruta do Lago Azul. Que lugar magnífico! A famosa gruta possui aquelas formações geológicas esquisitíssimas e belas, como as estalactites; e o tal "lago azul" é uma ilusão de ótica, segundo o guia que nos acompanhou, de uma noção sobre o local absurda! Eu fiquei embasbacada - é muito mais do que se vê nas fotos de revistas e sites. Fiquei meio apreensiva no começo da caminhada, porque o lugar é bastante declinado (óbvio, é uma gruta!) e bem lodoso - o que muito favorecia uma derrapada daquelas. Mas, no final, deu tudo certo: saí ilesa do primeiro desafio.
O segundo desafio foi no mesmo dia, na parte da tarde: a flutuação no rio Sucuri. O nome já diz algo. Além do formato do rio possuir o do da temida, em certos momentos do ano ela pode dar o ar de sua graça. Sorte a nossa que fomos no verão, pois ela gosta de dar suas rastejadinhas no inverno. Fomos recepcionados com um farto e ótimo almoço (o que é de praxe em todas as fazendas nas quais são realizados esses passeios). [Antes que me esqueça: lá provei a tal "sopa paraguaia", que de sopa não tem nada! Na verdade é uma espécie de bolo de milho salgado, muito bom.] Em seguida, vestimos nossos apetrechos de mergulhadores e rumamos ao local da nossa preparação para o trajeto. Eu estava bastante empolgada em realizar a flutuação, porém me bateu um pânico quando coloquei a máscara e meu nariz foi tampado! Mesmo com o auxílio do guia, não conseguia fazer a respiração corretamente (Para quem não respira do jeito certo, isso foi uma constatação óbvia). Logo, ele não deixou eu nadar com os demais e fui no barquinho de apoio. Um tanto frustrante, mas contente em ver tanta beleza junta.
No terceiro dia, outro lugar que gostei bastante: as Grutas de São Miguel. Ao contrário da Gruta do Lago Azul, a de São Miguel é seca, com muito mais formações esquisitas e com muito mais fauna daquele habitat; inclusive vimos um pequenino morceguinho. Pena não termos visto a famosa coruja albina! Cada foto maluca que tiramos, devido àqueles paredões cheios de estalactites, estalagmites, espeleotemas e todos aqueles nomes estranhos. Depois de dois dias seguidos visitando grutas, cheguei à conclusão de que gosto desse tipo de aventura. 
Naquele dia tivemos a tarde livre, logo, fomos ao centrinho de Bonito e fazer o turismo clássico (comer, caminhar, comprar, caminhar de novo...). Come-se bem e por preço justo - inédito para lugares que vivem do turismo aqui no Brasil. Uma das grandes descobertas gastronômicas dessa semana: JACARÉ! Sim, apesar de não ser do local (pertence à região do Pantanal), a carne de jacaré é muito apreciada e foi consagrada pelos turistas, inclusive eu. Para comprar, existem diversas lojinhas de artesanato local, com muito artigo indígena (verdadeiramente indígena, não aquelas coisas horrendas que vemos nas feirinhas daqui e com preços absurdos), a preços variados. Achamos uma graciosa loja com objetos benfeitos e de bom gosto a ótimos preços - voltamos umas três por lá. E o que falar da simpatia e da cordialidade dos moradores da cidade? Claro que todo morador de cidade turística tem a obrigação de tratar bem o visitante, mas lá percebi que o tratamento que eles dispensam ao turista é verdadeiro, sem frescuras e bajulações.
A cidade é tão pequena que dá para fazer as coisas a pé ou de bicicleta. A diária de uma é uma marmota de R$ 15,00 e bicicletas em bom estado de conservação são levadas e retiradas onde você está. Alugamos duas e demos nossas voltas pela cidade, onde pode-se deixar a magrela em qualquer lugar e, quando voltar, ela estará lá, intacta. É um lugar em que as portas não são trancadas e as chaves dos carros são deixadas nos contatos. Para quem vive na neurose de metrópole, é um choque e tanto. Outra coisa que funciona por lá é o respeito ao pedestre: é só pisar na faixa que o carro dá a passagem - algo inacreditável por aqui. O engraçado é que os turistas que andam de carro por lá e que não convivem com essa regra a respeitam tanto quanto os habitantes da cidade. Em frente ao hotel onde ficamos hospedados há uma pista de cooper e uma ciclovia, locais onde pode-se ver um lindo pôr do sol. 
No outro dia, também muito cedo, fomos ao passeio de bote no rio Formoso, um dos rios que corta Bonito. Um grupo de umas 8 pessoas vai em um bote com remos, e o intuito é passar por pequenas quedas d'água e fazer "guerrinha" de jogar baldes de água nos outros grupos "rivais". É bem hilário e um baita exercício, já que remar é uma série de musculação daquelas! A paisagem por lá também é de tirar o fôlego.
Vale ressaltar que tais passeios não são lá coisa barata. Muitos deles são mais de R$ 100, com transporte, almoço e ingresso inclusos. Mas é tudo tão organizado, limpo, a atenção dos guias é muito boa, o respeito ao meio ambiente é tamanho que paga-se por tudo aquilo sem reclamar. Sério.
Ficamos dois dias folgados pela cidade, já que não podíamos pagar por todos os passeios oferecidos. Uma pena. Mas valeu por conhecermos melhor o local de bike, o que e onde comer, bater papo com moradores. 
Nosso último e melhor de todos os passeios foi a flutuação pelo rio da Prata (que acredito que não seja o mesmo de Argentina e Uruguai). É a mesma coisa que no rio Sucuri, porém numa extensão maior e com uma variedade infinita de animais aquáticos, dando a impressão de que estamos nadando num imenso aquário. Dessa vez eu consegui flutuar com a ajuda de nosso superguia Jairo, que, com toda a paciência me conduziu pelo trajeto que fizemos. O que falar daquilo? Cardumes enormes de dourados, pacus, piraputangas, entre outros, circulavam ao nosso redor, bem pertinho de nossos corpos. A água cristalina e calma.... Até um jacaré vimos na beira do rio. Ainda bem que ele não resolveu flutuar conosco. Flutuar. É exatamente esta a sensação. A impressão que se tem é de que incursionamos num outro mundo (o que não deixa de ser). É aquele tipo de passeio que o Guia Quatro Rodas deu cinco estrelas, sabe? E com toda razão.
A conclusão é de que fechei o ano com chave de ouro e que essa viagem me deu fôlego para começar 2012 com frescor e vitalidade.
Na próxima postagem, colocarei algumas imagens para se ter uma ideia do que foi aquela experiência!