quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A banalização da pós

Há algum tempo (não me lembro quando) li um artigo de um professor universitário sobre a disseminação dos cursos de pós-graduação no Brasil. Em um certo ponto do texto, ele menciona a expressão "banalização da pós-graduação". À primeira leitura, achei um pouco radical essa linha de pensamento, porém, agora, tenho de concordar com o professor.
Não vou ficar deliberando sobre o grave problema que é a educação no nosso país, nem quero dar soluções mirabolantes porque não sou pedagoga, há muito tempo não entro numa sala de aula para lecionar e tampouco estou frequentando as aulas de licenciatura da Faculdade de Educação. Todos sabem que o problema vem da educação básica e vem se arrastando até o ensino superior, inclusive a pós-graduação.
É digno de nota o aumento de alunos no ensino superior, bem como o de instituições, tanto do setor público quanto do privado. Contudo, devido a esse aumento, houve uma proliferação de instituições que não são reconhecidas pelo MEC e que formam profissionais de capacidade praticamente nula. Pessoas que acreditaram piamente nessas "faculdades" e, agora, amarguram no desemprego ou no subemprego. A formação superior na maioria das faculdades brasileiras é deficiente e mercenária. Aqui funciona o esquema do "pagou, passou". Paga-se para entrar na faculdade, paga-se a mensalidade, paga-se a rematrícula, a prova de recuperação, a prova substitutiva...
O mais grave é que as instituições privadas - que deveriam dar melhores condições de infraestrutura, de corpo docente e de ensino - são as que menos contribuem para a formação dos alunos. Logo elas, que se direcionam estritamente para o mercado (business, business, business) em detrimento da pesquisa e do pensamento humanista. Já que "focam" tanto o mercado, deveriam dar todo o suporte aos alunos, que buscam uma luz ao sol do mundo do trabalho. A graduação anda tão mal das pernas que, em qualquer área, vejo pessoas se matriculando em cursos de pós-graduação. O problema é que essas "faculdades" (e os alunos também) estão fazendo da pós um mero curso de extensão, e não é. Teoricamente, deve-se ter um projeto de pesquisa, um aprofundamento teórico da área com um professor orientador (mesmo em cursos lato sensu) - coisa que não existe na maioria desses cursos. Não existe a liberdade de se escolher, dentro desses cursos, as matérias que são feitas, os professores e a linha de pesquisa do famigerado TCC. E as pessoas, ingênuas, se orgulham disso: "Ah, eu faço pós". Tá, em quê? Qual o objetivo? "É que a empresa está me pedindo", "Ah, meu chefe mandou". Elas são iludidas desde o início da graduação, achando que terão aquele emprego com aquele salário.
Faço parte da turma que está fazendo a tão falada "pós". Claro que meu objetivo e meu interesse são outros; não sigo muito a linha mercadológica, no entanto, não sou estritamente acadêmica. E me entristece o rumo que o ensino de pós-graduação está tomando: falta pesquisa, falta pensamento, falta indagação, falta discussão. Tudo é mercado, mercado, mercado. Muitos nem sabem resumir um texto, quiçá redigir um bom trabalho de TCC com viés crítico. Além do rumo torto, me entristece também a ilusão de quem acredita que a pós (em instituições ruins, claro) salvará seu emprego ou dará "o" emprego. Pena.   

2 comentários:

  1. Certas coisas que acontecem no Brasil seriam cômicas se não fossem trágicas. No extremo sul da Bahia um professor procura outro querendo que este o ensine a resolver uns problemas de geometria do tipo daqueles que antigamente se ensinava no curso ginasial. Coisas envolvendo Teorema de Pitágoras e Teorema Angular de Tales, que o professor consultante ignorava. O professor consultado perguntou porque o outro quer saber aquelas coisas, se ia fazer algum concurso, etc. O professor consultante então esclarece que os problemas lhe foram passados como exercício num curso de PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA que ele estava fazendo.

    Trata-se, com efeito, de uma coisa insólita. Um analfabeto em matemática fazendo curso de PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA. Além de não saber geometria o professor analfabeto em matemática erra na solução de equação do primeiro grau e ignora o que seja "cardinalidade de um conjunto".

    Na década de 60 do século passado o presidente francês Charles de Gaulle disse que o "Brasil não é um país sério". Desde então mais de meio século se passou mas o Brasil insiste em continuar lhe dando razão. Porque, de fato, o que acontece com certos cursos de pós-graduação no Brasil É UMA PIADA. Mais do que isso, RIDÍCULOS. E o MEC não exerce nenhum controle ou fiscalização sobre essas quitandas de ensino.

    Alfredo Pereira dos Santos

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  2. Olá, Alfredo, primeiro, obrigada pelo contato; é a primeira pessoa que não conheço pessoalmente a comentar por aqui. E realmente, certas coisas que acontecem por aqui são tragicômicas, eu diria. É para rir e chorar ao mesmo tempo, como no caso que você mencionou. Nossa, até eu aprendi o Teorema de Pitágoras! (e olha que sou uma analfabeta funcional em Exatas) O que nos resta é seguir adiante nas nossas formações (que são boas) e nos indagar sobre o motivo de tanto descaso. É, De Gaulle teve razão em dizer a frase... Um abraço!

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