sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O jogo de manipulação

Muitos sabem que tenho interesse em assuntos relacionados a temas como discurso e argumentação. Tanto que meu projeto de pesquisa no mestrado é voltado a essas áreas e a disciplina que estou cursando neste semestre é sobre discurso, retórica e argumentação. Apesar dos pesares (aulas toscas, enfim), estou aproveitando demais.
Para quem é leigo no assunto, a tal da retórica surgiu na Grécia Antiga e foi muito utilizada por gregos e romanos. Foi esquecida por um bom tempo, mas estudiosos a retomaram lá pela década de 1950. Ela faz parte de tudo, de tudo mesmo que diz respeito ao nosso cotidiano. Para tudo precisamos argumentar. Deliberações à parte, o discurso e a argumentação me trazem à cabeça o termo manipulação.
Quando ouvimos a palavra, sempre a relacionamos à política e à mídia. Sim, tanto que ainda vemos, hoje em dia, pessoas acreditando piamente em ditadores malucos, em pregadores dissimulados, por exemplo; pessoas que acreditam em falsas promessas de sujeitos que não estão, nitidamente, nem aí para o seu eleitorado, entre outros. A manipulação de que trato por aqui é a mais corriqueira, mas que não deixa de ser tão danosa quanto as feitas por veículos de comunicação e malucos travestidos de políticos. Falo da manipulação que pessoas comuns fazem para conquistar benefícios próprios ou simplesmente pelo prazer em ferrar com a vida alheia. No dia a dia, a manipulação é facilmente vinculada à dissimulação e ao mau-caratismo. Assim como existem os dois lados para tudo, existe o poder de manipular para o bem e para o mal.
Segundo os caros retóricos gregos, o caráter do orador (éthos) influencia e muito no poder de argumentar; e isso envolve a persuasão e o convencimento. Como sou interessada pelo assunto há um bom tempo, vim percebendo ultimamente como tem gente que gosta de utilizar os meios argumentativos (e dissimulados também) para o benefício próprio em detrimento do outro, prejudicando-o, por ciúme, inveja ou simplesmente pelo prazer de ferrar com a vida alheia.
Voltando à manipulação, relaciono-a com o poder de persuasão, que é vinculado às relações interpessoais (aquelas entre amigos, família e colegas, por exemplo; excluo as relações de trabalho por aqui). A persuasão é aquilo que fazemos diariamente com nossos pais, irmãos, parceiros. "Se você for assistir aquele filme comigo, vamos jantar naquele restaurante tailandês que, há muito tempo, você quer conhecer." É mais ou menos isso. Uma forma de persuadir e manipular que consiste numa troca. Ótimo.
A questão que me enraivece é fazer da manipulação um meio de sobrevivência. Utilizar deste meio para se "defender" em território (ou do próprio) "inimigo". Fazer da adaptação a um novo lugar, novo círculo social e novas relações pessoais um jogo de intrigas e picuinhas, pois sabe que é um ser pobre de espírito, de caráter, de conhecimentos etc. e que, sem suas artimanhas e interpretações, não sobrevive à selva que é a vida em sociedade, principalmente quando se está fora de seu local de origem e habituado a viver. Diante desse jogo, prejudica as boas relações do "inimigo" com terceiros que têm vivência em comum, que, até então, se entendiam muito bem, criando argumentos mirabolantes a respeito do tal inimigo sem que este nada o fez. Ou que até deve ter feito alguma coisa, porque sentimentos como ciúme e inveja não têm explicação, na maioria das vezes. O "inimigo", por um momento, fica sem entender o porquê de tanto mal-estar; porém, com o tempo, ele percebe que foi vítima de um jogo de manipulação.
Muitas vezes utilizar de argumentos a fim de prejudicar um outro pode dar certo, sim. No entanto, ele próprio pode cair em sua própria armadilha retórica. Alguém, tão manipulador quanto, ou que reconheça o modo como funciona esse esquema, pode fazer com que a queda do cavalo seja muito, mas muito feia. Ficarei de camarote assistindo.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Elenco de insuportáveis

Para hoje, elenco umas coisinhas que todo (ou quase) mundo adora, mas que eu não suporto, desculpe. Dentre elas estão filmes, artistas, lugares... Sei que muita gente que ler isto aqui vai me execrar. Mas não importa, o que importa é que o lugar-comum me dá sono.

- Perfume Chanel nº 5 (argh!)
- Champanhe
- Amsterdã, na Holanda
- Dizer que a Europa é melhor em tudo em relação ao Brasil
- Clarice Lispector (essa eu não engulo!)
- Machado de Assis (também não rola)
- Chico Buarque (agora vão querer me matar)
- Raul Seixas
- Blow-Up - Depois daquele beijo, do Antonioni (que merda é aquela???)
- Matrix
- Blade Runner
- Franz Kafka
- As aulas do Hansen sobre Machado de Assis (essa é para a comunidade uspiana)
- James Joyce, claro!!! (Valeu, Jana!)
- Samuel Beckett

Quem tiver algo ou alguém para complementar a listinha, aceito sugestões (claro que de acordo com as minhas preferências!)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Aristóteles e Perelman

Nunca Artistóteles foi tão fundamental nos dias atuais.

"Não se deve discutir com todos, nem praticar a Dialética com o primeiro que aparecer, pois, com respeito a certas pessoas, os raciocínios sempre se envenenam. Com efeito, contra um adversário que tenta por todos os meios parecer esquivar-se, é legítimo tentar por todos os meios chegar à conclusão; mas falta elegância a tal procedimento."

Ou seja, "o perigo de discutir com certas pessoas é que, com elas, se perde a qualidade de sua própria argumentação" (Chaïm Perelman)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Raiva da minha cidade

Eu tenho uma relação de amor e ódio com São Paulo. Como todo mundo que mora por aqui. A minha relação é mais de ódio que de amor. Ódio é um tanto exagerado; prefiro dizer que tenho raiva dessa cidade.
Esta semana recebo a visita de uma grande amiga do sul que conheci na Alemanha. Ela nunca veio à cidade e está louca para conhecer os pontos de que tanto se fala, claro. Como ela irá passar somente o final de semana, escolhi o roteiro mais básico para conhecer alguns pontos, como a região central e da avenida Paulista. Até aí, tudo certo.
A minha revolta começa quando penso na chegada dela à cidade. Para começar, não existe acesso decente ao aeroporto de Congonhas. Só de carro ou de táxi. Transporte público? Só "busão", que passa a quarteirões de lá. A solução é o táxi. Por sorte, moro perto do sobe e desce de aviões. E quem precisa ir para a região central ou Paulista, paga uma fortuna por um serviço que nem sempre é idôneo. Não vamos generalizar, claro. Uma cidade da imensidão de São Paulo tem um vergonhoso sistema de transporte público, o qual me faz ter vergonha alheia, principalmente a cidades "minúsculas" (perto daqui) como Bogotá e Buenos Aires. Ainda bem que moro perto de uma linha do metrô, que dá acesso aos locais onde pretendo levar minha amiga para conhecer.
Outra coisa que me revolta com a cidade é o descaso que ela recebe do poder público há um bom tempo. A cidade, que já não é bonita, está ficando cada vez mais feia. Apesar da Lei Cidade Limpa, a sujeira nas ruas é escancarada e, em alguns lugares, como perto de casa, os cartazes de "pancadão" e "pagode na vila X" são colados a exaustão. E para piorar a situação, um lixão se formou praticamente na esquina da avenida com a rua onde moro. Não é para matar de vergonha cada vez que uma visita vem à minha casa??? Um lixão se formou dentro de um terreno abandonado e, não o suficiente, o lixo é largado na calçada da avenida, nas proximidades do ponto de ônibus. Além do "condomínio" que está se formando lá dentro, com suposta venda de coisas ilícitas e crianças ranhentas brincando em meio ao chorume. E, detalhe: no final do ano, provavelmente, receberei a visita de outra amiga com seu namorado alemão. Aí a vergonha se eleva a níveis estratosféricos!
Muitas vezes penso que São Paulo merece estar do jeito que está devido aos habitantes (não só os que aqui governam) que têm. Está cada vez mais insustentável morar aqui. A cidade já está parada há anos, mas ninguém abre mão do seu carrinho para ir à padaria da esquina. O transporte público, se não fosse o metrô, seria o caos completo. Mas só o metrô não dá conta da demanda. Mesmo a demanda sendo enorme, a falta de educação e consciência de quem mora aqui é gritante. O que custa esperar o próximo trem para embarcar? Claro que custa! Meu emprego, meu curso, minha faculdade, meu compromisso...
Só digo uma coisa: Ai que vergonha, quando chegar a sexta-feira!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Feliz Dia dos Pais

Ontem fui ao cinema e assisti ao filme "Árvore da Vida", com Brad Pitt e Sean Penn. Como sou fã do Sean Penn e o Brad Pitt tem feitos ótimos trabalhos nos últimos anos, fui conferir. E, coincidentemente, foi Dia dos Pais.
O filme é bem arrastado e confesso que não entendi algumas coisas. Talvez, numa segunda vez, possa entender melhor. Acho que não tenho a sensibilidade artístico-visual que a película pede. Mas isto não vem ao caso. Basicamente, o enredo do drama fala da relação conturbada entre o primogênito (protagonizado pelo Sean Penn quando adulto) e o pai rígido.
É até compreensível a rigidez do pai, cuja época ambientada é a década de 1950 e, além disso, ele era da Marinha norte-americana. O pai era rígido, porém, havia um certo carinho com os três filhos, havia o toque, o abraço, o beijo. Eu não tive isso. O pai do filme forçava as crianças a dizer "sim, senhor", pedia beijos, perguntava se o menino (o mais velho) o amava. O meu, além de dizer "senhor", fala para pedirmos a "bença". Sempre detestei. Acho hipócrita e submisso. Como se isso fizesse diferença na minha vida...
Nunca nos damos bem. Desde pequena, temos uma relação conflituosa. Chegamos a ficar 3 anos sem nos falar, nem nos ver. O motivo de tanto tempo sem contato foi o fato de que não consegui encontrá-lo no dia de seu aniversário para dar os parabéns. Ele achou que fiz de propósito. Então, tá.
Voltamos a nos falar no "susto", porque o encontrei, por acaso, na casa da minha avó, pouco tempo depois do meu retorno da Alemanha. Ele só soube que eu estava fora quando já estava por lá há um bom tempo.
Voltando ao filme, parece que a reconciliação (pelo que entendi) acontece no pós-morte. Será que, comigo, só assim? Se bem que não acredito nessa história de pós-morte...
Na época que fazia terapia, o terapeuta me dizia que o conflito comigo mesma e com outras coisas vem da infância. É, Freud estava certo. Com a terapia, aprendi a relevar certas coisas dele, depois de muitos anos. Sei que ele não vai mudar. Quem tem de mudar, sou eu. Mas, para mim, é difícil "retomar" algo que não existiu.
Uma vez uma psicóloga me disse que não somos obrigados a amar ninguém, mesmo que esse alguém seja pai ou mãe. É bem isso o que sinto. Como você pode amar alguém que te abandonou e que te humilhou diversas vezes? Não sou masoquista. Já fui diversas vezes obrigada a ligar, dizer "Feliz Dia dos Pais", "e aí, tá tudo bem?", com uma recepção não lá muito calorosa. Mas ai se não ligasse!
Hoje em dia, ele deve ter aprendido a se tocar. Ligo, quando acho que tem de ligar. Ele, o mesmo. Ontem não liguei. Na verdade, gostaria de ligar, dar um abraço no meu pai, que não está mais aqui.

Feliz Dia dos Pais, vô!!!

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Impulsividade

Sempre ouvi muitas críticas sobre as pessoas que agem por impulso. Já me disseram que a impulsividade é típica de ariano. Até acredito nessa história de que os signos contribuem para formação da personalidade. Portanto, sou impulsiva, sim. O problema é que taxam os impulsivos como inconsequentes a todo momento. Não é bem assim.
Se não fosse pelo impulso, não teria chegado onde estou e é pelo impulso que alçarei voos mais altos. Fato.
Claro que há arrependimentos. Mas, pelo menos, fiz. E foi agindo sem pensar demais que consegui as maiores realizações da minha vida. Já perdi amigos (na boa, se fossem amigos mesmo, entenderiam que é traço da minha personalidade). Ganhei outros. Falando e agindo por impulso, ofendi e machuquei. Contudo, sempre percebo, em seguida, o que fiz e/ou falei (ah, principalmente falar!). Ufa, ainda bem! Não é fácil. Tento me segurar ao máximo, principalmente quando meus sentimentos são envolvidos. Aí, o bicho pega!
Sou um baú cheio de sapos engolidos. Sei que às vezes eles são necessários, porém, quando estou por um fio da tolerância, jogo tudo para o alto e faço/falo o que tem de ser feito/falado.
Muitos veem o lado ruim da impulsividade. Eu sempre procuro ver pelo lado bom, porque nem sempre é ruim. Creio que o impulso é primo da atitude. Já me disseram que tenho atitude. Também acredito que a atitude anda lado a lado com a coragem. Coragem de agir, de falar e de pensar de forma diferente do senso-comum.
O impulso é minha mola propulsora. Graças a ele, fujo como ladrão do marasmo e da mediocridade. No entanto, sempre chego a algum ponto do trajeto que me alenta, mesmo que seja por pouco tempo (ou não). 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O filho da mãe

Fiquei curiosa em ler esta obra quando ouvi a seu respeito no curso da ESPM (obrigada, Celso!) e também por causa do especial passado na TV Cultura em parceira com a Companhia das Letras "Amores Expressos" (quero ler todos da coleção, já!). O filho da mãe é um dos livros da série, em que escritores brasileiros passam uma temporada no exterior a fim de produzir seus enredos. Me pegou de jeito. Para se ter uma ideia, comprei o livro no sábado e terminei de ler ontem (quarta-feira)! A narrativa é empolgante e muito bem costurada. Dois temas conduzem o enredo: a maternidade e a guerra, e um é intrínseco ao outro.
Uma ótima surpresa para quem desacreditava que ainda existia boa prosa brasileira contemporânea. Já entrou na minha lista de livros favoritos! Recomendo!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O ato de retribuir

Pode soar repetitivo por causa da postagem sobre imigração, mas vou falar de multiculturalismo. Sabemos bem o que é, apesar de a palavra ser um tanto estranha. Nossa sociedade é a mais multicultural do planeta. Convivemos bem com as diferenças étnicas e culturais, até porque somos uma miscelânea de tudo quanto é raça, credo e cultura. Ponto positivo para nós.
Há uns cinco dias vem ocorrendo uma onda de vandalismo em Londres (que agora se espalha por outras cidades inglesas, como Manchester e Birmingham). O motivo? Abordagem policial duvidosa a um inglês de origem "estrangeira". Se não me engano, de origem nigeriana. Difícil concordar ou discordar de tal atitude, pois ambos podem ter agido de forma duvidosa.
Assim como o Brasil, o continente europeu é um amontoado de línguas, culturas, religiões e etnias distintas (em menor escala do que aqui, claro) que, teoricamente, convivem em relativa harmonia. O problema dos europeus é que eles têm a memória tão curta quanto a nossa, principalmente no quesito "retribuir o favor". Se perguntar a qualquer cidadão inglês, francês, italiano, espanhol ou alemão (não cito o português porque ele tem, ainda, uma relação mais estreita com sua antiga colônia, nós) para quais países seus ancestrais foram tentar uma nova vida, quase nenhum sabe responder.
O engraçado é que, séculos atrás, muitos deles foram explorar colônias no Novo Mundo, levando riquezas antes desconhecidas a seus lugares de origem; deram uns catos nos nativos, trouxeram doenças e dizimaram civilizações inteiras. Diante dessa exploração, muitos lugares sofrem as consequências daqueles tempos (inclusive o Brasil), principalmente a pobreza. Séculos mais tarde, muitos dos descendentes desses locais foram tentar a vida nas Metrópoles. Londres, Paris, Madri, Roma... E o que receberam? Portas fechadas na cara. Até hoje só são recebidos para fazer o serviço " de segunda", como os de construção civil e indústria.
Isso é a regra geral, porém existem as exceções. Em todas as cidades citadas existem guetos de tudo quanto é nacionalidade: o bairro africano, o bairro latino, o bairro árabe. O problema das gerações nascidas desses guetos é a falta de integração: seus pais e avós não falam a língua local, convivem entre si e vivem de bicos. E por esse motivo eles são cidadãos de segunda classe? Não são europeus? Se nasceram nesses locais, possuem tantos direitos quanto qualquer cidadão considerado "nativo", não?
Para a maioria de ingleses, franceses e cia., não. Mesmo os nascidos nos países são um estorvo. Também não se integram, assim como muitos imigrantes. Querendo ou não, eles movimentam setores econômicos daqueles países, pois seus nativos não querem fazer o "serviço inferior". Voltando à retribuição, o mínimo de dignidade aos que foram explorados séculos atrás deveria ser dado. Porém, como em qualquer coisa, há exceções. Pessoas e pessoas. Existem organizações governamentais e não governamentais que auxiliam os imigrantes. E existem imigrantes que andam dentro das leis dos países que os recebem, e outros, não. A grande questão é: uma minoria "esperta" mancha a imagem da maioria trabalhadora que tenta fazer do país onde escolheu para morar como sua segunda pátria. Eu já vi de tudo desse assunto. A forma como somos vistos lá fora é devido à mídia, claro, e aos que fazem o favor de reforçar a má impressão que temos. Assim como vemos outras populações por causa dos mesmos motivos citados.
Voltando ao vandalismo na Inglaterra, é difícil dizer se dá para concordar ou discordar. Claro que qualquer tipo de vandalismo é condenável. Mas é bem possível o policial ter abusado da autoridade contra o rapaz. Como também é perfeitamente possível o rapaz ter dado uma de "esperto". Esse acontecimento só evidenciou ainda mais a revolta dos imigrantes locais e a intolerância de setores da sociedade local. Creio que isso não parará tão logo, enquanto as palavras "tolerância" e "retribuição" não fazerem parte do léxico de ambos. Esse assunto me fez lembrar de coisas que vi (e ouvi a respeito) na minha estadia lá fora, mas isso fica para uma próxima.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Tudo ao mesmo tempo agora?

Final de semana agitado. Bom assim. Resolvi, de repente, que queria fazer um curso de extensão aos sábados. Estava em dúvida se cursaria francês ou algum na área de língua portuguesa. Eu sempre tenho dúvidas quando quero estudar algo. Pois gosto de muita coisa e quero saber tudo. Pedi a opinião do Schatz e dos universitários, e fui à PUC fazer a matrícula. O curso se chama O estudo funcional da gramática: a interface gramática e discurso. Gosto desses títulos de matérias. Soam prepotentes. Melhor fazer um curso de gramática agora, porque sinto que estou um tanto defasada nesse assunto, apesar de lidar com a língua o dia todo. O francês fica para depois. Atualização nunca é demais. E também quero conhecer outros pontos de vista, já que estarei em uma universidade diferente, que tem ideologias e preceitos diferentes da minha. Mesmo sendo formada em Letras, não tive uma aula sequer voltada à gramática, pois, segundo os professores, devemos chegar à faculdade sabendo de todo o conteúdo. Concordo. Mas o mercado está aí e pede a bendita da gramática normativa. Sinto falta de muitos aspectos, por isso, vou fazer o curso. Além da "reciclagem", a palavra de ordem é contato. Com certeza terá algum maluco como eu, que atua na mesma área que eu, com quem farei contato profissional. Ainda mais nessas faculdades particulares, cujo foco é sempre o famigerado mercado.
Às vezes, penso: Será que sou louca? Será que quero tudo ao mesmo tempo agora? Necessidade de estar sempre informada e atualizada? Necessidade de estabelecer contatos a fim de se libertar? Sei lá, talvez algumas ou todas essas coisas juntas. É algo maluco, porque nunca fico satisfeita em saber sobre um só assunto. Gosto de análise do discurso a fofocas sobre celebridades. Qual o problema?
Por falar em análise do discurso, amanhã começam minhas aulas da pós deste semestre. Ainda não entrei no clima. Estou em clima de folga. Tenho preguiça só de pensar que tenho de me locomover até a Cidade Universitária. Detesto aquele lugar. Não consigo entender até hoje como tem gente que ama aquele lugar longínquo e bucólico. Além disso, as aulas que tenho são péssimas, por incrível que pareça. Achava, antes de ingressar no mestrado, que teria as aulas mais “animais” do mundo. Pelo contrário. Sinto falta de algumas aulas dos tempos da graduação. A arrogância e prepotência de alunos e professores eram menores. Agora, a disputa de egos e de quem é o pesquisador mais fodão é algo que me causa náuseas. Gosto muito da vida acadêmica. Tenho objetivos com ela. Mas não quero ficar mofando numa sala com livros. Também gosto dessa coisa de “mercado de trabalho”. Dá uma sensação de vitalidade e disputa. Pretendo conciliar esses dois aspectos, até porque tenho aluguel e contas a pagar e não posso me dar ao luxo de viver de bolsa de estudos. Mesmo porque o valor que pagam é vergonhoso. Prefiro ter a vida maluca que tenho tentando conciliar emprego, universidade e pesquisa. Sei que vou conseguir. Há alguns minutos, vi a nota da disciplina que fiz semestre passado sobre o Bakhtin: A (excelente), com direito a crédito. Fiquei felicíssima, pois o curso foi ruim, o tema foi bem malinha e, além disso, tive de entregar a monografia antes de todos por causa da minha viagem em junho. Com tudo desfavorável, tive essa boa notícia. Agora, só preciso de força para seguir adiante, pois não está fácil. Sei que o tema de minha pesquisa é bacana, mas, ao mesmo tempo, dá um desânimo daqueles só de pensar em colher corpus, fazer as traduções necessárias e analisar os textos. Não sei por que vacilo desse jeito. Tenho que agradecer aos deuses do Olimpo todos os dias por estar numa excelente universidade, pública e gratuita, ter acesso ao conhecimento, porém, sinto-me pressionada – por mim mesma. E a pior pressão é a que vem de nós mesmos. Sinto-me pressionada, contudo, a sensação não é pior do que a de angústia. Angústia profissional. Seria o tal dilema da tão falada “geração Y”, da qual faço parte? Melhor deixar o lamento para uma próxima.

Mudando de assunto: o final de semana foi agitado. Fiz a matrícula no curso, comprei sapatos novos (momento fútil), comprei O filho da mãe, do Bernardo Carvalho (já estou no terceiro capítulo e adorando), comprei garrafas da Weltenburger por R$ 1,99 cada (nem na Alemanha custa isso) e uma de vinho chileno por uma bagatela. Mais tarde encontrei antigos amigos que não via há muito tempo, e foi ótimo. No domingo, houve o lançamento da adaptação de Hamlet em quadrinhos na 1ª Felit (Feira Literária) de São Bernardo do Campo. Claro que fui prestigiar o Schatz e equipe! O bate-papo foi bem produtivo e todos estavam ótimos. Dá orgulho em ver algo pronto depois de tanto trabalho (mesmo eu não tendo participado, só acompanhando, de perto, em casa)! Parabéns a todos!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Imigração

Acabei de ler a notícia deste link:
http://noticias.uol.com.br/bbc/2011/08/05/brasil-e-pais-que-ve-imigrantes-de-forma-mais-positiva-diz-pesquisa.jhtm

Que bom que nós, brasileiros, vemos com bons olhos os imigrantes que aqui chegam. Eu também os vejo com bons olhos, se eles trazem algo de bom e agregador para nós.
Aqui em SP vejo muitos deles, principalmente na região da avenida Paulista. São aqueles tipos esquisitões, que estão aqui a trabalho e, normalmente, ficam pouco tempo por aqui e partem para outro país. Esses são os que nos beneficiam, de alguma forma, fazendo intercâmbios empresariais, culturais, acadêmicos. O problema são os que não contribuem com nada, pelo contrário.
Toda vez que ando pelos lados do Bom Retiro, me pergunto: "Aonde foram os judeus, os gregos, os armênios?" Pessoas que, com seu esforço e muito trabalho, ajudaram no crescimento desta cidade; de culturas diversas, mas que ali conviviam pacificamente, bem diferente de suas terras de origem. Houve uma invasão coreana por lá. Nada contra os coreanos. Minto. Tenho, sim, duas coisas: Primeiro, o que eles vêm fazer por aqui? Não falam (e não querem falar) português. Compraram (sabe-se lá como) praticamente todo o bairro e abriram suas confecções. E o pior, motivo de minha revolta, fazem de imigrantes bolivianos escravos. Um problema que já está tão arraigado, mas que ainda não merece a devida (ou nenhuma) atenção das autoridades e da mídia. Gosto dos bolivianos (e demais latino-americanos) que vivem por aqui. São pessoas muito simpáticas, abertas aos nossos costumes e língua e muito dignas. O triste é ver que, mesmo sabendo da situação na qual vivem por aqui através de familiares e amigos, muitos ainda vêm ao Brasil com esperanças de uma vida melhor. Me espanta vê-los acreditando que encontraram a melhora trabalhando 18 horas por dia de segunda a segunda (alguns têm folgas aos sábados ou domingos - milagre -, é fácil vê-los na região da estação da Luz passeando com suas famílias) para os coreanos, que enriquecem enlouquecidamente às custas desse povo.
Saindo do Bom Retiro e indo pros lados da 25 de Março, também me pergunto por onde andam os sírios-libaneses? Quase não frequento a região, porque odeio aglomeração. Só vou quando quero ir ao Mercadão Municipal. De uns anos para cá, a pirataria tomou conta da região. E quem comercializa? Chineses. Tenho medo deles. Muitos que estão aqui fazem parte da máfia. O maior contrabandista do país, por incrível que pareça, é um chinês. Vivem em nichos. Também não falam português. Seus filhos falam porcamente o português porque seus pais não deixam. Mas estudam nos melhores colégios da cidade. Vá até a rua Vergueiro, na Vila Mariana, na saída da famosa escola umas 12:30! É uma parte de Pequim e Seul que está lá. Também fazem de seus trabalhadores "semiescravos". Eu sempre me questiono: "Como conseguem entrar no Brasil? Como? A maioria é ilegal, não paga impostos, não contribuem em praticamente nada com o país, não se "misturam" com a população, ganham rios de dinheiro de forma bem suspeita e ninguém faz nada?"
Aí entra algo que está enraizado em nossa sociedade: achar que todo estrangeiro é rico e bacana. Não é! Apesar de sermos formados por diferentes povos, sabe-se lá como, temos essa mentalidade pequena e provinciana de acharmos que todo estrangeiro é "bobo, coitado, mas é rico". Pelo contrário. Nós é que somos! Todo mundo é bem-vindo por aqui e a nossa vantagem em relação a todos os outros países do mundo é que recebemos bem o imigrante, seja de que lugar for. O problema é não nos tocarmos com aqueles que prejudicam nosso lugar. Eu parto do seguinte pressuposto: se vou a algum lugar, quero, pelo menos, aprender a falar "bom dia" e "obrigada" na língua local. Agora, chegar a uma loja e o cidadão falar o valor da conta com os dedos e nem dizer obrigado é revoltante. Eu, pelo menos, fico revoltada. Tem gente que acha divertido falar "mimiquês" com essas pessoas (e na hora do turismo lá fora também, mas isso fica para uma próxima).
Parto do pressuposto de que é sempre bom agradecer ao lugar onde se está e às pessoas que te recebem, de alguma forma. A começar pela tentativa de integração. Dizer "olá" e "obrigado" já é um bom começo. E o lugar mais fácil do planeta de se integrar, é aqui.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Como me joguei no deutsch

Não acredito em vidas passadas. Tampouco em espíritos, na ligação entre nós e eles. Mas sempre me pergunto cá com meus poucos botões: "Por que diabos resolvi estudar línguas, ainda mais alemão?" Seria afinidade cultural? Conexão espiritual? Vidas passadas? Já me disseram que podem ser as duas últimas. Sei lá. Se for, também, tudo bem.
Tudo começou quando eu tinha uns 8, 9 anos, já era interessada por livros e qualquer coisa relacionada a línguas estrangeiras. Aos oito anos, lembro bem que era época da Olimpíada de Barcelona e assistia, maravilhada, ao desenho do mascote Cobi, na Cultura, e tentava pronunciar os nomes dos lugares por onde ele e sua turma passavam. No mesmo período, não lembro em que circunstâncias, ganhei, da minha mãe, umas edições da revista Speak Up, da Editora Globo. Acho que elas nem existem mais. Eram quatro os idiomas: inglês, italiano, francês e alemão. Como folhava qualquer papel que aparecia em minha frente, me divertia com as ilustrações das revistinhas. Mas, claro, a que me chamou mais a atenção foi a de alemão. Aquela capa preta, com letras brancas e com a bandeira da Alemanha no lado direito. Óbvio que não entendia nada do que continha ali, mas me recordo, até hoje, dos nomes das personagens dos diálogos: Sybille, Klaus e Hans. Posso estar enganada com algum deles, mas da Sybille tenho certeza absoluta! Havia também um cachorrinho nas histórias. Só ficava chateada por não poder entender o que eles diziam. Eu perguntava à minha mãe se existia escolas daquelas línguas e ela me dizia: "Tem, sim. Mas são muito caras. Ainda mais dessas línguas doidas".
Não sei se foi na mesma época, mas me lembro do programa "Hallo aus Berlin", também da TV Cultura. Eu pirava. Tentava repetir o que aquele povo falava. Não era só do "Hallo", como também do programa de espanhol que passava em seguida. Louca. Viajava com as personagens do programa para cantos daquele país e pensava que, talvez, nunca fosse para lá. 
Com uns dez anos de idade, comecei a me interessar por histórias de guerra. Mais precisamente pela Segunda Guerra. E lia, nos livros da escola, os nomes de muitas daquelas cidades mostradas no "Hallo aus Berlin" e vistas na Speak Up. Eu pirava. Para piorar, o filme ganhador do Oscar naquele ano foi "A Lista de Schindler", do Spielberg (um dos meus favoritos até hoje). Lembro que o SBT passou o filme, porém era num horário medonho, daí fiz reserva da fita VHS na locadora e assisti, embasbacada, toda aquela história. Tinha até uma personagem com meu nome! A partir do filme, botei na cabeça que iria contar uma história de uma menina judia de um gueto e de um soldado nazista que se apaixonaram, mas que não podiam ficar juntos, por motivos óbvios. E escrevi. A garota engravidou do soldado e perdeu o contato com ele quando a guerra chegou ao ápice. Os anos passaram, contudo, claro, eles ficam juntos no final. Até hoje fico boba de ter escrito essa historinha aos dez anos. Eu pesquisava a respeito de lugares que podiam fazer parte do enredo, nomes de pessoas nas grafias corretas, como também sobre o tema. Perguntava à professora. Ela ficou chocada (no bom sentido) com meu interesse no assunto.O tempo passou, esqueci um pouco da coisa alemã, mas sempre tinha interesse pela nossa língua e nas demais.  
Nos tempos de cursinho, as aulas de história e literatura me fizeram voltar àquela ideia de aprender a tal da "língua de doido" e pesquisar sobre a história daquele "povo maluco". Aulas sobre a unificação alemã, Primeira e Segunda Guerras, a Queda do Muro e a Reunificação, bem como as aulas sobre  Romantismo e a influência fortíssima do Sturm und Drang em nossos escritores fizeram com que eu me interessasse mais fortemente pela língua e cultura. Lia Goethe e Hermann Hesse ao mesmo tempo em que tínhamos que ler aquelas listas de livros obrigatórios para os vestibulares. Lia, também, Schopenhauer e Wittgenstein. Retardada. E, detalhe: naquela época, eu queria prestar vestibular para área de Biológicas (Farmácia, Biomedicina, Biologia, Agronomia)! Cheguei a cursar um semestre de Agronomia na Unesp de Botucatu. Claro que detestei tudo: terminado o primeiro semestre, voltei a São Paulo e prestei para Letras no final do mesmo ano.
Ter escolhido o deutsch como habilitação na faculdade foi só uma consequência de toda essa "trajetória". O curso não foi levado como eu gostaria; claro, é uma língua dificílima e, para agravar a coisa, sempre trabalhei durante a graduação e não dava para me dedicar exclusivamente ao curso. Porém, quando olho para trás, vejo o quão bom foi ter escolhido essa "língua de cachorro" para estudar. Ela me deu a oportunidade de trabalhar, estudar e morar por um ano na Alemanha. Lá, conheci pessoas fantásticas de várias partes do mundo, as quais sempre terei em minha memória, além da família maravilhosa com a qual morei nesse tempo. Nas minhas recentes férias, aonde fui? Óbvio! Percebi que sou "masoquista" ao continuar estudando alemão e tenho uma relação um tanto conturbada com ele. Mas estamos sempre juntos. E acho que essa relação ainda perdurará, pois minha pesquisa de mestrado é voltada para a imprensa alemã.  Ah, estava me esquecendo: quando fiz terapia, o terapeuta era filho de alemães de uma colônia de Santa Catarina. Falava melhor o alemão do que o português!
Afinal, seria esta uma conexão espiritual, vidas passadas, masoquismo ou pura "pagação"? Seja lá o que for, das gefällt mir.



*gefällt mir é uma expressão em alemão que significa algo como "eu gosto", "me apraz" (nossa, essa foi arcaica, hein!)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Roubaram nosso vocabulário

Virou rotina. Todo dia de manhã, às 9:35, ouço, na BandNews, a crônica do dia do Salomão Schvartzman. Virei fã. E, hoje, especialmente, um o assunto no qual ele abordou me atingiu diretamente (ou melhor, o que faço) e me fez lembrar cada absurdo que leio no meu dia a dia.
O assunto era o verbo focar. Na fala, ele dizia que, hoje em dia, em qualquer forma de comunicação tal verbo é utilizado exaustivamente. Na hora, pensei: "Aff. Pior que é mesmo. Eu vejo esse verbo praticamente todo dia em qualquer contexto. Que pobreza." Além do focar, verbo predileto dos corporativistas e imprensa especializada, que, inclusive, está se embrenhando no vocabulário da maior parte da população, outros jargões foram mencionados e, claro, ridicularizados. A parte que mais gostei, claro.
Agora, elenco os meus "tops". Além do focar, implementar e otimizar. Uma pergunta que Salomão fez na qual sempre me fiz também é "qual a regência do verbo focar?" Que eu saiba, é "focar em" algo, porém, estão utilizando o pobre do focar em qualquer contexto, coitado. Implementar e otimizar: típicos em textos da área de negócios, marketing e publicidade. Tão horríveis quanto focar, e perfeitamente substituíveis por sinônimos que são perfeitamente cabíveis em tais situações. Por que não utilizam "A empresa X inseriu, formulou (para implementar), um modelo de interação com as redes sociais", sei lá? "Fulano otimizou os custos de compra e venda de tal produto"? É de uma pobreza vocabular irritante.
"Assaltaram a gramática e assassinaram a lógica", como diz a letra da música dos Paralamas, assaltaram, também, a semântica, a morfologia, o léxico...
Além dos verbos, o meu preferido no rechaço ainda é o feedback. É o ápice da miséria que é o vocabulário utilizado pelos executivos, pseudoexecutivos, funcionários desses executivos, entre outros. A coisa ainda tão feia que, se perguntar a uma dessas pessoas outra palavra que poderia substituir feedback, a resposta é "não sei", "não existe". Por que não usar algo mais fácil como "retorno", "resposta"? Muito mais simples. Não sou contra usarmos termos em inglês em contextos específicos, agora, "vou fazer um job", "o case ficou ótimo", entre outras coisinhas, muitas delas vazias de sentido, é de matar.
Voltando ao português, outra coisa medonha que tenho de encarar quase que diariamente é o tal do "sendo que". Socorro!!! Essas pessoas que escrevem (e acham que fazem isso muito bem) se utilizam disso erroneamente, e para qualquer porcaria. "Tantas pessoas foram mortas, sendo que 20 hospitalizadas". Até o santo Manual do Estadinho diz que tal construção é errada (e olha que eu, pessoalmente, detesto esse manual)! O Manual do Estadinho é uma minigramática para preguiçosos e que fazem deste a verdade incontestável. De verdade, ele só me ajudou a entender a concordância nominal de porcentagens, muito comum nos textos jornalísticos. De resto, dispenso bonito. A única pessoa que relativiza o uso do sendo que é o Evanildo Bechara. Mas ele nem considero, porque o gramático relativiza tudo, diz que tudo é possível em língua. Até é possível, mas nem tudo, não é? Para lê-lo, tem de tomar um ácido e entrar na onda dele. Não tenho paciência. Não acrescenta em nada no meu cotidiano. Me cansa.
Não sou nenhuma defensora ferrenha do purismo da língua, longe disso. O purismo acaba com a beleza de qualquer tipo de manifestação, escrita ou falada. O que prezo é o mínimo de noção no uso das palavras. Se não sabe, não utilize, por favor. Se quer seguir um modelo de um segmento social, econômico, seja lá o que for, saiba o significado antes. Foque-se na tua comunicação!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Rascunhos parte 1 - Europa em polvorosa

Começo pra valer por aqui postando alguns dos textos que produzi num curso de escrita criativa que fiz, semana passada, na ESPM. Valeu tanto a pena ter feito que, por isso, resolvi criar este Fustigo. E segue o primeiro texto, um artigo de opinião.

O Velho Mundo está agitado como há muito não se via, e não por bons motivos.
Em recente viagem à bela Munique, na Alemanha, estive em meio ao caos devido ao pânico criado pela mídia local acerca das 36 mortes (quase todas no norte daquele país) em decorrência da bactéria Eschereria coli, mais conhecida por lá como EHEC. Tanto barulho por pouco, ou melhor, por um broto de feijão mal higienizado. Na verdade, as pessoas morreram como na Idade Média, quando qualquer noção de higiene sequer existia. Os alemães chegaram ao ponto de causar mal-estar diplomático com os espanhóis - cujos pepinos e tomates, segundo eles, estavam contaminados com a tal bactéria. Até os russos entraram na discussão! E quando a Rússia entra na conversa, aí, o caso complica ainda mais.
Em meio às mortes pela bactéria, a crise econômica na Grécia explodia. Não havia arte retórica e poética que salvassem os gregos. Só a cúpula da União Europeia, cuja liderança é nitidamente alemã. A chanceler Angela Merkel e seus coleguinhas deram possíveis soluções à questão, claro, porque senão haveria uma invasão helênica em seus territórios - o que não querem, obviamente.
Li recentemente uma entrevista com uma escritora argentina (cujo nome esqueci, mas lembro que ela ficou sendo conhecida como a "musa"), que esteve recentemente na Flip, e moça dizia que não suporta a chanceler alemã porque ela está realizando o sonho de Hitler: dominar a Europa. Achei bem infeliz a colocação. Na real, a mulher está "segurando as pontas" de um continente que está em crise financeira desde 2008 e que ainda não se recuperou. São Grécia, Irlanda, Portugal, e, entrando na dança, Espanha e Itália, possivelmente. Penso que deve ser muito complicado para essa mulher, que tem como vizinhos, um primeiro-ministro que se intitulou "viking" e que fechou sua única fronteira com o continente (justamente com a Alemanha); outro que só pensa na gravidez de sua groupie de rock stars e quer proibir o uso da burca em suas terras; países pequenos, que não contribuem em nada; e, perto dali, um fanfarrão milanês.
Diante da crise socioeconômica, assisto estupefata a decadência de um continente, sobretudo no que diz respeito a atitudes extremistas e xenófobas, como no caso recente do atirador em série da Noruega, país que, até então, eu só ouvia falar através dos mitos nórdicos e das famigeradas bandas de black metal! Como no caso dos protestos e guerras nos países da África do Norte, cujos refugiados tentam desesperadamente chegar a qualquer lugar da Europa, mas que morrem ou são expatriados pelo medo daqueles que não querem mais estrangeiros (além de tudo, pobres) em suas terras. A já mencionada proibição da burca na França e a crise diplomática entre Brasil e Espanha dois anos atrás.
Esta é uma tendência que não passará tão cedo, pois a crise ainda perdura e as mentalidades absurdas que emergem desta ainda trarão muitas más notícias para o mundo todo. Aguardemos.