terça-feira, 19 de março de 2013

Ah, a ciência...


Ah, a ciência... 

Por causa dela estive afastada do meu ritual de exorcismo que é este blog. Antes de qualquer coisa, segue um link que me fez refletir acerca da "gaia ciência" (tomando emprestado o título da obra do Nietzsche). O texto é da megaconhecida neurocientista Dra. Suzana Herculano-Houzel. Vale muito a pena a leitura.

           http://www.posgraduando.com/pos-graduacao/voce-quer-mesmo-ser-cientista


Quando li esse artigo (e já reli algumas outras vezes), confesso que deu vontade de jogar tudo para o alto e "me vender ao sistema". Pois é essa a vontade que dá com quase todo mundo que faz mestrado/doutorado neste país. Vender-se ao sistema para viver com a mínima dignidade. Ou não.

São tantos os percalços pelos quais o pós-graduando passa que ele deveria ser chamado de "guerreiro". Sim, porque quem faz pesquisa no Brasil é um sofredor e guerreiro, pelas conhecidas faltas de recursos, de bolsas, de equipamentos, de bibliotecas razoáveis... É lugar-comum dizer que a sociedade não tem a mínima noção do que ele faz, mas quer que ele retorne todo o investimento que ela dá por meio dos impostos pagos. E somos cobrados pelas universidades em que estudamos para fazer o tal "ROI" (return on investment, utilizando um jargão bem escroto de "business"). 

Ao mesmo tempo que partilho da mesma opinião da professora Suzana — de largar a ciência e ganhar dinheiro bem mais fácil fazendo marketing ou virar rata de mídia social —,ainda permanece aquele sentimento de "estou fazendo algo em prol de", "pelo menos estou pensando por milhares que mal sabem o que é isso". Soa um tanto arrogante, contudo, é bem a real. Hoje, tive esse pensamento durante uma palestra proferida por um grande linguista e professor aposentado lá da faculdade. No meio de sua fala, ele afirmou e reafirmou: "somos nós, pesquisadores, quem pensamos este país. Não adianta. Por mais que governos abandonem a ciência em seus planos, nós estaremos lá, em nossos 'cantinhos', refletindo a nossa sociedade, o nosso país." Espero que isso fique gravado em minha memória para eu não esquecer quando a neurose e o desânimo baterem.

Acredito que o sentimento de boa parte dos pesquisadores (principalmente dos estudantes) como eu é o do paradoxo: ao mesmo tempo que fico questionando a "utilidade" de minha pesquisa —; ouvindo as bancas destruírem teu trabalhos; sofrendo as agruras de quem atualmente vive com a bolsa da Capes; sofrendo "bloqueios criativos" com a minha escrita, achando que o trabalho do colega é sempre melhor que o meu —, por outro lado, a sensação de "relativo poder" e satisfação — quando escrevo algo que é elogiado pela orientadora ou por algum outro professor; quando vou à biblioteca na hora que quero; quando participo de algum evento e daí conheço novos colegas; quando converso com os que já conheço e trocamos sugestões bibliográficas e visões de mundo — é indescritível. Sentimentos contraditórios, porém inseparáveis.

Possivelmente, por causa da ciência e do estresse advindo dela, eu tive minha primeira crise de labirintite. A uma semana do meu exame de qualificação, fiquei completamente "bêbada"; uma semana inteira tendo vertigens que me impossibilitaram de fazer qualquer coisa. Claro que me cuidei e fiquei bem para o exame, mas serviu o alerta.

Conclusão: ainda não sei. Estou em plena fase das dúvidas após o exame de qualificação. Não sei para qual rumo seguir. Se mantenho a mesma teoria, a mesma análise linguística, não sei. "Só sei que nada sei", é o que dizem. A única certeza é a que tenho MUITO trabalho e muitos ajustes a serem feitos.