segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Eu vi, aprendi e não esqueci

Segundo o calendário gregoriano, 2012 está chegando ao fim. Independentemente do tipo de calendário – seja ele o gregoriano, muçulmano, judaico, maia, hindu, ou qualquer outro –, o tempo é de encerramento de ciclos e de reflexão.

Em quase dois meses de ausência, coisas aconteceram comigo e o tempo (ou a falta de) foi um tanto cruel nesse aspecto.
  • Desde a última postagem, eu tive que me dedicar ao meu relatório de qualificação do mestrado, entreguei-o no último dia do prazo por aguardar que a minha orientadora desse o seu aval (ai, que agonia) e meu exame será realizado no final de fevereiro. Sendo aprovada no exame, 2013 será meu último ano do mestrado e terei de me dedicar substancialmente no final da pesquisa.
  • Adquirimos algumas coisas essenciais para o nosso apartamento, o que, momentaneamente, compromete a renda para coisas do tipo viajar no final do ano, jantar fora e comprar itens "supérfluos", como os nossos filmes e livros. Mas está valendo: o que importa é a nossa conquista mesmo diante da adversidade que foi esse 2012 para mim.
  • Ao tomar banho, descobri um caroço no meu seio esquerdo e fiquei preocupada. A princípio, pensei que fosse algum dos sintomas da TPM (sei lá, cada mulher tem seu sintoma maluco nessa hora!). Uma semana depois, ele ainda continuava lá. Pedi ao marido para conferir. O caroço ainda estava lá, onipresente. A preocupação foi elevada ao quadrado e pedi indicações de algum especialista para amigas e conhecidas. Primeiro, fui à médica que cuida de mulher (ótima, diga-se de passagem) indicada por uma amiga e ela não gostou do que tocou. Logo, ela pediu exames urgentes: ultrassom mamária, mamografia (mesmo sem ter a idade ideal) e hemogramas específicos, além de um encaminhamento a um especialista. Eu saí do consultório em pânico. Não sabia para quem ligar nem para onde ir. Só sei que não queria voltar para casa naquele momento. Ao ligar para o meu marido, não aguentei e caí em prantos, tamanho o medo que eu tinha. A minha amiga que me indicou a médica me ligou tentando me tranquilizar, porém o susto é tão grande que ele se sobressai às tentativas de amenizá-lo. Fiz os exames e fui ao especialista. Sozinha, morrendo de medo. Mesmo indicado, detestei o médico. Se eu tivesse ido ao SUS, talvez eu tivesse sido melhor atendida, sinceramente. Saí do consultório me sentindo um lixo. Mas, pelo menos, nesta consulta, foi dito que, provavelmente, o que eu tinha era algum cisto de água ou de gordura, nada de neoplasia (= tumor). E que eu tinha de fazer a tal da punção mamária. Feita a punção, aguardei por longos 10 dias. Ao ler o resultado antes do médico (tamanha a ansiedade), vi que o resultado foi negativo para neoplasia e, segundo os parcos termos técnicos que conheço, é mesmo um cisto de gordura. O que será feito ainda não sei, pois não vou mais àquele médico e estou à procura de outro. Mas com essa história de festas de fim de ano, o meu pedido de cancelamento do meu plano de saúde e a migração para o do meu marido estou na expectativa se farei uma biópsia ou uma cirurgia. Prefiro a primeira opção. Detalhe: o caroço foi descoberto em outubro, e, naquele mês, houve uma maciça campanha sobre o câncer de mama e ouvi diversas histórias de mulheres que descobriram a doença da maneira mais besta possível e, inclusive, na idade mais improvável de receber um diagnóstico desse tipo. Logo, a minha preocupação elevou-se à décima potência.

Sei que é lugar-comum dizer isso, mas estamos suscetíveis a qualquer coisa quando menos se espera – mesmo quando há cuidados e preparação prévia – e que não nos devemos nos apegar a coisas pequenas.

O que vi, aprendi e não esqueci em 2012:

  • A ingratidão: aquela coisa de "ajudar sem esperar nada em troca" é um tanto errada dependendo do contexto. Por duas vezes, ajudei duas pessoas que estavam passando por dificuldades. Sem me gabar, mas, se não fosse pela minha ajuda, elas não estariam onde estão felizes, contentes e empregadas. O que me deixa furiosa é que, na hora da dificuldade, você é a amiga, a pessoa para ajudá-la, a outra pessoa é um carinho e simpatia grandiosos; agora, na hora da tua dificuldade, você é ignorado. Mas deixe estar.
  • A ignorância: fui convidada a me retirar por não me adequar ao perfil do local (aham, depois de dois anos) e por ser "muito acadêmica", fazer muitos cursos e tal. Claro, como se isso fosse prejudicial para eles. Acho que essa ignorância empresarial prejudicou a mim, somente. Daí,
  • A falta de perspectiva: de que adianta ter boa formação, fazer mestrado, ter feito bons cursos, ter contatos, manjar outros idiomas, ter experiência e não conseguir nada? Fazer doutorado e continuar vivendo como estudante com mais de 30? Fazer um concurso para mamar nas tetas da grande-mãe que o Estado brasileiro?
  • Reconhecer a mim mesma: existe a falta de perspectiva, mas aprendi a reconhecer alguns dos meus talentos e qualidades. Logo, não aceito qualquer porcaria. Em qualquer âmbito.
  • Reconhecer os meus demônios: ao assistir ao documentário "A ilha de Bergman", me deparei com muitas coisas com as quais convivo que fizeram parte da persona difícil, porém genial, de Ingmar Bergman. Ao final do filme, ele diz à entrevistadora que ele teve de aprender a lidar com os seus demônios no decorrer de sua vida. Dentre eles, o demônio do rancor e o demônio da raiva. Rancor e raiva são dois demônios que estiveram presentes em mim desde sempre devido ao que vivi. Acho que é possível reconhecê-los nos dois primeiros tópicos. Há momentos em que me importo muito com isso, tem horas que estou me lixando. Entretanto, eu tenho a sensação de que a raiva e o rancor me movem de alguma forma, me tiram da inércia que procura me estacionar. Confesso que fico contente quando alguém que me prejudica se ferra, não sou hipócrita. Muitas vezes, essa falta de hipocrisia me afeta em alguns aspectos da vida em sociedade, me tornando uma espécie de Bergman em versão feminina. Seriam essas características de gênios? Hahaha... é muita pretensão! 
E sim, estou muito "bergmaniana" neste mês de dezembro.

Há um bom tempo venho refletindo a respeito do que quero não só para o ano que está chegando como para um futuro próximo. As escolhas que terei de fazer em 2013 serão de grande importância, contudo, expectativas demais geram frustrações. Portanto, tudo a seu tempo. E o que eu vi, aprendi e não esqueci de 2012 está sendo um gerador de reflexões que levarei comigo por muito tempo. Para este momento, essas quatro coisas soam um tanto pessimistas – e são mesmo. Mas só de ter parado para pensar (o que muita gente não faz) e, agora, estar tentando extrair algo disso me faz amadurecer e ver a vida de um jeito um pouco mais diferente, talvez. Que venha 2013? Ah, eu não tenho essa animação nesta época do ano. O que tiver de ser, será.

#ficaadica: "Liv & Ingmar - uma história de amor"


Já estava ficando envergonhada de não ter postado mais nada desde a última vez. Coisas aconteceram e o tempo (ou melhor, a falta dele) não permitiu que eu fustigasse alguma coisa.

A boa surpresa neste final de ano nos cinemas é o documentário "Liv & Ingmar - uma história de amor". Não sei o nome do diretor – um indiano –, mas só sei que ele foi bem feliz na escolha do tema e das personagens, dois mitos do cinema europeu: o diretor sueco Ingmar Bergman e a atriz norueguesa Liv Ullmann. Resumidamente, o documentário conta a história de amor-amizade-ódio da dupla, que se conhece em meados dos anos 1960 nas filmagens de Persona (um clássico).
A sacada do diretor foi permear o filme com um longo depoimento (ou melhor, narrativa) de Liv (que, aliás, continua lindíssima com os seus 70 e tantos anos). Muito emocionante tanto para quem é fã da dupla como para quem ainda não a conhece ou a conhece pouco, como era o meu caso. Diva é diva em qualquer idade, em qualquer época.
A narrativa sob o ponto de vista de Liv traz à tona as dificuldades de relacionamento de Bergman, tanto que ele foi casado diversas vezes, teve nove filhos e todos "abandonados"; o seu ciúme, a possessividade e o isolamento, mas também a paixão, a amizade e o respeito que ele tinha por Liv. A emoção do depoimento dela é contagiante. A dificuldade dela de conviver com a personalidade dificílima de Ingmar me fez perceber que esse tipo de "persona bergmaniana" é bastante inerente àquele que tem a arte como mote e, através dela, demonstra toda sua genialidade. Mesmo pertencendo à vivência artística, é perceptível a vontade de integração de Liv ao mundo de Ingmar, porém, ela não a consegue. Contudo, a amizade dos dois perpassou qualquer conflito amoroso e se manteve por décadas, dando-nos uma lição de que o amor não acaba quando um relacionamento termina - dependendo, claro, do quão grande é esse amor.
Portanto, fica a dica!