terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A hostilidade primitiva do mundo

Desde meados de janeiro, devido a mais uma daquelas "ações de marketing", recebo exemplares da Folha de S. Paulo sem ter pedido. Coitados, eles ainda acreditam que, assim, reconquistarão antigos assinantes ou angariarão novatos. Enfim, já que recebo, leio o que me interessa (o que é muito pouco, diga-se de passagem).
Apesar das inúmeras barbaridades que são publicadas e dos jornalistas (e pseudos) e colunistas que deveriam voltar ao ginásio, certas pérolas surgem e fazem meu dia menos pior no quesito leitura. Normalmente, as tais pérolas são escritas ou por acadêmicos ou por escritores de profissão. Novidade.
A pérola lida ontem foi o artigo do filósofo Luiz Felipe Pondé (de quem, apesar de não concordar com algumas coisas das quais ele fala, gosto bastante de seus artigos), que é professor da PUC.
No artigo, dentre outros pontos, ele cita a obra do Albert Camus. São citadas duas obras capitais do autor argelino: O Estrangeiro e o Mito de Sísifo. O Estrangeiro eu li em 2002 ou 2003, na época em que fazia cursinho e tinha tempo para ler o que realmente me interessava e gostava. É um dos meus livros favoritos até hoje. Já o Mito de Sísifo, ainda não o conheço.
E é do Mito de Sísifo uma frase a qual Pondé menciona em seu artigo: algo como "suportar a hostilidade primitiva do mundo". No texto, o autor falava sobre como muitos adultos de hoje têm relutância em crescer e enfrentar a hostilidade do mundo, ao mesmo tempo que existem jovens que, mesmo com a pouca idade, suportam a "hostilidade primitiva do mundo". Me identifiquei demais com o excerto. Aliás, me identifico demais com a obra do Camus.
Fazendo uma breve "recapitulação" do que já vivi, posso dizer que, apesar dos pesares, estou conseguindo suportar a hostilidade, e que, às vezes, faço parte dela, querendo ou não. Mesmo com relativa pouca idade, já passei por tantas coisas que não me surpreenderia se eu pertencesse à turma dos mais hostis. Mas talvez a minha "natureza humana" não seja assim. Mas bem que eu gostaria! E provavelmente por não pertencer à turma, tenha meus surtos de angústia e estresse, minhas noites de sono mal-dormidas devido à ansiedade e por achar que nunca estou correspondendo àquilo que eu quero fazer da melhor forma.
Suporto a hostilidade do mundo, porém não suporto a minha própria hostilidade? Seria isso? Já me disseram algo do gênero. Pode ser. Contudo não conseguiria sobreviver se eu não fosse assim. Sei lá, não consigo ser alheia ao que acontece ao meu redor (quando me interessa, claro) e tampouco não refletir sobre o que me rodeia. Às vezes, infelizmente (ou não), gostaria de menos reflexiva, menos hostil e mais "babacona". Quem sabe, assim, conseguiria suportar melhor a tal hostilidade do mundo do Mito de Sísifo?

Para quem ainda não conhece as obras:


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