terça-feira, 14 de outubro de 2014

Uma manhã de fúria

Hoje, bem cedinho, me senti naquele filme do Michael Douglas "Um dia de fúria".

Ao sair de casa com o meu marido, na rotina de sempre, fomos até a faixa de pedestres que existe em nossa rua para atravessarmos. Não sei porquê, mas, desde ontem, o trânsito está horroroso nos lados do Jabaquara - inclusive no corredor de ônibus das avenidas da região - e havia uma fila imensa de carros na nossa rua. Estávamos atravessando e, no meio da faixa, veio um carro avançando para cima de nós e parou em cima da faixa porque o trânsito da avenida não permitiu que o cara entrasse nela. Além de avançar para cima de nós, o cara serpenteava com seu carro procurando um beco qualquer para escapar. Detalhe que ele não estava com pressa. Só havia ele e uma mulher no automóvel. Não havia motivo algum para essa palhaçada. Ao parar, meu marido soltou um "Olha a faixa, corno!". Eu ri e falei algo como "Seu bosta". Não sei o que o cara ficou resmungando, mas resmungou. Confesso que bateu um medinho. Passou.

Entramos em um ônibus em direção ao metrô e encontramos uma amiga querida que há tempos não víamos. Tudo ótimo, mas o trânsito estava um horror na região pelo segundo dia consecutivo. Descemos no meio do caminho porque chegaríamos primeiro que o ônibus na estação. A uma certa altura, ao atravessarmos uma pequena faixa de pedestres em uma esquina da avenida da estação, quase ao fim dela, veio um desses carros sedan, todo pomposo, avançando para cima de mim, e eu estando fazendo o gesto para atravessar. O sangue ferveu. Vi que era uma mulher sozinha dirigindo. Não tive dúvida: arremessei minha sacola com meu par de sapato de salto na lataria do carro. Só sei que fez aquele barulho e saí andando. A mulher saiu do carro e ficou gritando "Covarde! Vem aqui agora! Covarde!" E voltou pro seu possante com ar-condicionado. Em meio à minha fúria, eu ouvia vagamente meu marido batendo boca com a mulher, nem notei o que era. Nossa amiga ria. Porque foi uma cena engraçada, no final das contas. Algumas pessoas olhavam para mim com expressões do tipo "que maluca, que surtada". Outros sorriam para mim, meio que aprovando o que fiz. Por incrível que pareça, eu não tive vergonha da minha atitude. Na verdade, foi catártica, libertadora. Senti um certo alívio, até. Pois encaramos com esse tipo desrespeitador, usuários da lei de Gerson (coitado do Gerson), todo o santo dia. A individualidade e a falta de noção e cidadania chegam ao ponto de pessoas comuns, como eu, surtarem, terem seu dia de Michael Douglas. Confesso que curti.

Pena que eu só tinha uma sacola com sapatos... Cadê o taco de beisebol?

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